Irão: Quem mais ganha com morte de Raisi é o filho do líder supremo do Irão (e não Israel), apontam especialistas

O helicóptero que transportava o presidente do Irão, Ebrahim Raisi, caiu nas montanhas do norte do país, exacerbando as já intensas discussões sobre a sucessão do líder supremo, Ali Khamenei, que completou 85 anos a 19 de abril. A morte de Raisi, considerado um dos favoritos para suceder a Khamenei, aumentou a especulação sobre quem será o próximo líder supremo.

Executive Digest com Lusa
Maio 21, 2024
13:05

O helicóptero que transportava o presidente do Irão, Ebrahim Raisi, caiu nas montanhas do norte do país, exacerbando as já intensas discussões sobre a sucessão do líder supremo, Ali Khamenei, que completou 85 anos a 19 de abril. A morte de Raisi, considerado um dos favoritos para suceder a Khamenei, aumentou a especulação sobre quem será o próximo líder supremo. segundo especialistas e politólogos, esta é a oportunidade do filho do atual líder supremo ganhar destaque a firmar-se como sucessor.

Antes do acidente, Raisi era visto como um candidato ideal para continuar o legado do ayatollah, não pela sua popularidade ou carisma, mas pela sua lealdade absoluta a Khamenei. “Ele era um recipiente vazio cuja única missão era transmitir a visão de Khamenei”, explica Sajjad Safaei, investigador do Instituto Max Planck de Antropologia Social, ao jornal El Confidencial. Raisi era altamente estimado pela ala conservadora do regime.

Com Raisi fora de jogo, os analistas voltam atenções para Mojtaba Khamenei, filho de 54 anos do líder supremo. Mojtaba, um clérigo de médio escalão, tem trabalhado discretamente nos bastidores e manteve-se fora das disputas internas do regime. “Para sobreviver no peculiar jogo de tronos iraniano, o mais importante é não se destacar demasiado”, observa Safaei.

Mojtaba é um colaborador próximo do seu pai e tem fortes ligações com o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (Pasdaran), a força militar mais poderosa do Irão. “Os Pasdaran terão muito a dizer sobre a sucessão, já que ganharam poder político e económico sob a proteção de Khamenei”, afirmou o analista político Daniel Bashandeh ao El Confidencial.

Apesar das especulações, Bashandeh ressalva que ainda é cedo para identificar candidatos claros. “Hoje em dia, não há nenhum candidato claro e tudo são especulações, inclusive sobre Mojtaba”, esclareceu. Dois membros da Assembleia de Peritos, o órgão deliberativo de 88 membros responsável por eleger o líder supremo, já declararam que Khamenei se opõe à ideia de que seu filho o suceda.

Segundo Safaei, a persistência da ideia de Mojtaba como sucessor está enraizada na história monárquica do Irão. “A mentalidade de sucessão hereditária ainda está presente na mente de muitos”, explicou. No entanto, Bashandeh sublinha que este tipo de regime “não se alinha com a República Islâmica”, cuja oposição às dinâmicas monárquicas é central no seu discurso.

Críticos de Khamenei têm acusado o regime de preparar o caminho para que Mojtaba substitua o pai. Há quase 20 anos, o líder reformista Mehdi Karroubi escreveu ao líder supremo para limitar a influência de Mojtaba. Em 2022, Mir Hossein Mousavi, sob prisão domiciliária, criticou publicamente o plano de sucessão. “Será que as dinastias de 2.500 anos voltaram para que um filho suceda ao pai?”, questionou.

A queda do helicóptero e a morte de Raisi vêm adicionar instabilidade a um regime já sob pressão devido a protestos, uma economia debilitada e tensões com Israel. A substituição de Raisi como presidente deve ocorrer dentro de 50 dias, conforme estabelece a constituição iraniana. “O que está em jogo é a própria credibilidade do sistema político”, alerta Bashandeh, acrescentando que uma transição efetiva é essencial.

Embora ainda seja cedo para prever quem será o próximo presidente do Irão, é certo que o próximo líder será controlado pelo regime. A recente eleição para a Assembleia de Peritos mostrou a exclusão de figuras reformistas e a continuidade do controlo clerical. A verdadeira prova para o regime virá com a morte de Khamenei, quando as dinâmicas de poder ocultas se tornarão visíveis.

“Deverão considerar a nova realidade do Irão: a falta de legitimidade entre as novas gerações e uma crise de inflação económica. Sem abordar estes fatores, a crise política apoderar-se-á da República Islâmica”, conclui Bashandeh.

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