
“Acreditamos que o talento e o mérito não olham a géneros”, diz Managing Partner da Abreu Advogados
Num mundo cada vez mais consciente da importância da igualdade de género, raça e outras dimensões da diversidade, as organizações e a sociedade como um todo são chamadas a enfrentar desafios persistentes e a promover mudanças significativas.
Quando se celebra o Dia Internacional da Igualdade Salarial, a Executive Digest falou com Inês Sequeira Mendes, Managing Partner da Abreu Advogados, para perceber o que é feito nas questões de igualdade de género e oportunidade, o que faz um colaborador feliz e quais as perspetivas de futuro.
Qual o papel da Abreu Advogados no que respeita à igualdade de género, de oportunidades, e de progressão na carreira para com as mulheres?
Na Abreu Advogados, a diversidade e inclusão fazem parte do nosso “código genético” desde a nossa constituição, há já 30 anos. Este nosso caminho foi sempre marcado pela igualdade de oportunidades; desenvolvemos a cada dia um trabalho continuado visando a eliminação de qualquer tipo de discriminação, incluindo a de género.
A nossa Política de Diversidade e Inclusão é a consequência natural deste percurso aberto a todos: incentivamos a diversidade nos processos de recrutamento e seleção; a empregabilidade de portadores de deficiência; a igualdade de oportunidades na progressão e desenvolvimento profissional, na remuneração, na formação e na avaliação de desempenho; e, por fim, na promoção do equilíbrio da vida profissional com a pessoal e familiar.
Procuramos contribuir para uma vida em sociedade mais igualitária e mais diversa e cedo percebemos que, para isso, teríamos de estar mais próximos do que de melhor se faz, integrando estruturas e associações que são pioneiras nestas áreas.
São disso exemplos a nossa participação em diversos programas da UN Global Compact que nos apoiam na definição de metas e estratégias no âmbito da igualdade.
No caso específico da igualdade de género, integramos o Target Gender Equality, um programa acelerador da Igualdade de Género nas empresas e aderimos, no ano passado, à Meta Nacional para Igualdade de Género que desafia as empresas a ter 40% de mulheres em cargos de decisão até 2030 (Conselho de Administração, Comissão Executiva e Direções de 1ª linha). Fomos a primeira sociedade de advogados em Portugal a associar-se a esta meta.
Também assinámos o Statement from Business Leaders for Renewed Global Cooperation, no âmbito da celebração dos 75 anos da ONU, que apela à cooperação internacional dos CEO para fortalecer a ética, o acesso à justiça e o combate às desigualdades sociais.
Na Abreu Advogados acreditamos que o talento e o mérito não olham a géneros. Isto tem reflexos diretos no modo como nos organizamos e na espontaneidade com que essa organização foi, naturalmente, promotora de igualdade: fomos a primeira sociedade de advogados em Portugal a ter uma mulher como Managing Partner. Os indicadores do ano passado sublinham o papel muito relevante que as mulheres assumem na Abreu Advogados:
- 57% dos nossos colaboradores são mulheres;
- 60% das novas contratações são mulheres;
- 61% das promoções de progressão de carreira foram de mulheres;
- Contamos com 37% de mulheres em cargos de liderança.
A promoção de um ambiente de trabalho heterogéneo e inclusivo é importante para a sociedade?
A Abreu orgulha-se de ter uma equipa diversificada de advogados e nas áreas de gestão e acreditamos que o que nos une é a qualidade técnica e a visão de um projeto humanista.
Como disse anteriormente, a diversidade e a inclusão são dois elementos basilares da nossa realidade organizacional e têm reflexos diretos nas iniciativas internas que desenvolvemos e nas externas em que participamos.
É muito importante para que os nossos colaboradores sintam que trabalham num ambiente em que podem desenvolver o seu potencial que, por natureza, é único. A nossa equipa é diversificada no que toca aos talentos, conhecimentos e aptidões e é da combinação adequada destes que construímos a procura das melhores soluções para os nossos clientes e parceiros. Olhares diversos sobre um mesmo desafio costumam concorrer para o ver melhor e para lhe dar uma resposta mais completa, abrangente e diferenciadora.
A inovação, a criatividade e a fluidez florescem melhor onde haja perspetivas diferentes. A heterogeneidade, tal como a igualdade, não nos surgiu por decreto: resulta do exercício quotidiano de pensarmos e decidirmos em conjunto e de procurarmos apresentar as equipas mais completas e que contribuam, o mais amplamente possível, para o sucesso das causas e projetos que acompanham.
E no que respeita à saúde mental no local de trabalho? O que tem sido feito?
A saúde mental tem sido um foco importante na Abreu Advogados. Em 2021/2022 estabelecemos a saúde mental como tema central do nosso programa “Legal Up”, uma iniciativa da nossa área de sustentabilidade, que desenvolve iniciativas internas e externas de sensibilização e promoção do debate público.
