A “era dourada” do e-commerce é história? Queda da Amazon pode abrir caminho a contrações do mercado

Na semana passada, a Amazon divulgou os resultados obtidos no primeiro trimestre do ano, e os investidores ficaram desiludidos. No período terminado em março, a gigante do comércio eletrónico registou um prejuízo líquido de 3,8 mil milhões de dólares (cerca de 3,61 mil milhões de euros). Foi a primeira vez em quatro anos que a empresa registou perdas líquidas.

Em comunicado, o CEO Andy Jassy, sucessor de Jeff Bezos, apontou a pandemia e a guerra na Ucrânia como dois dos principais fatores que criaram as condições para resultados como os apresentados. A estes pode acrescentar-se a crescente inflação, que afasta muitos consumidores de gastos que considerem supérfluos.

Durante a pandemia e os confinamentos, o comércio online cresceu exponencialmente e a Amazon, à boleia, alcançou um novo patamar. Contudo, os tempos agora são outros e o levantamento das restrições à mobilidade em vários países podem vir a desacelerar o crescimento que se tem observado nos últimos meses na esfera do e-commerce.

Depois de conhecidos os resultados, as ações da Amazon afundaram cerca de 14%, que os analistas veem como a maior queda num só dia desde julho de 2006.

Depois da explosão impulsionada pela pandemia, as ações das empresas de comércio online parecem agora estar a entrar numa nova fase. A ‘Bloomberg’ avança que a queda iniciada pela Amazon, com números abaixo das expectativas, dá cada vez mais certezas acerca dos novos tempos que se avizinham, nos quais o e-commerce deverá continuar a crescer, mas a um ritmo muito inferior ao do período pandémico.

Esta semana outras empresas do e-commerce, como a Shopify, irão desvendar os resultados obtidos nos primeiros três meses do ano, mas os observadores acreditam que os números não irão contrariar nova tendência de desaceleração evidenciada pelos resultados da Amazon.

O analista Henrique Tomé, da corretora XTB, explicou à ‘Executive Digest’ que “este ano está a ser duro para o setor [do e-commerce]”, depois de um 2021 em que “período da pandemia beneficiou muito o setor tecnológico e as políticas que se sucederam por parte dos Bancos Centrais também apoiaram as valorizações das empresas tecnológicas”.

Em 2022, poderemos observar algo diferente. “Os resultados trimestrais das Big caps tecnológicas já foram apresentados e a maioria das empresas esperam crescer menos do que nos últimos dois anos”, referiu o analista. No entanto, tal não deveria ser uma grande surpresa para ninguém, visto que “o setor esteve demasiado valorizado desde o período da pandemia devido a esta situação atípica”, sublinhou.

Os aumentos das taxas de juro por parte dos bancos centrais são também um dos fatores que está a colocar cada vez mais peso no travão do crescimento das tecnológicas, com o Nasdaq-100, o índice das tecnológicas, a registar este ano “o pior início de ano do que há registo”.

Mas nem tudo parecem mais notícias para as empresas do e-commerce. É possível que a tendência de desaceleração estabilize no início do segundo semestre deste ano, “embora este setor possa continuar a crescer a um ritmo mais lento do que nos anos anteriores”, prevê o analista.

Ler Mais





Comentários
Loading...