
Alemanha suspende desmantelamento de centrais nucleares e considera reabri-las
A Alemanha está a reconsiderar a sua política energética nuclear, com um novo enfoque na exploração das tecnologias de última geração. O governo da futura coligação, liderada por Friedrich Merz, prepara-se para uma reavaliação técnica sobre a viabilidade de reativar as últimas centrais nucleares fechadas no país, no âmbito de uma estratégia para aumentar a segurança energética e atingir metas climáticas mais ambiciosas.
De acordo com o esboço do acordo da futura coligação governamental, uma avaliação técnica será realizada para determinar se é possível reabrir de forma viável as centrais nucleares que foram desativadas nos últimos anos. A decisão inclui uma pausa imediata no desmantelamento das centrais nucleares em questão, sendo esta uma medida tomada com base em acordos voluntários entre o governo e as empresas operadoras. Esta suspensão poderá abrir a porta para a possível reativação das unidades fechadas, caso a avaliação técnica conclua que é economicamente e tecnologicamente razoável fazê-lo.
O novo governo alemão considera que a energia nuclear poderia ter um papel importante para garantir a segurança energética do país, especialmente face à crescente necessidade de fontes de energia sustentáveis e confiáveis, fundamentais para cumprir com os objetivos climáticos. Assim, a questão nuclear, que parecia afastada da agenda política alemã, volta agora a ser colocada em cima da mesa, à medida que o país busca alternativas mais limpas e seguras para a sua matriz energética.
A Alemanha tem em mente um forte impulso à investigação e ao desenvolvimento de novas tecnologias nucleares no âmbito europeu. O objetivo é apostar em reactores modulares pequenos (SMR), que representam uma versão mais compacta e potencialmente mais segura dos reactores nucleares tradicionais. Além disso, o país está interessado no desenvolvimento de reactores de última geração e na pesquisa de reactores de fusão nuclear, uma tecnologia promissora para o futuro da energia limpa.
Estas tecnologias avançadas são vistas como uma oportunidade para o país manter a sua posição de liderança na inovação energética, enquanto enfrenta o desafio de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e garantir uma produção estável e sustentável de eletricidade. A Alemanha pretende explorar essas novas soluções tecnológicas no contexto da União Europeia, que tem vindo a apoiar o desenvolvimento de energias limpas e seguras para reduzir a dependência de fontes fósseis.
Medidas adicionais no setor energético
Além da reavaliação da política nuclear, a coligação governamental também planeia medidas económicas para apoiar a transição energética e a competitividade da indústria. O governo pretende implementar um preço industrial especial de eletricidade para setores de consumo energético elevado e uma redução permanente do imposto elétrico para todos os utilizadores, alinhando-se com os mínimos impostos a nível europeu.
Esta semana, a Comissão Europeia aprovou um pacote de ajudas no valor de 5 mil milhões de euros para apoiar a transição energética e o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia e captura de CO2. Este pacote inclui também o financiamento de tecnologias que possam ajudar a reduzir as emissões de indústrias com dificuldades em abater gases de efeito de estufa. A Comissão Europeia autorizou ainda projetos de armazenamento geológico de CO2, tanto em terra como no mar, como parte de uma estratégia mais ampla de mitigação de emissões.
A nova coalizão alemã também delineou planos para o futuro das infraestruturas energéticas do país, com um foco na expansão de capacidades de geração de energia a gás até 2030, uma estratégia que visa garantir uma transição energética eficiente e segura. Além disso, o governo tem como objetivo acelerar o desenvolvimento de infraestruturas para o hidrogénio verde, um combustível sustentável que poderá, eventualmente, ser utilizado nas plantas a gás, transformando-as em instalações de hidrogénio sustentável.
A Alemanha vê o hidrogénio como um dos pilares essenciais para a sua futura estratégia energética, especialmente no contexto das mudanças climáticas e da necessidade de diversificar as fontes de energia. As importações estratégicas de hidrogénio também fazem parte deste plano, permitindo ao país garantir uma oferta estável e competitiva dessa tecnologia emergente.
Enquanto a Alemanha reavalia a sua posição em relação à energia nuclear, Espanha segue em frente com o seu plano de encerramento das centrais nucleares. O governo espanhol mantém o seu compromisso de fechar as unidades nucleares existentes, embora tenha demonstrado abertura para negociar com as empresas elétricas do país, caso estas consigam chegar a um consenso sobre o futuro das centrais nucleares.
A diferença entre os dois países reflete a diversidade de abordagens no continente europeu em relação ao uso da energia nuclear. Enquanto a Alemanha começa a reavaliar a sua política e a considerar novas tecnologias nucleares, Espanha continua a apostar na transição para outras fontes de energia renovável, embora esteja disposta a discutir alternativas caso se chegue a um entendimento entre os principais atores do setor.
A Alemanha está a dar um passo significativo ao reconsiderar o seu abandono da energia nuclear e ao explorar novas tecnologias de reatores, como os SMRs e a fusão nuclear, como parte da sua estratégia para garantir a segurança energética e cumprir com os objetivos climáticos. As medidas que estão a ser implementadas, juntamente com o desenvolvimento de infraestruturas para hidrogénio verde e armazenamento de energia, colocam a Alemanha numa posição de liderança na inovação energética em Europa.
Por outro lado, o caminho de Espanha, com o seu foco na descontinuação da energia nuclear, é uma visão diferente do futuro energético, marcada pela ênfase nas energias renováveis. A decisão da Alemanha poderá ter implicações significativas para o futuro da energia nuclear na Europa e poderá influenciar outros países a reconsiderar as suas políticas energéticas.