Dentro deste projeto, criámos:
- Dois Guias de Literacia Jurídica: “Regime do Maior Acompanhado” e “Benefícios Sociais, Fiscais e Laborais Pessoas com Doença Mental”;
- Lançámos o Happiness Hub – uma área interna pioneira de gestão e apoio para acompanhar o bem-estar pessoal e profissional de cada pessoa que trabalha na Abreu e das nossas equipas;
- Procurámos estar presentes em várias ações de promoção de debate público sobre esta temática, sendo parceiros do Festival Mental. Participámos no Fórum de Saúde Mental para as Autarquias; além de termos organizado um webinar sobre a importância da prevenção da Saúde Mental nos locais de trabalho e de uma mesa redonda sobre o impacto da saúde mental no sono;
- Temos parcerias com várias instituições, procurando dar o nosso apoio e contribuir no desenvolvimento e reflexão sobre este tema (CAPITI, Associação Salvador, AMI, Acreditar);
- Criámos o Prémio Legal Up 2022 | Saúde Mental que promove e apoia projetos inovadores, desenvolvidos nesta área em Portugal. A Startup Nevaro foi a vencedora da edição de 2022.
- Dentro da Abreu, foi também criado o Wellbeing Center, uma área que envolve todas as iniciativas ligadas aos três vetores do bem-estar: físico, psicológico e emocional;
- Aderimos à Associação Direito Mental e ao Pacto para a Saúde Mental em ambientes de trabalho.
Quais as vantagens de ter um colaborador feliz?
A melhor maneira de responder talvez seja invertendo a pergunta: quais as vantagens de ter um colaborador infeliz? Parece-nos que devemos considerar tudo aquilo que, enquanto organização, possamos fazer para contribuir para a felicidade de cada pessoa.
Repare que, neste domínio da felicidade, é a pessoa que tem de estar no centro e menos a sua vertente exclusivamente profissional. Muitas vezes, existem pessoas de altíssima qualidade humana e técnica que atravessam fases menos boas e estas podem nada ter que ver com o que fazem. O foco que dedicámos à saúde mental tornou-nos mais despertos para essa realidade. Nem por isso devemos ser alheios a esses períodos, respeitando a privacidade individual, mas estando atentos e disponíveis para ouvir e para ajudar.
Não ignoramos que a produtividade, a inovação e o trabalho em equipa são importantes e que estas tenderão a ser melhores quanto melhor se sentirem as pessoas que trabalham connosco; mas, repito, não procuramos ser um conjunto de profissionais artificialmente felizes: antes queremos ser uma sociedade de advogados que acolhe, respeita e estimula todos aqueles que nela trabalham e que procura contribuir ativamente para o bem-estar de cada um.
Esse bem-estar contribui para uma maior retenção de talento, permite uma maior preservação da nossa memória institucional e potencia o desenvolvimento de uma cultura mais sólida e de investimentos mais seguros e duradouros em recursos humanos.
A felicidade é não apenas o estado mais desejável, mas aquele para que queremos contribuir no seio da Abreu Advogados. Temos consciência das limitações que um local de trabalho tem nesse tocante, mas não esquecemos que, a par da componente profissional, muitas amizades aqui se forjam ou fortalecem, em conjunto com o sentido de pertença e da identidade própria de que não abdicamos.
Qual o papel das lideranças nesse processo? O que devem os líderes fazer?
As lideranças têm um papel fundamental, cabendo-lhes criar e desenvolver um ambiente de trabalho positivo, onde os colaboradores se sintam valorizados e respeitados. São também uma das principais vozes no desenvolvimento e representação da cultura interna e representantes comprometidos da sua missão e valores.
Liderar implica – sempre – prever, prover, decidir e dar o exemplo.
No mundo atual, onde muito muda tão rapidamente, é importante que os líderes sejam capazes não apenas de se adaptar aos desafios que surgem todos os dias, mas também de ver mais longe, para além do imediato e traçar rumos, definir metas e avaliar progressos. Aquele que se prende apenas ao desafio seguinte dificilmente conseguirá guiar-se ou aos outros. Séneca terá dito que “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir.” Liderar passa por perscrutar os caminhos, mesmo os menos trilhados ou óbvios, e escolher a direção, impor o ritmo e motivar as pessoas que integram um projeto comum.
Qual a importância do reconhecimento de Great Place to Work e do Prémio Best Workplaces Portugal 2023?
Sermos reconhecidos como a primeira e única sociedade de advogados portuguesa a ser incluída no ranking de Best Workplaces Portugal 2023, atribuído pela Great Place to Work Portugal foi um motivo de enorme satisfação e representa uma responsabilidade acrescida. De satisfação, porque nos mostra que estamos no bom caminho, e de responsabilidade porque reforça em nós o desejo de não perdermos de vista um elemento essencial do nosso ADN: o facto de sermos uma organização feita de e para as pessoas.
Sendo uma distinção que parece confirmar a bondade das opções que vimos tomando, os nossos objetivos e metas mantêm-se ambiciosos no que toca à qualidade do nosso trabalho e ao bem-estar dos nossos colaboradores. Queremos continuar a trabalhar para os cumprir e para melhorar a cada dia, como fizemos nos últimos trinta anos.
