O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, voltou a incendiar o debate político ao defender, esta terça-feira, a anexação da Cisjordânia, alegando que “não há momento mais apropriado” para o fazer. A declaração surge num momento de grande tensão diplomática entre Israel e vários países europeus, com crescentes acusações de violações de direitos humanos e apelos internacionais para travar a escalada da violência nos territórios ocupados.
Segundo o The Times of Israel, Smotrich — uma das figuras mais radicais da coligação governamental — declarou que a medida visa corrigir “um erro histórico” e reforçar que “a soberania tem significado político e de segurança”. O apelo foi dirigido diretamente ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, instando-o a formalizar o controlo total sobre a Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967 e reivindicado pelos palestinianos para o futuro Estado.
Estas declarações surgem dias depois de Smotrich ter igualmente exigido uma actuação mais agressiva em Gaza, onde decorre uma ofensiva militar devastadora desde outubro de 2023. Tanto ele como o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, têm apelado ao que consideram ser “conquista total” da Faixa de Gaza, defendendo ainda a interrupção da ajuda humanitária que tenta chegar à população cercada.
As posições extremas destes dois ministros valeram-lhes sanções diplomáticas. Na segunda-feira, o governo dos Países Baixos declarou Smotrich e Ben-Gvir “personae non gratae”, proibindo-lhes a entrada no território neerlandês e comprometendo-se a inscrevê-los na base de dados do Espaço Schengen como “estrangeiros indesejáveis”. O ministro dos Negócios Estrangeiros neerlandês, Caspar Veldkamp, justificou a medida com os apelos dos dois ministros à violência dos colonos na Cisjordânia e com declarações que “promovem a limpeza étnica em Gaza”.
“O gabinete decidiu declarar os ministros israelitas Smotrich e Ben-Gvir persona non grata, comprometendo-se a registá-los como indesejáveis no sistema Schengen”, afirmou Veldkamp em comunicado, acrescentando que os dois incitam à violência e promovem “assentamentos ilegais e violações graves dos direitos humanos”.
A embaixada de Israel em Haia será chamada para dar explicações, e o governo neerlandês instou o executivo de Netanyahu a alterar uma postura que descreve como “intolerável e indefensável”. A decisão segue-se a medidas semelhantes tomadas no mês passado pelo Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Noruega. A Eslovénia também já havia proibido a entrada dos dois ministros, acusando-os de “declarações genocidas” e incitação à violência extrema.
Entretanto, Ben-Gvir reagiu ao veto dos Países Baixos com desprezo, garantindo que continuará a “trabalhar para o bem de Israel”. Também voltou a exortar Netanyahu a interromper completamente a ajuda a Gaza e a assumir o controlo absoluto do território, mesmo em plena negociação de um eventual cessar-fogo.
A posição de Israel tem sido cada vez mais contestada por líderes europeus. Na segunda-feira, o primeiro-ministro neerlandês, Dick Schoof, emitiu um comunicado inflamado, propondo sanções europeias contra Israel e convocando uma reunião de emergência com os seus ministros para discutir o agravamento da crise humanitária em Gaza. Schoof reafirmou o compromisso dos Países Baixos com o acesso imediato e sem obstáculos à ajuda humanitária e alertou que, caso Israel continue a falhar nas suas obrigações internacionais, poderá haver consequências económicas e políticas.
O chefe de Estado israelita, Isaac Herzog, tentou minimizar as declarações do líder neerlandês, dizendo que “não reflectem o espírito ou os detalhes” da recente conversa telefónica entre ambos. Ainda assim, avisou que “seria um erro enorme” a União Europeia tomar qualquer medida contra Israel, “especialmente tendo em conta os esforços humanitários que estão em curso”.














