Itália enfrenta hoje (mais uma) forte onda de greves e protestos pró-Palestina que paralisam transportes e serviços

A Itália vive desde ontem um cenário de forte instabilidade social, com uma greve geral de 24 horas convocada pelos sindicatos CGIL e USB, que coincidiu com protestos em várias cidades e continua hoje, sábado, com manifestações em Roma e noutras localidades.

Pedro Gonçalves
Outubro 4, 2025
8:00

Itália vive desde ontem um cenário de forte instabilidade social, com uma greve geral de 24 horas convocada pelos sindicatos CGIL e USB, que coincidiu com protestos em várias cidades e continua hoje, sábado, com manifestações em Roma e noutras localidades.

A paralisação, que já foi declarada ilegal pelas autoridades italianas por não cumprir o aviso prévio de dez dias exigido por lei, foi convocada em resposta à interceção da Global Sumud Flotilla por Israel. A embarcação transportava cerca de 40 cidadãos italianos, incluindo parlamentares, e a operação desencadeou acusações de abandono por parte do governo italiano.

Greve geral afeta transportes, escolas e saúde
Os efeitos da greve sentiram-se em todo o país, afetando setores como transportes aéreos, ferroviários, marítimos, educação e saúde.

O aeroporto de Malpensa (Milão) registou atrasos e cancelamentos, enquanto a Trenitalia e a Italo anteciparam perturbações generalizadas nos serviços ferroviários. Em Milão, a rede de metro avisou os passageiros para esperarem interrupções durante todo o dia.

No porto de Génova, trabalhadores portuários prometeram bloquear carregamentos ligados a Israel, aumentando o risco de paralisação de uma das principais infraestruturas portuárias da Europa.

Segundo a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ENAC), apenas os voos previstos entre as 07h00 e as 10h00 e entre as 18h00 e as 21h00 estão garantidos, assim como a maioria das ligações com Sicília, Sardenha e pequenas ilhas italianas. Fora destes horários, verificaram-se atrasos e cancelamentos significativos.

Roma no centro das manifestações
Em Roma, milhares de manifestantes concentraram-se desde sexta-feira na Piazza dei Cinquecento, junto à estação de Termini, para um protesto que seguiu até ao Ministério das Infraestruturas e Transportes. As autoridades estimaram até 70 mil pessoas presentes na marcha.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido emitiu um aviso para os seus cidadãos que viajam para Itália, alertando que novas manifestações de grande dimensão podem ocorrer também hoje, sábado, na capital italiana.

Protestos semelhantes tiveram lugar em Milão, Bolonha, Florença e Nápoles, onde se registaram cortes de estradas e atrasos nos transportes públicos.

Sindicatos acusam governo de abandonar cidadãos
Em comunicado, a CGIL classificou a operação israelita contra a flotilha como “um ato de extrema gravidade”.

“A agressão contra navios civis que transportavam cidadãos italianos é não apenas um crime contra pessoas indefesas, mas também a demonstração de que o governo italiano abandonou trabalhadores italianos em águas internacionais, violando princípios constitucionais”, afirmou a central sindical.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, acusou os sindicatos de explorarem politicamente o episódio da flotilha.

“O comboio não trouxe qualquer benefício ao povo palestiniano, mas trouxe muitos incómodos ao povo italiano”, disse, à margem da cimeira da União Europeia em Copenhaga.

Ironizando com a escolha da data, Meloni acrescentou: “Eu teria esperado que não convocassem uma greve geral a uma sexta-feira, porque um fim de semana prolongado e uma revolução não combinam.”

O ministro dos Transportes, Matteo Salvini, também condenou a paralisação, anunciando a possibilidade de uma injunção para a travar.

“Não vamos permitir que a CGIL e os extremistas de esquerda mergulhem Itália no caos. Não toleraremos greves gerais repentinas”, escreveu numa publicação na rede social X.

Mais paralisações à vista
O cenário de protestos não deverá terminar este fim de semana. Até ao final do ano, estão já agendadas 40 greves setoriais e nacionais, incluindo paralisações em outubro nos aeroportos de Roma Fiumicino, Pisa, Florença e Milão Linate.

O Ministério dos Transportes de Itália mantém atualizado um calendário oficial de greves, onde os viajantes podem consultar previsões e avisos para os próximos meses.

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