A Integer – empresa de outsourcing de TI, de serviços de cibersegurança e também de desenvolvimento de software à medida – foi ‘obrigada’ a pensar fora da caixa para resolver um problema cada vez mais constante: a falta de habitação em Lisboa, o que potenciou as dificuldades para contratar ou manter os talentos.
Assim, avançou para o Integer Living Hub para dar uma solução ao “entrave constante” perante a falta de casa. O espaço – um coworking e seis apartamentos mobilados – tornou-se um “ás de trunfo” para atrair profissionais de topo, revelou Rúben Santos, Head of Outsourcing Services na Integer Consulting, em entrevista exclusiva à ‘Executive Digest’.
1. A criação de habitação disponibilizada para os trabalhadores do setor é um ‘ás de trunfo’ para a empresa, sobretudo face às dificuldades vividas em Portugal neste particular?
Sem dúvida. O Integer Living Hub — inaugurado em maio de 2024 — foi uma resposta direta ao que víamos acontecer durante o recrutamento: estrangeiros altamente qualificados e com vontade de trabalhar connosco em Portugal, porém bloqueados por situações habitacionais como rendas e cauções elevadas.
Então, se a casa era um entrave constante, era obrigatório arranjar uma solução. Assim, desenhámos um espaço — inclui coworking e seis apartamentos mobilados — na zona central da Portela (a 10 minutos de Lisboa), que está disponível entre seis a nove meses, ou seja, até as pessoas encontrarem o alojamento ideal.
Em rigor, esta iniciativa foi uma medida estratégica, uma espécie de xeque-mate, porque, ao resolvermos o problema da residência, o onboarding é mais rápido e o colaborador chega tranquilo e está 100% concentrado na sua atividade e não ansioso para saber onde vai dormir nos tempos que se seguem.
Portanto, sim, o Integer Living Hub é um ‘às de trunfo’. Todavia, é acima de tudo uma questão de responsabilidade: se pretendemos atrair e manter profissionais de topo, é imperativo disponibilizar condições de excelência para que a jornada seja iniciada com calma, vontade e sem quaisquer atritos que afetem a sua performance.
2. Que outras iniciativas considera serem igualmente valiosas nesse esforço de reter talento?
Não acredito em fórmulas mágicas, mas em consistência. A retenção de talento em Tecnologias de Informação (TI) — um setor em que há falta de mão de obra em todo o mundo — não se esgota em salários e em prémios apetecíveis. Trata-se de um esforço permanente a vários níveis.
Por isso, criámos programas internos que são chamarizes para quem pretender ir além dos números. O Better IN — formação com coach para desenvolvimento de skills individuais — e a app Game IN, que gamifica o engagement interno e intensifica a cultura organizacional de forma leve e eficaz.
Adicionalmente, dispomos do Integer+ no âmbito da responsabilidade social e do BFF (Best Friend Forever), que é mais do que um referral: é a prova de que, quando abrimos candidaturas a determinadas vagas, quem está connosco confia em nós para nos recomendar a amigos que estejam interessados numa carreira sólida.
No fundo, com estes exemplos estamos a criar um ecossistema em que cada um percebe que é visto, valorizado e acompanhado em todas as circunstâncias. E este cuidado genuíno com os nossos é algo que se sente no dia a dia e que se traduz em relações saudáveis e duradouras, tudo o que mais almejamos.
3. Quais eram as principais preocupações/dúvidas dos trabalhadores no momento de aceitar o projeto que levaram ao avanço desta medida?
As principais preocupações eram, de facto, no campo da habitação, sobretudo no que tocava a pedidos reiterados de: fiadores, contratos de longa duração e pagamento adiantado de várias rendas. No entanto, de imediato verificámos que os constrangimentos iam muito além disso.
Não nos podemos esquecer de que trocar de país envolve uma série de incertezas práticas e emocionais e que a ausência de uma rede de apoio tornava esse processo mais denso e doloroso. Como tal, a Integer passou, desde início, a estar envolvida em todas as etapas, prestando um acompanhamento 360º.
Neste caso falamos de: lidar com burocracia — onde tratar da documentação e como abrir conta no banco, tirar NIF ou aceder ao sistema de saúde —, qual o custo de vida real, escolher zonas seguras e bem servidas, selecionar escolas para filhos, entender o circuito de transportes ou ajustar-se a uma nova cultura.
Mesmo quando a oferta per si era atrativa, o peso de todas estas questões gerava hesitação ou era até impeditivo de aceitarem a nossa proposta. Por isso, entendemos que, mais do que apresentar boas condições, era essencial diminuir ao máximo a fricção da mudança e asseverar um acolhimento estruturado.
Foi assim que nasceu o Integer Living Hub: não apenas para colmatar a falta de residências, mas como um ‘chapéu’ mais abrangente de inclusão. Ao garantir um ponto de chegada seguro e organizado, tornámo-nos numa empresa que acolhe e não apenas numa empresa que contrata. E isso, no momento da decisão, faz toda a diferença.
4. Essa proximidade — até por se tratar de um edifício comum — permite de certa forma valorizar o ambiente de trabalho entre os beneficiários desta medida?
Sim, e isso foi uma surpresa positiva. Não era o objetivo inicial; contudo, o convívio natural decorrente da partilha de um local estabelece uma ligação mais forte entre colegas. Isto porque há troca de experiências e ajuda mútua em várias dimensões, sendo algo precioso, em particular para quem chegou há pouco.