Para que assim continuemos, contamos com uma série de iniciativas e projetos que gostaríamos de destacar:
Projeto Olimpo: O Projeto Olimpo é um grupo alargado de colaboradores da Abreu Advogados, das mais variadas áreas, que tem como objetivos principais os de pensar e analisar a atração e retenção de talento. Procura conhecer as melhores práticas e desenvolver diversas iniciativas, assim como realizar exercícios de prospetiva e de compreensão de possíveis mudanças do mercado, de forma a dar-lhes a melhor resposta possível.
Challenge Day: Iniciativa que dá a oportunidade a vários candidatos de conhecerem e falarem com advogados de várias áreas e resolverem desafios relacionados com as suas competências técnicas e soft skills. Os candidatos que participam neste Challenge Day são convidados para uma entrevista com os sócios, que posteriormente poderão selecionar alguns dos candidatos para integrar a Abreu.
Open Day: uma iniciativa que, tal como o nome indica, consiste num Dia Aberto para estudantes finalistas de Direito, que têm a oportunidade de conhecer a Abreu Advogados, quem somos, e o modo como nos organizamos e trabalhamos.
Sustainability School: O Instituto do Conhecimento da Abreu Advogados realiza todos os anos uma série de seminários dedicado a um grupo selecionado de estudantes de Direito que versam sobre temas e competências muito relevantes para o seu futuro enquanto profissionais desta área. Ao longo de uma semana, o grupo tem acesso a iniciativas e formação e priva com advogados, líderes empresariais e impulsionadores da inovação digital sustentável, garantindo assim ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento da profissão.
Happiness Hub: área totalmente dedicada à promoção e acompanhamento ativo do bem-estar dos nossos colaboradores, através da monitorização e ações de apoio à cultura e clima organizacionais. Centrando-se no bem-estar e no equilíbrio, esta área pretende ser uma resposta integrada da sociedade de advogados na valorização das pessoas e das equipas.
Clube do Livro: destinado a promover momentos de debate e de partilha sobre obras escolhidas pelos nossos colaboradores, que por mais sérios que possam ser os temas que trate, lhes permite momentos de confraternização e de troca de experiências em torno de outros livros que não os de Direito.
O voluntariado assume um papel preponderante na estrutura da Abreu advogados?
Encorajamos, desde o primeiro momento e de forma ativa, que as nossas equipas tenham um envolvimento profundo com trabalho voluntário que contribua para a melhoria e o progresso da sociedade em que estamos inseridos.
O âmbito do nosso apoio voluntário é bastante amplo: apoiamos um número significativo de causas e procuramos dar o apoio mais adequado a cada uma delas. No ano passado, 141 advogados prestaram 3186 horas de serviço pro bono.
Há instituições que apoiamos há mais de 10 anos – como é o caso da CAIS com quem nos relacionamos desde 2008 – ativas e com projetos de voluntariado que nos envolvem diretamente. Este ano, em setembro, levaremos a cabo uma ação de voluntariado interna com a CAIS destinada a contribuir para a remodelação da sua sede.
Outro projeto relevante, e que tem sido uma aposta da Abreu Advogados, é a iniciativa Justiça para tod@s, uma parceria com a revista Fórum Estudante, que tem por objetivo promover a literacia jurídica no Ensino Secundário, despertando o interesse para temas como a Justiça e o Direito. O programa, desenvolvido nos últimos 10 anos, consiste na simulação de julgamentos que permitem aos participantes analisarem casos concretos e assumirem papéis de defesa e acusação.
Quais os principais objetivos para 2023?
Na área da diversidade e inclusão, queremos que 2023 seja um ano de continuidade e de reforço do propósito de trabalharmos no sentido de promover um caminho de igualdade de oportunidade para todos, com especial foco na transição digital.
Definimos a Exclusão Digital como o tema para o nosso Legal Up 2023/2024, considerando que existe uma necessidade muito grande de dar resposta aos desafios atuais e de promoção do debate sobre as causas estruturais que conduzem à ou agravam a iliteracia digital – que ameaça ser um novo fator de exclusão e de pobreza, numa sociedade cada vez mais permeada de meios e de serviços digitais – e, igualmente, das soluções a dar-lhes.
Nesse sentido, a nossa ação está estruturada em torno de dois objetivos principais: promover a literacia digital e combater a desigualdade no acesso.
Para esse efeito, adotámos um plano de ação interno e externo que se foca na formação para as competências digitais e no trabalho em literacia jurídica relevante para o tema (publicação de manuais, apoio à comunidade através de iniciativas que envolvam donativos ou participação em projetos já em curso).
Acreditamos que esta é uma desigualdade social que afeta uma parte significativa da população e, como tal, é importante que todos tenhamos um papel na promoção de competências digitais básicas, para que nenhuma pessoa perca o acesso a direitos, oportunidades, serviços ou documentos, por não ter conhecimento das ferramentas digitais que se encontram ao dispor de todos nem a capacidade de as usar. Sabemos que este é um fenómeno que tem uma vertente geracional, mas, infelizmente, também constatamos que este tipo de iliteracia não se limita às pessoas mais velhas e atinge outras faixas etárias.