Angola e Cabo Verde querem que Portugal peça desculpa pelo passado colonial e que devolva artefactos saqueados, revela sondagem

A maioria dos inquiridos em Angola e Cabo Verde acredita que Portugal deve pedir desculpa pelo seu passado colonial e devolver artefactos e outros artigos saqueados durante esse período, indicou esta terça-feira uma sondagem da Universidade Católica feita para a ‘RTP’, citada pela agência ‘Reuters’: a pesquisa foi feita com entrevistas a mais de 3 mil pessoas em Angola, Cabo Verde e Portugal.

Em Angola, 58% dos inquiridos afirmaram que Portugal deveria devolver artefactos como máscaras, esculturas e objetos rituais retirados das suas antigas colónias. O apoio foi maior em Cabo Verde, com 63%. A sondagem mostrou que 54% dos portugueses apoiavam a devolução destes artigos, mas 58% disseram que Portugal não devia um pedido de desculpas às suas ex-colónias. Em Angola, 59% achavam que Lisboa devia pedir desculpa, enquanto em Cabo Verde, 58%.

A maioria dos inquiridos nos três países – 58% em Angola, 83% em Cabo Verde e 78% em Portugal – não acredita que os monumentos relacionados com o colonialismo devam ser removidos. Em Portugal, 58% dos inquiridos afirmaram que deveria ser construído um memorial às vítimas da escravatura transatlântica.

Um memorial às vítimas da escravatura, há muito adiado, planeado para a zona ribeirinha de Lisboa, tem estado envolvido em controvérsia numa altura em que os apelos globais por reparações e acerto de contas com erros passados ​​— incluindo dentro da União Africana — continuam a ganhar força.

A sondagem, divulgada numa altura em que se assinalam os 50 anos da independência das ex-colónias africanas, revelou um consenso quanto à decisão de Portugal em reconhecer essa independência: 86% dos portugueses, 81% dos angolanos e 91% dos cabo-verdianos consideram que foi a decisão correta.

Ainda assim, a maior parte dos portugueses acredita que o processo de descolonização não decorreu da melhor forma. Para 79% houve falhas, enquanto apenas 13% consideram que tudo correu bem. Já sobre a atribuição de responsabilidades, 38% apontam o regime anterior ao 25 de Abril e 20% culpam os negociadores da época.