Este Living Hub funciona quase como uma minicomunidade Integer, o que é incrível para a integração, tanto pessoal como laboral, dado reduzir o isolamento, acelerar adaptação e intensificar um sentimento de pertença muito difícil de construir noutros contextos.
5. Tencionam expandir essa medida no sentido de aumentar a oferta?
A expansão do Integer Living Hub está diretamente relacionada com o nosso crescimento económico e com novos projetos que conquistemos porque, no fim de contas, o nosso métier não é de todo o alojamento, é a tecnologia.
Nós não somos nem queremos ser uma imobiliária. Os apartamentos foram equacionados para suprimir uma necessidade efetiva dos profissionais e para lhes dar estabilidade, e não como um fim em si mesmo.
Deste modo, qualquer novo espaço só fará sentido se pudermos devolver os mesmos padrões de conforto e de bem-estar que temos conseguido proporcionar na Portela. Aumentar a oferta, sim, todavia com um propósito concreto e com a mesma exigência que nos caracteriza em tudo o que fazemos.
6. A Integer dedica-se também a serviços de cibersegurança. De que forma vê este novo ‘entusiasmo’ por Defesa e os avultados investimentos planeados no setor? De que forma afeta a Integer?
O reforço dos investimentos em Defesa e em Segurança — a nível nacional e europeu, por parte de entidades públicas e privadas — é claramente uma oportunidade para a Integer, pois a cibersegurança é um dos ramos em que já temos peugada com notoriedade.
O nosso portfólio é robusto e engloba: testes de intrusão, avaliações de vulnerabilidades, simulações de phishing e serviços como CISO as a Service. Também estamos aptos para responder a requisitos mais rigorosos como normas ISO/NIST e certificações específicas.
Mais do que uma tendência passageira, este movimento valida a nossa aposta contínua e expressiva na cibersegurança como dimensão estratégica da Integer, complementando o nosso foco principal: projetos tecnológicos de grande complexidade e impacto.
7. Atualmente, quais são os principais desafios do setor em Portugal? A falta de talento? A retenção de talento? O fraco investimento? Alguma despreocupação das empresas na cibersegurança?
Na verdade, é tudo isso ao mesmo tempo. O défice de peritos é estrutural, e isso, como é evidente, tem reflexos em termos de se conseguir manter os quadros, visto que o universo das TI é extremamente competitivo e volátil.
Além disso, há imensos organismos que só se lembram da cibersegurança — um dos temas mais delicados e inquietantes do momento e do futuro — depois de sofrerem um incidente. E aí, com frequência, estão dispostos a gastar tudo o que têm para evitar danos.
No entanto, o segredo para impedir ataques de todo o tipo está em ativar políticas preventivas e em agendar formação regular do staff com instituições com conhecimento avançado, como a Integer. O investimento até existe, contudo, ou chega tarde ou é mal orientado.
É fundamental que as tecnologias, e em específico a segurança, deixem de ser percecionadas como um custo acessório ou como uma necessidade pontual. Estes tópicos devem ser encarados como parte relevante do plano de negócio, pois, caso contrário, será difícil tornar uma entidade competitiva.
Felizmente, lidamos com vários clientes que já possuem este mindset. Contudo, também é inquestionável que ainda há um longo caminho a percorrer no nosso país, dado que as PME — por natureza com menos recursos financeiros — constituem o grosso (99,9%) do tecido empresarial.
8. Como definiria o panorama atual em Portugal no vosso ramo? Negligenciado ou a ser olhado com a atenção devida?
Em Portugal, a tecnologia já não é um setor negligenciado. Aliás, até está a afirmar-se como um dos motores económicos. Entre 2019 e 2024, o peso das TI no valor acrescentado no nosso território subiu de 3,8% para 4,9%, ultrapassando países como Espanha e Itália.
O ramo cresce acima da média europeia e destaca-se pela capacidade de inovação e de internacionalização. Ainda assim, persistem desafios: escassez de talento, dificuldades na sua captação, demasiadas burocracias na atração de experts estrangeiros e investimento reativo em cibersegurança.
Estamos no rumo certo, com mais financiamento alocado, com maior visibilidade lá fora e com empresas que lideram pelo exemplo. No entanto, ainda há um trajeto considerável a cumprir até termos um ecossistema verdadeiramente preparado, competitivo e resistente.
9. Por último, quais os objetivos da Integer para este ano? E num espaço de três anos? A nível de investimento, crescimento?
Este ano, o foco da Integer é consolidar o crescimento sustentado, reforçando a atuação em três áreas-chave: outsourcing de TI, desenvolvimento de software à medida e cibersegurança.
A médio prazo, a ambição passa cada vez mais por nos posicionarmos como uma ‘boutique’ de serviços de tecnologia, no sentido em que somos especializados, próximos dos nossos colaboradores e com know-how distinto que entrega soluções de alto valor.
O investimento será direcionado para estimular as competências da nossa equipa, promover a inovação permanente e solidificar o nosso posicionamento como parceiro tech vital em projetos tanto no mercado interno como externo. Ao cumprirmos todos estes desígnios estamos a cumprir o ADN da Integer, o que é algo valioso para nós.













