“A brincar a Deus”: cientistas estão a desenvolver controverso ADN humano sintético

A “brincar a Deus”: os cientistas têm levantado preocupações com o passo ousado e controverso na criação de ADN humano sintético a partir do zero. A pesquisa visa descobrir novos tratamentos para doenças autoimunes, insuficiência cardíaca, infeções virais e doenças relacionadas com a idade.

Para tal, indicou o tabloide britânico ‘Daily Mail’, os investigadores estão a desenvolver ferramentas para construir secções grandes e complexas de ADN humano em laboratório para depois as inserir em células da pele para observar como funcionam.

O objetivo final é construir cromossomas humanos inteiros, um passo fundamental para a montagem de um genoma humano totalmente sintético.

NO entanto, o projeto gerou preocupações éticas e de segurança. Os especialistas alertaram que a tecnologia pode apresentar riscos catastróficos, levando à criação de armas biológicas ou a ‘bebés projetados geneticamente’. “O génio saiu da garrafa”, apontou Bill Earnsham, professor da Universidade de Edimburgo. “Se uma organização com o equipamento certo decidisse começar a sintetizar qualquer coisa, não acho que conseguiríamos impedi-la.”

Pat Thomas, um antigo defensor da ética genética, acrescentou: “Embora muitos cientistas tenham boas intenções, a ciência pode ser reutilizada para causar danos e até mesmo para fins de guerra.”

Cada célula do nosso corpo, exceto os glóbulos vermelhos, contém ADN, uma molécula que carrega instruções genéticas para a vida. O ADN é composto de apenas quatro bases químicas, conhecidas como A, G, C e T. Essas letras repetem-se em inúmeras combinações para formar o código que molda tudo, desde a cor dos olhos até o risco de doenças.

Nos próximos cinco anos, equipas da Universidade de Oxford, Cambridge, Kent, Manchester e Imperial College London colaborarão para construir e testar ADN sintético em laboratório. O seu objetivo de curto prazo é entender melhor como o ADN influencia o desenvolvimento humano, a saúde e o envelhecimento. Ao construir ADN do zero, em vez de editar fitas existentes, os cientistas procuram ganhar controlo sem precedentes para explorar a função genética e testar novas teorias biológicas.

A pesquisa pode ajudar a descobrir como células defeituosas desencadeiam doenças ou levam à criação de tecidos resistentes a doenças e técnicas de reparação para órgãos como o coração ou o fígado. “Trata-se de desenvolver terapias que irão melhorar a vida das pessoas à medida que envelhecem, levando a um envelhecimento mais saudável e com menos doenças”, disse Julian Sale, do Laboratório de Biologia Molecular do MRC de Cambridge, à ‘BBC’.

Sale acrescentou que a tecnologia também permite que os investigadores explorem a chamada “matéria escura” do genoma, as vastas e pouco compreendidas regiões do ADN que não codificam proteínas, mas podem desempenhar papéis essenciais na função celular.

Embora os tratamentos médicos ainda possam levar anos, o trabalho pode eventualmente levar a novas terapias, como tecidos resistentes a vírus, órgãos cultivados em laboratório ou medicina avançada baseada em células.