
“A adesão de novas formas de pagamento tem sido um fator crucial para aumentar a competitividade das PME”, admite Tiago Oom
A evolução tecnológica e a mudança no comportamento dos consumidores têm impulsionado uma transformação significativa no setor dos pagamentos, que se reflete em novas formas de pagamento, como os sistemas contactless e as carteiras digitais, e na crescente adoção de soluções como o “buy now, pay later”.
Em entrevista à Executive Digest, Tiago Oom, Head of Merchant Acquiring da UNICRE, falou sobre as tendências que têm impactado as Pequenas e Médias Empresas (PME) em Portugal, para além os desafios que ainda existem, como a literacia digital e as questões de segurança.
Quais são as principais tendências de pagamentos que têm impactado as PME em Portugal nos últimos anos?
Os pagamentos em Portugal tornaram-se banais e transversais. Se antigamente havia alguma resistência por parte de alguns players mais pequenos, hoje o tema está desmistificado. Assim, o “monstro” de que se cobravam valores muito exagerados aos comerciantes desapareceu, não só porque as comissões foram realmente muito reduzidas, como pela existência de legislação europeia a regular as taxas máximas a ser cobradas.
O comerciante de PME’s, que representa a grande maioria do tecido empresarial português, já entendeu que aceitar meios de pagamento eletrónicos é não só uma muito maior economia que lidar com dinheiro, como é muito mais seguro e, acima de tudo, é o que os clientes finais preferem. Hoje todas as pessoas querem pagar simples, rápido e sem esforço, cenário para o qual a democratização do contactless muito deu o seu contributo.
Os pagamentos são dos setores que mais tem sido fortemente impactado pelas mudanças no comportamento dos consumidores e pelos constantes avanços tecnológicos. Pela conveniência e segurança que lhes são características, o crescimento do e-commerce e dos pagamentos digitais, bem como do recurso a ferramentas que possibilitem a operacionalização de pagamentos digitais seguros e integrados nos próprios websites e softwares de gestão das empresas, veio colocar os pagamentos como um aliado natural das PME’s e também das grandes empresas.
Soluções de parcelamento dos pagamentos sem juros, frequentemente usadas em setores como o retalho e a tecnologia, são hoje disponibilizados pela REDUNIQ, e muito têm sido procurados para incrementar as vendas dos nossos clientes/comerciantes. Para além disso, a segurança e a sustentabilidade têm também sido tendências cruciais na adaptação do setor dos pagamentos, considerando a necessidade de proteção contra fraudes e ameaças cibernéticas – através de medidas como a autenticação multifatorial e a monitorização do tempo das transações – bem como a adoção de práticas que promovam a redução da utilização de papel – como os recibos digitais. Em Portugal, o setor dos pagamentos tem acompanhado estas tendências, o que resulta no aumento da eficiência operacional e na consequente melhoria da experiência do cliente final.
Como é que a adesão de novas formas de pagamento, como os pagamentos contactless e as carteiras digitais, tem afetado a competitividade das PME?
A adesão de novas formas de pagamento, como os pagamentos contactless e as carteiras digitais, tem sido um fator crucial para aumentar a competitividade das PME. A partir do momento em que uma PME tem uma maior oferta de métodos de pagamento, torna-se mais capaz de responder às exigências dos consumidores modernos que priorizam rapidez, conveniência e segurança nas transações – o que aumenta a sua atratividade perante os diversos segmentos de consumidores. Hoje o consumidor quer tudo rápido, fácil, intuitivo e ter todas as soluções de pagamentos existentes.
Ao disponibilizarem opções de pagamento modernas e alinhadas com os hábitos de consumo globais, para além de melhorarem a experiência do cliente, as PME’s contribuem para o aumento da fidelização e do alcance de novos segmentos de mercado. Este investimento em métodos de pagamento inovadores fortalece a competitividade destas empresas num mercado cada vez mais digital e globalizado, constituindo uma oportunidade para o crescimento das empresas dos mais diversos setores.
Considerando o aumento do uso de soluções como o “buy now, pay later”, quais os benefícios e desafios que esta tendência pode trazer para as PME em Portugal?
O BNPL constitui uma tendência que, durante os últimos anos, tem vindo a ganhar expressão, a um ritmo consistente, quer a nível nacional como internacional. Segundo o relatório da ‘Research And Markets’, espera-se que os pagamentos com recurso ao BNPL aumentem 15.2% em 2024. Para além disso, o ‘The Global Payments Report’ antecipa uma taxa de crescimento anual composta de 9% até 2027. Em Portugal, a adoção do BNPL tem sido sustentada por uma alteração nos comportamentos de consumo, na medida em que se verifica uma crescente procura dos portugueses por soluções de pagamento que facilitem o processo de pagamento – no caso do BNPL aplica-se ainda mais esta máxima, sobretudo quando falamos da possibilidade de pagar mesmo não tendo a liquidez financeira no momento.
