A pandemia pode mudar o seu negócio? Alexandre Fonseca, Altice Portugal responde
A Executive Digest colocou duas questões a vários empresários. Leia o testemunho de Alexandre Fonseca.
1) Até que ponto é que esta pandemia poderá vir a alterar as linhas estratégicas da sua empresa e do seu negócio?
2) No sentido de apoiar e acelerar a economia e as empresas, que medidas deveriam ser desde já aplicadas?
O sector das comunicações é um dos sectores mais críticos da sociedade e que aos dias de hoje detém um papel fundamental. Se as pessoas são o activo mais importante da Altice Portugal e a nossa maior prioridade, garantir o pleno funcionamento da nossa rede para que todos os nossos clientes, residenciais ou empresariais, continuem a trabalhar e a desempenhar as suas funções com a maior normalidade possível, garantir que as estruturas e os serviços críticos e de Estado continuem a desempenhar a sua actividade, são também outras das nossas maiores preocupações. Vivemos hoje na Era do desconhecido e do incógnito.
Basta-nos hoje fazer previsões do que poderá ser e trabalhar, gerir e definir todos os cenários possíveis para dar resposta ao impacto que esta nova realidade vem trazer às nossas empresas e à nossa economia. Mas se não podemos prever o futuro, hoje já sentimos o impacto desta pandemia no seio empresarial.
Existe um fenómeno recente na cultura organizacional portuguesa. Nos últimos tempos, a transformação digital foi apresentada a muitos portugueses de forma forçosa, através da utilização de novas rotinas e ferramentas digitais quando o isolamento lhes foi imposto. Assim, no meio de uma crise, novas oportunidades surgiram. Empresas que tinham a transformação digital e a simplificação de processos como objectivo a longo-prazo viram-se a braços com as suas empresas a adoptarem medidas de transformação digital, com novos ensinamentos e possibilidades. O futuro chegou mais cedo e nem o vimos chegar.
Se por um lado é criado um mundo de oportunidades, por outro, existe outro mundo de desafios, de obstáculos, de barreiras por ultrapassar e superar. São cerca de 6000 colaboradores que se encontram em regime de teletrabalho, cerca de 6000 pessoas que transferiram os seus postos de trabalho para as suas salas, para os seus escritórios, para as suas salas de jantar. São 6000 pessoas que continuam a desempenhar a sua função e a manter viva a actuação e a estratégia da Altice Portugal que se mantém: ligar as pessoas ao Mundo. Ligar as pessoas ao Mundo é a nossa missão número um e na qual a Altice Portugal está completamente focada.
Por este motivo mantemos a nossa estratégia definida para 2020. Vamos alcançar a meta de levar fibra óptica a 5,3 milhões de lares, vamos manter-nos como uma das empresas que mais investem em Portugal, vamos continuar a investir na melhoria da nossa qualidade de serviço e sempre com foco no cliente. Vamos continuar a garantir a excelência dos nossos serviços e da nossa rede, vamos continuar a ligar Portugal ao Mundo. Vamos assegurar que o sector das telecomunicações nacional continue a ser uma referência a nível internacional.
Os actuais modelos de gestão têm, impreterivelmente, de ser adaptados ao contexto em que hoje nos inserimos. Se neste momento acaba por ser prematuro estabelecermos cenários concretos sobre o impacto, até porque a própria curva da doença não é conhecida, cabe-nos a nós, empresários e gestores colocar todas as fichas em cima da mesa. Estabelecer cenários, definir prioridades, delinear respostas e estratégias para todos eles. Temos que ter a visão estratégica e a preocupação de cobrir todos os possíveis casos, adaptando estruturas de custo e investimento, priorizando- -os, protegendo, acima de tudo, o mais importante activo para uma organização – para além das pessoas –, o activo da liquidez. Ter em conta diferentes cenários, face a diferentes níveis de impacto, é a melhor forma de prepararmos as nossas empresas e negócios num momento em que tudo é imprevisível.
Quanto maior for a nossa preparação, maior será a nossa capacidade de resposta. A agilidade e a força das medidas que sejam tomadas vai fazer a diferença. Por este motivo, a par de algumas medidas já tomadas, essencialmente dirigidas às PME, considero outras três que poderiam ajudar a alavancar a economia nacional:
1. Implementação de medidas fiscais mais profundas e mais estruturais, suportadas por uma política estrutural a nível europeu, como a redução temporária de impostos directos – quer para as empresas, quer para as famílias – e que permitam injectar liquidez no mercado, paralelamente aos já existentes mecanismos e incentivos fiscais, como a suspensão fiscal e temporária.
2. Decisão, por parte do Estado, de executar os pagamentos às empresas que estejam há mais de 60 dias vencidos. Este é um exemplo de uma medida, que se juntarmos a isto a antecipação de reembolsos fiscais dos pagamentos especiais, por conta ou IVA, pode aumentar a liquidez. Temos essencialmente de criar medidas que combatam o desemprego, que por sua vez se combate injectando liquidez na economia. E como é que se injecta liquidez na economia? Garantindo que o sistema financeiro se encontra suportado por garantias do Estado e apto para conceder crédito e para garantir liquidez às empresas.
3. O investimento na saúde e no sistema actualmente em vigor é o primeiro passo para não termos que escolher entre a saúde e a economia. É um sector que ele próprio estimula outros sectores, novos investimentos, e que funciona numa lógica de sector público e privado. Em suma, e no final do dia, fomos confrontados, inequivocamente, com uma mudança estrutural na vida das pessoas e das organizações. Esta crise pela qual hoje estamos a passar veio transformar a crise de valores que se vivia, num Mundo de expectativas, de interrogações, mas essencialmente, num Mundo de esperança.
E se não for a esperança a mover-nos o que nos fará progredir? O que nos fará almejar por algo maior? Temos hoje uma oportunidade única de estabelecer novas metas e novos objectivos, de estabelecer prioridades e desafios concretos. Porque só isso nos vai ajudar, porque só isso nos irá indicar o caminho que juntos iremos percorrer: o caminho de um futuro maior.
Artigo publicado na edição de Abril da Executive Digest