Até ao final do século, Lisboa vai subir três graus de temperatura: segundo as projeções climáticas regionais, Lisboa poderá registar até 50 dias por ano com temperaturas superiores a 35°C até meados do século, caso se mantenham os atuais níveis de emissões, revelou esta segunda-feira o ‘Diário de Notícias’.
A conclusão é de um grupo de peritos nas áreas do urbanismo e sustentabilidade, que delineou um plano para ‘arrefecer’ a capital, que propõe uma transformação estruturada até 2050, com metas parciais a cada década. “Estamos em constantes ondas de calor e estes dias têm sido terríveis, com um mês de julho de semanas muito quentes. Até ao final do século, Lisboa vai subir três graus. Será uma zona mais próxima da realidade climática de um país do Norte de África”, sublinhou o arquiteto Diogo Lopes Pereira, que integrou o grupo de trabalho que colaborou com a Câmara Municipal de Lisboa.
Atualmente, a capital portuguesa tem cerca de 10.022 hectares de área urbana, dos quais 4 mil hectares são classificados como espaço verde. Porém, há assimetrias profundas: áreas como a zona Oriental, Olivais ou Benfica têm rácios muito distintos em termos de cobertura vegetal, o que se reflete em desigualdades térmicas, ambientais e sociais. De acordo com os especialistas, as ilhas de calor urbano, causadas pela compactação morfológica e uso intensivo de materiais urbanos impermeáveis, são um dos fenómenos mais críticos e representam uma ameaça direta à saúde pública.
“Tal fenómeno, associado à elevada taxa de impermeabilização do solo urbano e à escassez de espaços verdes funcionais em determinadas zonas, está a criar um ambiente urbano desconfortável, especialmente para os grupos socialmente mais vulneráveis e faixas etárias mais sensíveis”, indicaram os especialistas, que delinearam estratégias como a criação de infraestruturas ecológicas, inspiradas no conceito de “cidade-esponja”, que inclui soluções para retenção de águas pluviais, arrefecimento urbano e promoção da biodiversidade. A abordagem implica também a revisão dos regulamentos urbanísticos, incentivos à inovação verde e novos critérios para construção e reabilitação urbana.
“As casas não estão preparadas, nem para o calor, nem para o frio. Não há corte térmico. Sabemos que existem fundos europeus e os municípios devem investir no edificado”, referiu o arquiteto, lembrando que o calor “está diretamente ligado ao aumento de doenças respiratórias e à mortalidade, sobretudo entre populações vulneráveis”.
Há pequenas ações que vão ter de contar com a intervenção dos bairros e envolvimento da população. “É a população quem vai manter os seus espaços”, frisou. “Pequenas ações, como remover alcatrão e substituí-lo por materiais permeáveis, plantar mais árvores, redesenhar praças ou jardins, podem baixar significativamente a temperatura do espaço envolvente”, lembrou.
Lisboa já registou avanços neste particular, mas apesar de existirem já estratégias, estas “ainda não estão a ser implementadas de forma efetiva”, sobretudo devido à incapacidade de articular os planos existentes com a prática quotidiana das instituições urbanas. De acordo com os especialistas, há um desfasamento entre o discurso e a execução. O grupo de especialistas vai reunir-se no final deste mês com a autarquia para discutir as soluções apresentadas.













