2023 poderá ser o ano mais quente de que há registo: como estão os países europeus a aquecer?
A Europa está a aquecer quase duas vezes mais depressa do que a média global, a cerca de 2,2 graus acima da era pré-industrial. O verão boreal (hemisfério norte) de junho-julho-agosto registou uma temperatura média de 16,77°C – 0,66°C acima da média para esta época do ano.
“Deixa-me muito nervosa em relação ao que está para vir”, referiu Samantha Burgess, diretora-adjunta do Serviço Europeu de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus (C3S). Em ano de El Niño, com impacto de aquecimento nas temperaturas globais, os especialistas estão alarmados. “Também sabemos que cada El Niño é diferente e que nenhum outro El Niño começou com um oceano tão quente. Por isso, ainda não sabemos quão forte vai ser o evento e estamos a observar com muita atenção nos próximos meses.”
2023 já bateu o recorde do verão mais quente mas pode vir a tornar-se o ano m ais quente que o mundo alguma vez viu: atualmente, está 0,01 graus atrás de 2016 para o mesmo período, explicou Burgess, salientando que a menos que tenhamos um inverno e um outono extremamente frios, 2023 será o ano mais quente que já tivemos. “Com este calor no oceano global, 2023 – a não ser que tenhamos um inverno e um outono muito frios – será o ano mais quente que alguma vez tivemos”, referiu, em declarações à ‘Euronews’. Mas, apontou, “com o desenvolvimento do El Niño, é provável que 2024 seja o mais quente de sempre”.
A Europa está a aquecer mais rapidamente do que a média global, com cerca de 2,2 graus acima da época pré-industrial – este verão, a temperatura média do continente foi de 19,63°C, ou seja, 0,83°C acima da média. A proximidade com o Ártico – que está a aquecer cerca de três e quatros vezes mais do que a média global – explica em parte esta diferença. A perda de gelo marinho em torno do Polo Norte afeta o albedo da região (a sua capacidade de refletir a luz solar), com repercussões também na Europa.
Em 2022, a temperatura anual global em terra foi 1,39°C mais quente do que a média de 1951-1980. A Europa registou o maior aumento de temperatura (2,23°C) de todos os continentes no ano passado. Em 22 dos 41 países europeus, as temperaturas subiram mais de 2°C.
Em 2022, a variação anual da temperatura em terra, em comparação com o valor de referência de 1951-1980, variou entre 1,04 °C na Grécia e 2,93 °C em França e no Luxemburgo. Bélgica, Suíça, Países Baixos e a Alemanha também registaram aumentos da temperatura terrestre superiores a 2,5°C.
Temperaturas sobem há 29 anos consecutivos em Portugal
O número de anos consecutivos em que a temperatura em terra foi superior à média de 1951-1980 tem vindo a aumentar em cada país, um dado preocupante para os cientistas do clima. Em 2022, variou entre 12 anos no Reino Unido, Suécia, Noruega, Irlanda e Dinamarca e 38 anos em Itália e Malta. Em Portugal e Espanha a temperatura tem vindo a subir há 29 anos.