Foi pela zona da costa portuguesa, por entre a Arte Xávega e o património industrial, que a Executive Digest foi conhecer a vila de Vagos, onde encontramos uma empresa com história na terra e um dos grandes empregadores da região.
São principalmente conhecidos pelos produtos na área da detergência, com a Mistolin a continuar a ser o ex-líbris da marca e um convidado regular na casa dos portugueses. No entanto, o Grupo MSTN é muito mais do que esta área de actividade, e contam actualmente com mais de 40 empresas em vários sectores, o que mostra que quanto mais “pernas” tiver a mesa, mais estável ela é.
E foi em Vagos que nos encontramos com Óscar Neto, CEO do Grupo MSTN. Natural da terra, o empresário define-se como um homem que gosta de desafios, e o portefólio do grupo assim o espelha, com o seu cunho em vários projectos diferentes.
Óscar Neto desde cedo que foi pegando nos negócios da família. Os seus pais tinham já negócios nas áreas de construção civil, imobiliário, comércio, serviços de mediação de seguros, e o empresário arregaçou as mangas e quis vingar por si, assumindo várias empresas e olhando também para os desafios fora de Portugal.
Enquanto empresário, um dos maiores desafios do seu percurso profissional surgiu em 2001, quando foi convidado para entrar no capital social da Mistolin, empresa que já existia, mas que atravessava diversas dificuldades devido a problemas de gestão.
«Nessa altura foram colocadas as condições para entrarmos no capital social da empresa, sendo que uma delas é que seriamos nós a gerir a empresa. Inicialmente entramos com 33%, depois passamos a 50, 90, e hoje temos a totalidade do capital social da Mistolin», explica Óscar Neto.
Foi aqui que começou uma nova história para a Mistolin, onde Óscar Neto teve um papel fundamental a ajudar a empresa a reerguer-se, como ele próprio conta em entrevista.
E que empresa é esta que se transformou num grupo?
Inicialmente a Mistolin estava apenas dedicada à área doméstica, especificamente aos produtos de detergência, mas logo em 2004 arrancamos para o segmento profissional.
A partir daí nasceram um conjunto de empresas, porque eu via oportunidades de negócio, actividades que a Mistolin necessitava internamente. Foi a partir daí que nasceram empresas como a MPlastic, a MAssistance, a Mistolin Solutions, que são distribuidores exclusivos da Mistolin Profissional, e empresas comandadas por nós.
Depois veio o meu prazer e ambição de fazer negócios fora do país, que me levou a tentar negócios em muitas localizações. Neste momento temos uma fábrica em Moçambique, já estivemos em Angola, na Argélia, Marrocos.
No entanto, onde as coisas correm bem e me sinto em casa é na China, é o nosso maior mercado de exportação.
Inicialmente foi muito difícil entrar no mercado, era um país que eu visitava com muita regularidade para comprar, e em determinada altura achei que devia lá vender. A maior parte das pessoas achava-me louco, e realmente não foi nada fácil.
Comecei a tentar e vender em 2009 e fiz a primeira venda em 2015.
Na China só estamos no mercado online e com produtos domésticos, e estamos neste momento a tentar introduzir a gama industrial e outras gamas de produtos com outras marcas, nomeadamente na área automóvel.
Este mercado representa actualmente cerca de 15% da facturação total do grupo.

Actualmente estão presentes fisicamente em que países?
Estamos em Moçambique, Espanha e Cabo Verde, todas as outras empresas estão em Portugal.
E o centro de competências está em Vagos…
Todas as nossas empresas são controladas através de uma empresa de serviços partilhados que temos em Vagos. Todas as áreas, desde a administrativa à financeira, são controladas a partir daqui.
O porquê de estarmos aqui é simples, estamos aqui porque eu nasci aqui. Sou uma pessoa da terra, tenho o gosto e
o prazer de fazer alguma coisa na minha terra.
A responsabilidade social é algo que dão importância?
Temos muitas famílias aqui empregadas e tentamos ajudar, sempre que possível, em várias frentes. A parte social para nós está sempre muito presente.
Somos um empregador grande na região.
Não tenho a ambição nem de ser rico nem de ter uma grande empresa, e desde muito cedo procurei estruturar os negócios e profissionalizar a sua gestão, para que os negócios sigam comigo ou sem mim. O importante é deixar uma estrutura organizada que seja produtiva, que crie valor para todos, e isso faz com que estas empresas vão nascendo com este sentido para o grupo.
