A banca em transformação: os Interim Managers como opção
Por Dulce Mota, CEO do Banco Montepio
A nível global existe um optimismo para a Banca. Uma década após a crise financeira, a indústria da Banca pode agora respirar de forma mais saudável. Hoje, o sistema bancário é maior, mais lucrativo e resistente. No entanto, a recuperação não foi idêntica em todas as regiões do Mundo. Existem muitas diferenças. Apesar do quadro optimista geral para o sector, as incertezas fazem parte do futuro. Há a previsão de um abrandamento da economia com a desaceleração do PIB em praticamente todas as regiões, segundo o FMI; há um aumento da concorrência com novos players, nomeadamente na área dos pagamentos; há um reforço da regulação… Mas o momento para a transformação é agora.
TENDÊNCIAS PARA O SECTOR BANCÁRIO E FINANCEIRO
O futuro irá trazer mudanças gigantes ao sector bancário e financeiro. As instituições precisam de estar preparadas para evoluir, crescer e prosperar. As novas tecnologias são o motor da modificação desta indústria, de formas que nem imaginamos.
Existem tendências que já são uma continuidade, como a prevalência da blockchain e o crescimento da criptomoeda ou a incerteza da regulação e o aumento dos custos com compliance. Mas a inteligência artificial (IA) é uma novidade, pois a Banca está a descobrir como utilizá-la para reduzir custos, melhorar a facturação, reduzir a fraude e melhorar a experiência do cliente. Aliás, é a mudança de paradigma no comportamento dos clientes, sejam baby boomers ou millennials, que obriga à necessidade estratégica de transformação da Banca.
AS EXIGÊNCIAS DOS CLIENTES
Os clientes querem e valorizam uma oferta integrada para as principais necessidades e não apenas para serviços financeiros tradicionais. Na oferta da compra de casa com hipoteca não querem apenas a cobertura de seguros multirrisco e vida; querem, por exemplo, um empréstimo adicional para aquisição de móveis.
Hoje, a personalização é um requisito dos clientes em qualquer área e na Banca não é diferente. Os clientes querem aconselhamento financeiro conforme o seu perfil, incluindo análise sobre hábitos de consumo e administração de dinheiro.
Actualmente, a integridade de dados e o GDPR são uma constante diária na Banca. Mesmo assim sendo, os clientes estão disponíveis para partilha de dados e informação. E porquê? Em troca de melhores conselhos e ofertas mais atraentes.
A TECNOLOGIA
O sucesso dos bancos na transformação digital depende de como a estratégia, a tecnologia e as operações funcionam juntas. E a Banca deve olhar para a transformação como um processo holístico e contínuo, jamais como um one-off.
Há dois desafios para a transformação digital: a gestão dos dados e a decisão sobre os sistemas a modernizar.
Até ao momento, o sucesso da maioria dos programas de gestão dos dados tem sido limitado. Para que o desenvolvimento tecnológico aconteça, os dados de clientes têm de ser disponibilizados a terceiros. Em oposição, a importância da integridade dos dados é vital e o GDPR obriga os bancos à privacidade dos mesmos. Acresce ainda que maioritariamente a gestão dos dados é em sistemas diferentes e isolados. Em suma, uma dor de cabeça que, se não tiver uma gestão eficaz de prioridades, pode criar riscos para a transformação do banco.
E, quanto aos sistemas, quais modernizar primeiro? Não existe uma regra. Alguns optam por substituir completamente os sistemas legacy, outros optam por microsserviços e aplicações na cloud. A decisão depende da estratégia definida pelo capital humano.
INTERIM MANAGERS — UMA OPÇÃO PARA A TRANSFORMAÇÃO
A Banca tem de ter uma nova aproximação quanto à gestão do capital humano. A automação e a economia GIG afectam significativamente o trabalho, como a eliminação de tarefas rotineiras de front e back-office e/ou custos. Num mundo dominado pelas máquinas, skills de resolução de problemas requerem intuição, criatividade, análise, persuasão e empatia. Em tempos de incerteza económica, a Banca deve adoptar políticas de gestão de talento flexíveis e escaláveis através de equipas multidisciplinares e recursos independentes para o desenvolvimento de projectos específicos do início ao fim.
Os Interim Managers sempre foram populares no sector bancário para funções de C-level, isto é, CEO, CFO, etc., pois são especialistas em oferecer às organizações a liderança e suporte para posições executivas durante períodos determinados. Agora, com a obrigatoriedade da Banca de redesenhar o ambiente de trabalho para acelerar a transformação, o “catálogo” de funções em que o Interim Manager é uma opção é muito mais alargado.
Em que projectos o Interim Manager é uma opção? Em todas as áreas da estratégia transformativa em que exista um match entre a necessidade da instituição financeira e o perfil e experiência do Interim Manager. Exemplos são vários, na área regulatória, com um cenário tão dinâmico, implica uma constante mudança. No domínio da gestão de risco, uma área que está num estágio evolutivo, na medida em que a digitalização, a automação e a externalização ganham terreno, e para a qual são precisas competências específicas, como as matemáticas aplicadas e a estatística. Para a transformação digital, aportando conhecimentos e práticas de outras indústrias em benefício do banco. Ou ainda, no desenho da experiência do cliente, em que como especialistas do “cliente” e em projectos multidisciplinares conseguem fazer acontecer.
Os Interim Managers são a opção para o sector bancário no que a talento concerne, pois para a transformação precisa de recursos seniores e experientes que sejam catalisadores da mudança.
Porque não existe tempo melhor que agora para a transformação. Os fundamentos económicos são mais fortes do que em qualquer outro momento da última década. A indústria da Banca não pode ser condescendente com a exigência da transformação, pois é inevitável o ciclo económico mudar em algum momento e há quem afirme que irá mudar no curto prazo.