Inteligência Artificial: Uma questão humana, acima de tudo

Opinião de Solange Sobral, Partner, EVP da CI&T

Executive Digest
Junho 30, 2023
12:00

Por Solange Sobral, Partner, EVP da CI&T

A Inteligência Artificial (IA) é um avanço tão importante que todos devemos assumir a responsabilidade da sua supervisão e impacto – é a única forma de nos assegurarmos de que funciona para o benefício da sociedade.

Dos smartphones às redes sociais, o século XXI tem-nos oferecido uma explosão de tecnologia que mudou para sempre as nossas vidas. Contudo, hoje há uma tecnologia – a IA generativa – que se destaca e parece estar a tornar-se a ferramenta mais transformadora que o mundo já viu.

Em janeiro, o ChatGPT tornou-se na aplicação de consumo com o crescimento mais rápido da história, alcançando 100 milhões de utilizadores em apenas dois meses. A Microsoft apressou-se a integrar a IA no seu motor de pesquisa Bing, e a Google até declarou um ‘Código Vermelho’ interno para lançar rapidamente o seu próprio serviço de IA. Com o aumento de todos estes desenvolvimentos, o mesmo acontecerá com a dimensão do mercado da IA. A Statista prevê que o seu valor aumente em quase 20 vezes durante esta década, de cerca de $208 mil milhões em 2023 para quase $2 biliões em 2030. Vivemos tempos incríveis – mas como irá tudo isto impactar as nossas vidas?

À medida que vemos a IA a expandir-se mais na sociedade, crescem medos relacionados com a sua utilização, precisão e implicações. Antes de poder ser amplamente aceite, devemos implementar regulação que garanta que a sua utilização continua a ser segura.

A próxima etapa do desenvolvimento da IA deve também considerar os conceitos de ‘certo’ e ‘errado’. Para ser utilizada de forma segura e ampla, todos temos de priorizar a ética quando estamos a construir produtos de IA.

As implicações éticas da IA

Ao longo da história, bem como nos dias de hoje, conseguimos encontrar inúmeros exemplos de erros humanos na criação de uma sociedade inclusiva que valoriza a diversidade e é guiada pela ética. Infelizmente, estas falhas estão agora a contaminar os resultados das tecnologias de IA – porque os seus modelos são alimentados por conjuntos de dados distorcidos, ou que não são totalmente representativos, selecionados pelos grupos de pessoas que a IA serve, que naturalmente podem ser parciais.

Parte do problema é que as empresas não introduziram controlos para este enviesamento da IA aquando do desenvolvimento do seu software, tal como estão agora a fazer com a cibersegurança. Para além disso, assim que uma ferramenta demonstra parcialidade, descobrir a sua origem é muito difícil e em alguns casos impossível – a menos que se possa regressar ao início e a redesenhá-la corretamente, com os dados e a arquitetura de base adequados.

Os impactos desta parcialidade no mundo real são um enorme desafio para a sociedade, juntamente com outras questões, como o plágio e as infrações dos direitos de autor. Receia-se que desenvolver a IA desta forma tão rápida possa aumentar as desigualdades, violar os direitos de privacidade, aumentar o desemprego e permitir atividades maliciosas e pouco éticas.

Felizmente, os programadores dos vários produtos de IA parecem já estar a trabalhar no sentido de corrigir potenciais problemas deste género. Se conseguirmos ultrapassá-los de forma segura, poderemos finalmente focar-nos nos benefícios da tecnologia.

É importante relembrar que muitas outras disrupções tecnológicas – como a Internet, os smartphones, os dados científicos aplicados para entender o comportamento dos consumidores, a Cloud, etc. – trouxeram ameaças similares, e nós, enquanto sociedade, temos vindo a aprender a como tirar partido destas revoluções para o bem.

O poder positivo da IA

A nossa sociedade está-se a tornar cada vez mais complexa, pelo que precisamos de ferramentas igualmente sofisticadas. Quando utilizada corretamente, a IA poderá tornar-se no catalisador de melhorias públicas a nível global.

Segundo um novo relatório da McKinsey e da Universidade de Harvard, poderia melhorar as operações clínicas da indústria da saúde e impulsionar a sua qualidade e a segurança através da elaboração de planos de tratamento e medicação personalizados que transformariam os cuidados aos pacientes. As eficiências impulsionadas pela IA poderiam até ajudar a indústria a poupar milhões de milhares de euros por ano.

Por outro lado, a Insider Intelligence estimou que, no setor financeiro, a IA pode reduzir os custos da indústria em $447 mil milhões em 2023 através da automação de tarefas, deteção de fraude e conhecimentos personalizados sobre a gestão de saúde.

Ainda de outra perspetiva, e apesar de haver quem esteja preocupado com o possível papel da IA no plágio académico, implementar os seus algoritmos no sistema educativo permitiria analisar os dados dos estudantes e adaptar-se aos seus métodos de aprendizagem, dando-lhes feedback e recomendações específicas para as suas necessidades individuais, e possibilitar assim que atingissem todo o seu potencial.

Podemos fazer isto em todas as profissões e aumentar a nossa qualidade de vida; mas podemos também descobrir coisas novas que atualmente nem conseguimos imaginar. É precisamente essa a promessa desta tecnologia.

A nossa responsabilidade coletiva

Estamos a viver os excitantes primórdios de uma tecnologia que pode trazer melhorias espetaculares à forma como vivemos e trabalhamos – mas estamos, também, à beira do precipício. Este é o momento exato para nos assegurarmos que nós, humanos, somos os detentores e responsáveis pela IA, e não o contrário.

Para isso, precisamos de uma maior participação de todas as pessoas interessadas no futuro da humanidade… ou seja, de todos nós. O potencial da IA é enorme, mas para o alcançar é preciso imaginação e colaboração; e as empresas podem começar por liderar conversas sobre como tirar partido dos desenvolvimentos da IA para o bem comum.

Em última instância, a IA generativa é “apenas” a mais recente adição a um vasto arsenal de tecnologias preparadas para auxiliar os humanos a resolverem os seus problemas. Cabe-nos a nós – líderes de empresas, indústrias, governos, e outros – tomar medidas proativas que reduzam os riscos da sua utilização indevida e consequências não intencionais. Quando esta tecnologia é utilizada de forma justa e responsável, traz-nos o poder para mudar a vida das pessoas para melhor. E existirá realmente uma melhor missão empresarial do que essa?

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