No caso das PME, acredito que as entidades que disponibilizam o BNPL têm uma clara vantagem competitiva, na medida em que são capazes de atrair consumidores que valorizam a flexibilidade financeira. Ao nível dos desafios, destacaria sobretudo a literacia dos pequenos negócios para estas novas modalidades de pagamento, o que pode trazer relutância destes comerciantes à adoção destas soluções. Nesse sentido, na UNICRE temos trabalhado para capacitar os nossos clientes e parceiros com o maior conhecimento sobre os benefícios destas soluções nos seus negócios e, em última instância, os seus benefícios para os próprios consumidores.
Qual é a estratégia da UNICRE para apoiar as PME a adaptar-se ao mercado de pagamentos digital e a melhorar a sua competitividade?
A estratégia da UNICRE está assente em facilitar o processo de aceitação de pagamentos junto dos negócios portugueses (sejam estas pequenas, médias ou grandes empresas), oferecendo-lhes um ecossistema completo com as mais inovadoras soluções de pagamento. Com a crescente digitalização dos negócios e dos hábitos de consumo, torna-se imperativo capacitar as pequenas e médias empresas com novas e disruptivas soluções de aceitação de pagamentos que lhes permitam competir diretamente com grandes players, que permitam uma reduzida complexidade de execução e menores custos operacionais. Assim, desde a disponibilização de um simples terminal de pagamento automático até ao desenvolvimento de serviços de valor acrescentado, como um link gerado para pagamento ou uma solução totalmente integrada com o software de faturação do comerciante, a UNICRE (através da sua marca de acquiring REDUNIQ) tem todas as soluções pensadas para responder às reais necessidades de comerciantes e consumidores.
Concretizando num exemplo, num restaurante um terminal da REDUNIQ pode servir para fazer o pedido à cozinha, dar baixa dos produtos utilizados para a confeção da comida, gerar encomendas automáticas ao fornecedor do restaurante, apurar a conta, colocar gorjetas e por até serve de terminal de pagamentos. Este é um exemplo do que fazemos e como apoiamos as PME’s mas como estas há muito mais, por isso o nosso lema é inovação.
No fundo, mais do que novas soluções que permitam agilizar a aceitação de pagamentos, na UNICRE preocupamo-nos em criar soluções verdadeiramente úteis para os nossos clientes, que exerçam o papel fundamental na fidelização de consumidores e na diferenciação competitiva.
Quais são os principais obstáculos que as PME enfrentam ao adotar novas soluções de pagamento, e como a UNICRE as apoia para superar esses desafios?
Há alguns anos, os pagamentos feitos por via eletrónica eram tipicamente vistos como muito caros, mas a realidade atual já não é essa. Hoje, cada vez mais existe a valorização por parte dos comerciantes das vantagens competitivas de soluções de pagamento eletrónicas cada vez mais diversificadas, e por isso temos sentido, em diversos momentos, que nos é solicitado por comerciantes deixar de aceitar dinheiro e há quem já deixe totalmente de o aceitar (cashless). Se formos a Londres, por exemplo, é raro o sítio que aceita dinheiro, pois além do elevado risco do numerário, o mesmo tem custos de manuseamento e risco muito superiores aos pagamentos eletrónicos.
Neste panorama, o papel da UNICRE passa por dotar as PME’s de ferramentas, nomeadamente soluções de pagamento, e conhecimento para as capitalizar da melhor forma. Sempre com atenção à personalização no atendimento e ao fator humano, porque todos sabemos que a gestão de negócios constitui um tema sensível e que envolve, por vezes, sentimentos de ansiedade.
Quais são as próximas grandes inovações ou tendências que a UNICRE prevê no setor de pagamentos nos próximos anos, especialmente para as PME?
Gateways de pagamento, soluções de checkout rápido, a aceitação de carteiras digitais e soluções Tap-to-Pay são agora indispensáveis para competir num mercado tão dinâmico como o financeiro. Estamos num momento em que os clientes procuram maiores níveis de conveniência e segurança, e enquanto instituição financeira continuamos comprometidos em oferecer soluções inovadoras e adaptadas às necessidades específicas das PME, ajudando-as a prosperar nesta nova realidade através de transações mais rápidas e eficientes.
Quanto a tendências do futuro, podemos antecipar que os próximos anos sejam definidos por desenvolvimentos na política monetária europeia a propósito da moeda digital, mas também uma crescente adoção de soluções como o Buy Now, Pay Later ou as wallets digitais. Estamos perante um cenário de disrupção tecnológica, que irá impactar fortemente a área dos pagamentos e, muito provavelmente, ditar a desmaterialização dos mesmos. Também a IA vai continuar a revolucionar a nossa área de atuação, proporcionando soluções mais personalizadas e acessíveis.