Termina esta quarta-feira o prazo para o primeiro-ministro demissionário de França, Sébastien Lecornu, para conversações com outros partidos para encontrar soluções para sair da crise política.
O presidente francês, Emmanuel Macron, já vai no seu quinto chefe de governo neste segundo mandato (e o terceiro desde as últimas eleições) e está sob uma pressão crescente para dissolver o Parlamento e deixar os franceses irem outra vez a votos ou até mesmo demitir-se, hipóteses que tem rejeitado
No entanto, Macron pediu a Lecornu para dialogar com os outros partidos e tentar encontrar um caminho para sair desta crise política. “O presidente confiou ao sr. Sébastien Lecornu, o primeiro-ministro cessante responsável pelos assuntos do dia-a-dia, a responsabilidade de conduzir as negociações finais até quarta-feira à noite para definir uma plataforma de ação e estabilidade para o país”, informou o Palácio do Eliseu, em comunicado.
O Palácio do Eliseu sublinhou que o chefe de Estado está “plenamente consciente da gravidade da situação” e que “assumirá a responsabilidade” caso as negociações conduzidas por Lecornu não resultem numa solução viável.
Fontes citadas pelo jornal ‘Le Figaro’ indicam, contudo, que mesmo que as conversações tenham êxito, Sébastien Lecornu não pretende ser reconduzido ao cargo de primeiro-ministro, o que deixaria Macron novamente diante do desafio de nomear um novo chefe de Governo — o quarto desde 2024.
Emmanuel Macron devem demitir-se: franceses acusam presidente da instabilidade política, revela sondagem
A mais recente sondagem publicada pelo instituto Odoxa-BackBone Consulting para o ‘Le Figaro’ indica que 70% dos franceses estão “muito” ou “bastante” favoráveis à demissão do presidente Emmanuel Macron, refletindo o crescente descontentamento popular e político com a crise governativa que atinge França. O inquérito revela ainda que 87% dos inquiridos consideram Macron “total ou parcialmente responsável” pela instabilidade política que o país atravessa, agravada pela recente demissão do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, apenas 27 dias após assumir o cargo.
O desagrado com o presidente francês estende-se além da opinião pública. Entre as fileiras políticas e mesmo dentro do seu partido, Renascimento, o descontentamento é cada vez mais audível. O ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, uma das figuras mais próximas de Macron até há poucos meses, afirmou: “Já não entendo as decisões do presidente da República”. Attal, que renunciou em julho de 2024 após as eleições antecipadas que deixaram a Assembleia Nacional fragmentada, considerou ainda que o chefe de Estado “dá a impressão de querer manter o controlo de forma implacável”.
Também Edouard Philippe, outro antigo primeiro-ministro e líder do partido centrista Horizontes, juntou-se às vozes críticas. Esta terça-feira, Philippe apelou abertamente a Macron para que “planeie a sua renúncia” e convoque eleições presidenciais antecipadas logo após a aprovação de um orçamento de emergência para 2026.
Macron enfrenta terceira crise governativa em pouco mais de um ano
Em apenas 13 meses, Macron viu três primeiros-ministros abandonarem o cargo. O mais recente, Sébastien Lecornu, deixou o Governo mergulhado em nova turbulência política. O presidente francês, contudo, manteve-se em silêncio público sobre a crise. De acordo com fontes próximas do Eliseu, Macron instou Lecornu a tentar, num prazo de 48 horas, construir uma “plataforma de ação e estabilidade” que permita salvar o executivo.
O chefe de Estado terá confidenciado ao seu círculo mais próximo que está disposto a “assumir as suas responsabilidades” caso até quarta-feira à noite não se encontre uma solução consensual dentro da coligação de centro-direita. Esta desmoronou-se na sequência da retirada do apoio do líder dos Republicanos, Bruno Retailleau, que afirmou ter “perdido a confiança” em Lecornu devido à nomeação do macronista Bruno Le Maire como ministro da Defesa — uma escolha “ocultada” até ao último momento.
Reações partidárias e propostas para resolver a crise
Depois de recusar integrar o Governo, Retailleau pediu uma reunião bilateral com Lecornu e admitiu manter “as portas abertas” a uma possível participação dos Republicanos num futuro executivo de coabitação. O primeiro-ministro demissionário convidou todos os partidos a uma reunião no Palácio de Matignon esta terça-feira para encontrar uma saída negociada, mas enfrentou logo de início a rejeição de Marine Le Pen e Jordan Bardella, líderes da União Nacional (antiga Reunião Nacional), que defenderam a convocação imediata de novas eleições legislativas.
De acordo com o mesmo inquérito da Odoxa-BackBone, 60% dos franceses apoiam uma nova dissolução da Assembleia Nacional, enquanto apenas 20% acreditam que a crise pode ser resolvida com a nomeação de um novo primeiro-ministro. Apesar das críticas centradas em Macron, os inquiridos também atribuem responsabilidades à coligação de centro-direita (85%) e aos partidos da oposição (77%) pela atual paralisia política.













