Melhores serviços públicos ou impostos mais baixos: saiba o que os portugueses estão dispostos a sacrificar

Quatro em cada dez cidadãos (39%) da UE consideram que os impostos são demasiado elevados e apoiam reduções fiscais, mesmo que isso implique menos serviços públicos ou de menor qualidade

Francisco Laranjeira
Setembro 18, 2025
12:18

Quatro em cada dez cidadãos (39%) da UE consideram que os impostos são demasiado elevados e apoiam reduções fiscais, mesmo que isso implique menos serviços públicos ou de menor qualidade. O que coloca as questões: pagariam impostos mais elevados por melhores serviços públicos ou aceitaria serviços de pior qualidade face a contribuições mais baixas? Os europeus estão divididos, mas com um tendência a favor da redução dos impostos.

“As dificuldades económicas que a Europa atravessa atualmente podem explicar esta deterioração do apoio ao aumento dos impostos”, referiu Olivier Jacques, professor assistente da Universidade de Montreal, à ‘Euronews Business’. Por outro lado, mais de um quarto (27%) dos cidadãos da UE apoia “o pagamento de impostos mais elevados para obter mais e melhores serviços públicos”. Uma proporção semelhante (26%) dos inquiridos apoia os atuais níveis de impostos e serviços públicos. Os restantes 8% não têm a certeza.

As conclusões do Eurobarómetro, realizado em abril último, apontaram variações significativas entre cidadãos dos diferentes países da UE.

Eslováquia (59%), Croácia (57%), Estónia (53%) e Eslovénia (50%) integram a lista de países onde muitos afirmam que os impostos são demasiado elevados e que devem ser reduzidos, mesmo à custa dos serviços públicos. O apoio é também de 45%, ou mais, na Grécia e na Roménia (48%), na Polónia (47%), e na Bélgica, Letónia e Hungria (45%). Em Portugal, essa opção mereceu o apoio de 37% dos inquiridos.

Dimitri Gugushvili, investigador na Universidade KU Leuven (Bélgica), salientou que, geralmente, os cidadãos opõem-se a mais impostos se desconfiarem do Governo e suspeitarem que os fundos extra estão a ser utilizados de forma abusiva pelos funcionários públicos. “Existe uma enorme diferença na confiança perante as instituições públicas em toda a Europa, sendo a confiança política mais elevada na Escandinávia e mais baixa na Europa de Leste, especialmente na Bulgária e na Roménia”, afirmou.

A Finlândia (22%), a Suécia (24%) e a Dinamarca (26%) – os três países nórdicos – são os que menos apoiam a redução de impostos em detrimento dos serviços públicos. Alemanha (40%), França (37%) e os Países Baixos (39%) estão próximos da média da UE (39%).

Em geral, os países da Europa Central e Oriental inclinam-se muito mais para a redução dos impostos em detrimento dos serviços. Os países da Europa do Norte e Ocidental estão menos dispostos a reduzir os serviços públicos.

“O apoio à tributação é mais elevado quando as pessoas têm a perceção de que os serviços públicos que recebem em troca dos seus impostos são de maior qualidade ou quando mantêm elevados níveis de confiança nas instituições governamentais”, destacou Jacques.

Que países estão dispostos a pagar mais?

Apenas 27% dos inquiridos na UE apoiam “impostos mais elevados para mais ou melhores serviços públicos”. Espanha (42%), Suécia (42%) e Finlândia (40%) lideram o apoio, enquanto Bulgária (39%) e Grécia (37%) vêm logo a seguir.

Este facto evidencia uma forte procura de um maior investimento nos serviços públicos em toda a Europa do Sul, com Espanha e Grécia a liderar. Itália e Portugal (ambos com 31%) também apresentam um apoio acima da média.

A Bulgária é um caso atípico na Europa de Leste, com respostas que sugerem que os cidadãos querem serviços mais sólidos, mesmo que os impostos aumentem.

Os níveis mais baixos registam-se no Luxemburgo (16%), bem como na Letónia, Eslováquia e Bélgica (todos os três com 17%), o que indica uma forte resistência ao aumento dos impostos. Na Europa Central e de Leste, o apoio é geralmente menor: a Polónia, a Hungria, a Roménia, a Lituânia e a Eslovénia situam-se entre os 22 e os 23%.

A Alemanha (20%), a Áustria (20%) e França (23%) também se encontram entre os países menos favoráveis.

Manter os serviços e os impostos ao mesmo nível

Uma parte significativa da população da UE, cerca de um quarto (26%), considera que tanto os impostos como os serviços públicos devem manter-se nos seus níveis atuais, embora as opiniões variem muito entre os Estados-membros.

O apoio à manutenção do status quo é mais forte no Luxemburgo (47%), em Malta (46%) e na Dinamarca (43%), onde quase metade da população tem esta opinião.

O apoio a esta opção é também superior à média da UE na Áustria (37%), Finlândia (34%), França (32%) e Alemanha (31%), o que indica uma preferência pela estabilidade. O apoio é baixo no sul da Europa, com muitos países a situarem-se muito abaixo da média da UE: Grécia (11%), Croácia (13%), Itália (18%), Espanha (21%) e Portugal (25%), um facto que, indicou o autor do estudo, demonstra o descontentamento da população e o desejo de mudança.

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