Netanyahu enfrenta rebelião: Ex-líderes da Mossad, Shin Bet e Exército pedem cessar-fogo em Gaza e acusam governo de mentir

Um movimento inédito de contestação interna está a abalar o Governo de Benjamin Netanyahu.

Pedro Gonçalves
Agosto 4, 2025
11:57

Um movimento inédito de contestação interna está a abalar o Governo de Benjamin Netanyahu. Mais de 500 ex-dirigentes do Exército, serviços secretos, forças policiais e diplomacia de Israel — incluindo figuras de topo como o ex-primeiro-ministro Ehud Barak, o antigo chefe do Shin Bet Yoram Cohen e vários ex-diretores da Mossad — lançaram um apelo público urgente para que a ofensiva militar em Gaza seja encerrada de imediato.

Através de um vídeo e de uma carta aberta divulgada esta segunda-feira, os signatários acusam o Governo de prolongar a guerra “por motivos políticos” e alertam que Israel está “a colher mais perdas do que vitórias”, num conflito sem “objetivos militares estratégicos claros”.

“Temos o dever de levantar a voz e dizer aquilo que tem de ser dito”, afirmou Ami Ayalon, ex-director do Shin Bet. “Esta guerra começou como uma operação defensiva legítima, mas quando os primeiros objetivos militares foram alcançados, deixou de o ser. Agora, está a conduzir Israel a uma perda profunda de segurança e identidade.”

A crítica transversal aponta o dedo a uma decisão política de manter a guerra, quando já não existe uma justificação militar concreta. “Esta guerra poderia ter terminado há um ano, com uma vitória operacional mais do que suficiente”, declarou Amos Malka, antigo chefe da Inteligência Militar.

Por seu lado, Nadav Argaman, também ex-responsável do Shin Bet, considera que “agora, basicamente, só se acumulam perdas”. Tamir Pardo, antigo director da Mossad, foi ainda mais duro: “Estamos perante o abismo da derrota. O que o mundo vê hoje em Gaza é criação nossa. Escondemo-nos atrás da nossa própria mentira, e essa mentira está a ser vendida ao povo de Israel e ao mundo inteiro.”

Na carta, os signatários denunciam o que classificam como um “governo messiânico que leva o país por um caminho irracional”. Apesar de reconhecerem que se trata de uma minoria ideológica, sublinham que “essa minoria controla hoje a política israelita”, advertiu Yoram Cohen.

O apelo dirige-se também ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a quem os subscritores pedem que use a sua influência sobre Netanyahu. “A sua credibilidade junto da maioria dos israelitas aumenta a sua capacidade de pressionar o primeiro-ministro e o seu Governo na direção certa”, lê-se no documento.

A iniciativa é promovida pelo CIS (Commanders for Israel’s Security), a maior plataforma de antigos altos quadros da segurança e diplomacia do país. Em nome desta organização, os signatários apelam a um cessar-fogo imediato e permanente, que permita o regresso dos cerca de 50 reféns israelitas ainda detidos pelo Hamas na Faixa de Gaza.

Defendem ainda a formação de uma coligação regional e internacional que apoie a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), atualmente enfraquecida e limitada à Cisjordânia ocupada, para que esta possa oferecer “uma alternativa política credível aos gazatitas e a todos os palestinianos”, contrapondo-se à “perversa ideologia do Hamas”.

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