Jovem descobre um naufrágio numa praia escocesa: mal podia imaginar tratar-se de uma ‘relíquia’ com 250 anos da Guerra da Independência dos EUA

Construído em 1749 em Chichester (Inglaterra), o navio era originalmente conhecido como ‘HMS Hind’, uma fragata de 24 canhões que serviu na Marinha Real Britânica

Francisco Laranjeira
Agosto 3, 2025
17:00

Uma forte tempestade de inverno atingiu a ilha escocesa de Sanday em fevereiro do ano passado, altura em que um estudante ‘tropeçou’ em várias vigas de madeira peculiares que emergiam das dunas numa praia local.

Sanday, a terceira maior das Ilhas Órcades, já foi conhecida como o “berço dos naufrágios” da Escócia. No seu litoral de 50 quilómetros quadrados já foram descobertos cerca de 270 naufrágios. Mas este era especial, revelou a publicação ‘Smithsonian Magazine’: os moradores locais rapidamente entraram em ação após a descoberta do menino, usando tratores para escavar 12 toneladas de madeira de carvalho enterrada sob a areia.

As vigas faziam parte da estrutura de um antigo navio de madeira, embora ninguém soubesse a identidade da embarcação. Os destroços rapidamente se tornaram objeto de fascínio entre a comunidade de 500 pessoas da ilha, que tem uma longa história de pesca comercial e navegação.

De acordo com a ‘Dig It!’, uma organização que apoia a arqueologia escocesa, este naufrágio é uma das cinco maiores descobertas arqueológicas da Escócia em 2024. Além deste, as descobertas destacadas pela ‘Dig It!’ em 2024 incluíram ferramentas pré-históricas de carvão e pedra, uma pulseira celta e uma ponta de lança picta.

“Eu considerá-lo-ia um navio de sorte, o que é estranho dizer sobre um navio que naufragou”, disse Ben Saunders, arqueólogo marinho sénior da ‘Wessex Archaeology’, empresa de pesquisa contratada para ajudar a identificar o naufrágio, citado pela ‘Associated Press’. “Acho que, se tivesse sido encontrado em muitos outros lugares, não teria necessariamente aquele impulso comunitário, aquele desejo de recuperar e estudar aquele material, e também o espírito comunitário para fazê-lo.”

Agora, mais de um ano após a descoberta, a ilha finalmente tem as respostas há muito procuradas. Os arqueólogos usaram a dendrocronologia, o estudo dos anéis das árvores, para determinar que o navio foi construído em meados do século XVIII com madeira proveniente do sul da Inglaterra. Usando uma lista de naufrágios históricos perto da ilha, os investigadores identificaram-no como um navio de 500 toneladas chamado ‘Earl of Chatham’.

“Se se remover aqueles que são do norte da Europa em vez dos britânicos, remover os destroços que são muito pequenos ou que operam no norte da Inglaterra, fica-se reduzido a duas ou três hipóteses… e o ‘Earl of Chatham’ é o último que resta”, referiu Saunders.

Construído em 1749 em Chichester (Inglaterra), o navio era originalmente conhecido como ‘HMS Hind’, uma fragata de 24 canhões que serviu na Marinha Real Britânica. Nos seus primeiros anos, o ‘Hind’ esteve estacionado na Jamaica, que era uma colónia britânica na época. Posteriormente, foi usado nos cercos de Louisbourg e Quebec durante a Guerra Franco-Indígena.

Durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, o ‘Hind’ protegeu a carga britânica e ajudou a escoltar comboios de e para as colónias. Entre 1780 e 1781, a tripulação do navio “mostrou-se relativamente hábil na sua tarefa, intercetando pelo menos quatro corsários americanos”, escreveu o ‘Washington Post’.

O navio foi desativado em 1784 e vendido a um comerciante londrino, que mudou seu nome para ‘Earl of Chatham’. Durante quatro anos, a fragata foi um dos cerca de 120 navios londrinos que realizou expedições anuais de caça às baleias nas águas árticas ao redor da Gronelândia. Em 1788, a caminho do Ártico, o navio naufragou não muito longe da costa de Sanday. Acredita-se que todos os 56 membros de sua tripulação tenham sobrevivido.

Hoje, a madeira do navio é preservada num tanque de água doce no Sanday Heritage Center, onde fica exposta aos visitantes. “A descoberta do naufrágio de Sanday é uma história rara e fascinante”, referiu Alison Turnbull, diretora de relações externas e parcerias da Historic Environment Scotland.

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