Antigo negociador britânico questiona estudos sobre impacto económico negativo do Brexit

O antigo negociador britânico do ‘Brexit’ David Frost afirmou hoje que o verdadeiro impacto económico da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) poderá nunca vir a ser conhecido e questionou estudos que indicam consequências negativas.

“Não tenho a certeza se alguma vez vai ser claro no sentido de se saber que foi bem-sucedido ou falhou porque há tantas mais coisas a acontecer. E extrair a causalidade vai ser sempre extremamente difícil”, afirmou, durante um evento para marcar o sexto aniversário do referendo.

Em 2016, 51,9% dos eleitores britânicos votaram a saída britânica da UE numa consulta popular com uma taxa de participação de 72,2%, mas o ‘Brexit’ só entrou em prática em 01 de janeiro de 2021 com a entrada em vigor do novo Acordo de Comércio e Cooperação.

Durante a Conferência “The World Beyond Brexit” (O Mundo para Além do Brexit), organizada pelo centro de estudos UK in a Changing Europe, Frost admitiu que “uma prova de fracasso seria se ainda se estivesse a debater (a questão) daqui a cinco ou seis anos”.

“Para ser bem-sucedido, [o ‘Brexit’] precisa de se estabelecer na política britânica e é preciso que exista um amplo consenso de que é assim que vamos avançar. Não creio que já lá chegámos. Mas não tenho a certeza de que alguma vez venhamos a ter algum tipo de prova económica”, disse.

Durante a intervenção, o antigo secretário de Estado para os Assuntos Europeus alertou para as “enormes quantidades de ruído nos números”, que atribui não só à pandemia da covid-19, como a problemas nas cadeias de abastecimento e à guerra na Ucrânia, mas também à mudança nas métricas das estatísticas britânicas.

“É difícil estar confiante quais mudanças, se houve alguma, se devem ao Brexit. Obviamente que se vai tornar mais claro com o tempo, mas entretanto penso que qualquer pessoa que tire conclusões firmes dos números não está realmente a ser honesto”, argumentou.

Frost citou estatísticas que apontam para um aumento das exportações para a UE em abril, pelo terceiro mês consecutivo, adiantando que o comércio de serviços também está a subir.

Mesmo assim, reconheceu que existe um custo da saída da união aduaneira e do mercado único e que “é melhor ser honesto sobre estas coisas”.

“Penso que é razoável avaliar os números que temos até agora, mostrando plausivelmente que as nossas exportações de mercadorias estão talvez 5% abaixo do que teriam sido” se o Reino Unido continuasse no mercado único.

Todavia, Frost recusa que esta redução tenha afetado o Produto Interno Bruto (PIB) e defendeu que “uma comparação mais direta com as principais economias do G7 revela que não existe um atraso óbvio relacionado com o Brexit no desempenho económico do Reino Unido medido pelo PIB ‘per capita’”.

Um estudo da Resolution Foundation publicado na quarta-feira reivindica que o ‘Brexit’ teve como efeito “reduzir os rendimentos das famílias devido a uma libra mais fraca e à queda do investimento e do comércio”.

A falta de abertura e competitividade da economia britânica durante a próxima década, continua, reduzirá a produtividade em 1,3% em relação ao que aconteceria se continuasse no bloco europeu, e os salários em termos reais, isto é, ajustados pelos efeitos da inflação, “cairão em 470 libras (546 euros) por pessoa por ano”.

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