77% dos portugueses revelam auferir rendimentos insuficientes, indica estudo: 18% vivem abaixo do limiar de pobreza
Além da saúde pública e das crises geopolíticas, a inflação tem sido uma constante nos últimos anos. No final de 2024, tinha descido para 2,4% em Portugal, não muito longe da marca simbólica dos 2% que o Banco Central Europeu considera indicar para a estabilidade de preços na União Europeia.
Neste sentido, o recente estudo do Observador Cetelem procurou traçar um quadro sobre os consumidores na Europa e perceber de que forma encaram o consumo atualmente. Uma das principais conclusões é a de que os portugueses auferem dos rendimentos mais baixos da Europa, com 77% a sentir essa dificuldade e barreira na gestão do quotidiano.
Segundo o estudo, e apesar da diminuição da inflação, a maioria dos portugueses (61%) continua a percecionar um aumento significativo dos preços, com 43% a afirmar que sentiu o seu poder de compra diminuir nos últimos 12 meses, menos 15% do que no ano passado. Ainda assim, os portugueses são os inquiridos da Europa que mais revelam ter rendimentos insuficientes (77%), com 59% dos inquiridos a afirmar que não conseguem fazer face às suas necessidades básicas, mas que desenvolvem estratégias que lhes permitem dar resposta a esse desafio. Em Portugal, tal como em França, 18% dos inquiridos afirmam mesmo não ganhar o suficiente para satisfazer as suas necessidades básicas, o que quase equivale à percentagem de pessoas que vivem abaixo do limiar de pobreza.
Talvez por isso, quando questionados sobre qual seria a primeira coisa que fariam se recebessem uma soma inesperada de dinheiro, 84% dos portugueses afirmou que pouparia, com apenas 16% a revelar a intenção de o gastar. Estas são, respetivamente, a percentagem mais alta de intenção de poupança e mais baixa de intenção de consumo no contexto europeu.
Portugal, Roménia e Reino Unido são os países em que mais se pretende poupar
O relatório revela que, em Portugal, as intenções de poupança são de 65% (10 pontos acima da média europeia). Este dado posiciona o país no top 3 de países que pretende poupar mais, ao lado da Roménia e do Reino Unido, e confirma a tendência de se reservar algum dinheiro.
Esta atitude cautelosa prevalece e pode ter origem na intenção de não comprometer o futuro e de manter uma certa margem de manobra financeira face aos contextos nacionais e internacionais, que poderão ter um efeito negativo no poder de compra a médio prazo. Os valores de intenção de poupança atingem “apenas” 43% em França e 47% na Bélgica, os únicos países com um resultado inferior a 50%.
Quando questionados sobre se em 2025 pretendem gastar mais dinheiro do que no ano passado, apenas 39% dos portugueses diz que sim, uma redução significativa face aos 48% registados em 2024. Entre estes, 59% continuarão a dar prioridade às viagens, um resultado que se tem mantido relativamente estável ao longo do tempo. Em segundo lugar estão as subscrições de plataformas de streaming, com 40% dos portugueses e mais de 4 em cada 10 europeus a optar por investir aqui o seu dinheiro, sendo o resultado que registou o maior aumento desde 2019. A completar o top 3, encontram-se os eletrodomésticos, com 40% dos portugueses a demonstrar intenção de compra.
Hugo Lousada, Chief Marketing & Sales – BNP Paribas Personal Finance, salienta que “as restrições orçamentais limitam a capacidade de consumo dos portugueses e geram não só deceção, mas também frustração. Apesar de verificarmos que os portugueses se mostram atualmente menos propensos a gastar, é interessante notar que são dos cidadãos europeus os que mais percecionam um aumento do consumo na última década: 87% afirmam que este crescimento ocorreu, e 51% reconhecem mesmo uma evolução no seu consumo pessoal. Além disso, em consonância com a tendência europeia, os portugueses revelam uma inclinação maior para consumir bens imateriais (49%) em detrimento dos materiais”.