Agricultura perdeu mais de 16 mil trabalhadores num ano em Portugal. O que pensam os empregadores e candidatos?

O setor agrícola português perdeu mais de 16 mil trabalhadores no último ano, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), analisados pela Eurofirms – People First.

De acordo com a empresa de recursos humanos, o número de trabalhadores no setor primário diminuiu em 10%, passando de 158,8 mil no segundo trimestre de 2023 para 142,9 mil no final de 2024, marcando uma inversão na tendência de crescimento verificada desde 2021.

Este decréscimo é particularmente preocupante num setor caracterizado por uma forte sazonalidade e por dificuldades crónicas no recrutamento, especialmente nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. A Eurofirms sublinha que, além da escassez de mão-de-obra, o setor agrícola continua a ser predominantemente masculino, o que evidencia não só as dificuldades de inclusão, mas também a falta de renovação geracional.

Para entender melhor os desafios enfrentados no processo de recrutamento, a empresa entrevistou tanto empregadores quanto candidatos.

De acordo com um responsável da SALM, uma empresa neerlandesa situada em Salvaterra de Magos, que se dedica à produção de lavanda, a maior dificuldade está na escassez de trabalhadores qualificados. “A demanda por trabalhadores aumenta em períodos específicos, como em momentos de plantação e colheita, o que pode dificultar a atração de candidatos disponíveis”, refere o responsável, adicionando que “muitos jovens não consideram a agricultura como uma carreira viável, e isso resulta na escassez de mão de obra.”

Por outro lado, Ana Filipa Santos, candidata à área agrícola, revela a sua vontade de contribuir para o desenvolvimento do setor. No entanto, a falta de flexibilidade nas condições de trabalho é um desafio importante. “os horários intensos e pouco flexíveis” podem tornar-se desafiantes. “É um setor que não oferece, por exemplo, a quem tem filhos as condições necessárias para a conciliação entre a vida pessoal e profissional.”

Em resposta a estes desafios, João Lourenço, business leader da Eurofirms em Portugal, destaca a necessidade urgente de medidas para tornar o setor agrícola mais atrativo e sustentável. Entre as sugestões estão a valorização salarial, a melhoria das condições de trabalho e o investimento na profissionalização das funções agrícolas, assim como a criação de incentivos para a fixação de trabalhadores em áreas rurais.

“Só no ano passado, o setor garantiu o valor mais alto de sempre nas exportações de frutas, legumes e flores, com um total de 2,5 mil milhões de euros. As vendas para mercados internacionais subiram 7,5% em comparação com 2023”, acrescenta.