A ‘Cúpula Dourada’ de Trump: O que é e como vai funcionar o novo escudo antimísseis dos EUA, inspirado no de Israel

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou esta semana um ambicioso projeto de defesa antimíssil designado “Golden Dome” (ou “Cúpula Dourada”, em português), que promete proteger o território norte-americano contra mísseis hipersónicos, balísticos, de cruzeiro e até drones, mesmo que sejam lançados do outro lado do planeta ou a partir do espaço. A proposta, que pretende ser uma versão americana do “Iron Dome” israelita, marca também uma aposta histórica: será o primeiro sistema de armamento dos EUA com componentes operacionais no espaço, segundo o próprio chefe de Estado.

“Este será o melhor sistema do mundo, com uma taxa de sucesso próxima dos 100 por cento”, garantiu Trump durante a apresentação da iniciativa. O plano faz parte de uma proposta de lei fiscal aprovada esta quinta-feira na Câmara dos Representantes e que reserva já 25 mil milhões de dólares (cerca de 22 mil milhões de euros) para o início do projeto.

Defesa em várias camadas: do solo ao espaço
De acordo com fontes citadas pela Associated Press, o “Golden Dome” contará com capacidades tanto terrestres como espaciais e deverá ser capaz de neutralizar ameaças em todas as fases de um ataque: desde a deteção inicial, passando pela interceção logo após o lançamento, até à destruição em pleno voo ou já em aproximação ao alvo.

Pete Hegseth, secretário da Defesa dos EUA, descreveu o projeto como “um investimento geracional na segurança da América”, sublinhando o seu alcance estratégico e tecnológico. Segundo a mesma fonte, estão atualmente em desenvolvimento três opções distintas, incluindo sistemas de interceção baseados no espaço.

Indústria de defesa já envolvida
Durante uma conferência de imprensa realizada esta semana, vários senadores norte-americanos identificaram empresas como a L3Harris Technologies, a Lockheed Martin e a RTX (anteriormente Raytheon) como potenciais contratantes para o projeto.

A L3Harris anunciou, em abril, a expansão da sua fábrica no estado de Indiana para trabalhar em tecnologia de “órbita operacional” destinada ao “Golden Dome”. Já a Lockheed Martin adiantou, através do seu site oficial, que pretende entregar os primeiros sistemas defensivos até ao final de 2026. Entre as tecnologias que podem integrar o novo escudo antimíssil está o sistema Command Control Battle Management Communications (C2BMC), que permite aos comandantes tomar decisões sincronizadas sobre ataques de mísseis em qualquer fase do voo.

Custos e estimativas
Embora o orçamento inicial aprovado ronde os 25 mil milhões de dólares, os custos totais do “Golden Dome” estão projetados em cerca de 175 mil milhões (aproximadamente 155 mil milhões de euros) ao longo de três anos. No entanto, um relatório do Gabinete de Orçamento do Congresso (Congressional Budget Office) estima que só os interceptores espaciais poderão custar entre 161 mil milhões de dólares (142,7 mil milhões de euros) e 542 mil milhões (480,3 mil milhões de euros), dependendo da versão escolhida.

Um modelo inspirado no sistema israelita
Donald Trump deixou claro que o novo sistema norte-americano integrará tecnologias inovadoras, mas também soluções já testadas, incluindo armamento desenvolvido em conjunto com Israel. O modelo mais próximo do que se pretende com o “Golden Dome” é o “Iron Dome” israelita, um sistema defensivo que analisa e responde apenas a projéteis que representem uma ameaça concreta a infraestruturas críticas ou zonas urbanas.

Israel combina três camadas defensivas: o Iron Dome para curtas distâncias, o David’s Sling para médio alcance e o Arrow, destinado a ameaças de longo alcance. Este último, desenvolvido pela Israel Aerospace Industries em cooperação com a norte-americana Boeing, é um sistema de mísseis capaz de detetar, seguir e destruir projéteis a grande distância e é controlado de forma totalmente automatizada.

Já o David’s Sling, criado pela empresa israelita Rafael Advanced Defense Systems em parceria com a RTX, assegura uma capacidade “hit-to-kill” contra mísseis balísticos, aviões inimigos e drones. O Iron Dome é reservado para ameaças mais próximas e de curto alcance.

Apesar de os responsáveis israelitas reconhecerem que o sistema não é infalível, atribuem-lhe um papel determinante na proteção do país, nomeadamente durante o conflito com o Hamas e outros grupos armados iniciado a 7 de outubro de 2023, e também face a ataques com origem no Irão.

A resposta europeia: o Sky Shield
O anúncio do “Golden Dome” surge num contexto em que outras potências ocidentais também investem em sistemas semelhantes. Em 2022, 21 países europeus lançaram a iniciativa “Sky Shield”, uma plataforma de cooperação para a aquisição e manutenção de sistemas de defesa antimíssil, bem como para o apoio mútuo entre membros.

As armas adquiridas no âmbito desta iniciativa serão integradas numa missão da NATO destinada a proteger o território da Aliança “contra qualquer ameaça ou ataque aéreo ou de mísseis”, segundo a organização. Países como a Alemanha já assinaram contratos com os Estados Unidos e Israel para adquirir o sistema Arrow, integrando-o no quadro do Sky Shield.

O “Golden Dome” representa não só uma resposta a ameaças emergentes, como também um símbolo da política de defesa nacional da administração Trump. Com a promessa de que o sistema estará operacional até ao fim do seu mandato, em 2029, o presidente norte-americano apresenta este projeto como um marco estratégico para os EUA, reforçando a sua visão de supremacia militar e tecnológica — agora também estendida ao espaço.