Sou muito mais emocional que racional, e por isso também me rodeio de pessoas muito interessantes com quem tenho o privilégio de partilhar a gestão dos negócios, que colocam muitas vezes essa racionalidade que o negócio precisa, pois eu às vezes vou mais pelo coração.
As pessoas que trabalham connosco não são números, são pessoas, que têm problemas na vida, e isso, para mim, é a nossa grande preocupação.
Vocês criaram um ecossistema completo no grupo. Qual o negócio mais rentável?
Tentamos fazer ao máximo a verticalização no grupo. Tenho alguma dificuldade em dizer especificamente qual a área mais rentável, porque há muitas sinergias que aproveitamos dentro do grupo.
Essa resposta teria de ser isenta, ou seja, se eu quiser faço um retrato muito bom ou muito mau das empresas do grupo, porque há muita dependência umas das outras.
Mesmo numa análise isolada de empresas, não saberia dizer qual é, neste momento, a mais rentável do grupo.
Uma empresa quando está numa fase inicial, é sempre apoiada pelas outras empresas do grupo, e essa é uma das nossas funções, porque aquela empresa que hoje é pequena à dimensão do grupo, pode vir a ser a maior da estrutura, e é com este espírito que eu devo olhar para os negócios.
Mas o grupo ainda é muito associado aos detergentes Mistolin. Podemos dizer que é essa a maior área de negócio?
O mercado associa porque é efectivamente a maior empresa do grupo, que mais factura. Agora é a mais importante, provavelmente daqui a 10 anos não será, estamos a fazer muitas coisas em outras áreas, e muito pode mudar.
E se me perguntar se, das empresas do grupo, qual será a maior, também não sei responder, porque os negócios dependem cada vez menos de mim, eu não consigo estar em todo o lado, e um negócio que hoje tem um potencial brutal, amanhã pode ser ultrapassado.
Mas o segredo do potencial de um negócio está em ter pessoas capacitadas, pessoas motivadas, com capacidade empreendedora, necessário para arrancar com qualquer negócio.
Iniciar um negócio é um desafio. A maior parte das pessoas quando inicia um negócio não sabe onde se está a meter, nem eu tinha, porque no primeiro dia é uma alegria e no segundo já estamos a ter problemas.

E no grupo apostam na formação?
Muito. E os resultados são fantásticos.
Além de capacitarmos as pessoas que estão connosco, criam-se laços cada vez mais fortes entre os colaboradores. Se não fosse isso, certamente não se relacionariam como relacionam.
Capacitar não é só formação, é muito mais que isso, é o espírito que se cria.
Para além das áreas de negócio mais conhecidas, têm também uma aposta na panificação!
Quando iniciamos o negócio de panificação em Cabo Verde tínhamos ainda um negócio da área na Venezuela. Posso dizer-lhe que estivemos também inicialmente para arrancar com o negócio em Moçambique, e estive a um passo também de iniciar na China.
Relativamente à Venezuela, acabamos por vender o negócio foi porque o sócio teve problema pessoal e entendemos que seria a melhor opção. A vida é feita de ciclos, ninguém está sempre em cima.
Eu não sou de euforias, nem de lamentos. As pessoas não me vão ouvir dizer que está tudo fantástico, nem que está tudo uma desgraça. Se está mau temos de corrigir, se está bem temos de aproveitar a onda.
Quando corre mal temos de reestruturar, definir caminhos e seguir em frente. Percebemos bem isso com os desafios que passamos durante a pandemia de Covid-19.
E como surgiu a opção por Cabo Verde?
Cabo Verde surgiu porque eu comecei a ir para o país vender Mistolin, e ao estar naquele mercado percebi que quem montasse lá uma padaria que teria muito sucesso… e assim foi.
Iniciamos com a primeira, e neste momento temos 10 padarias e já lá estamos há 10 anos.
É um negócio totalmente diferente do que temos aqui. Além dos negócios da Mistolin, dentro desta verticalização, sempre fui apologista que devíamos estar em mais do que uma área de negócio.
Alguém me disse um dia que uma mesa com três pernas já é bom, mas se tiver quatro, maior estabilidade terá a mesa. E é assim que eu entendo os negócios. Hoje os químicos podem estar bem, o alimentar pode estar mal, mas daqui a 10 anos pode ser totalmente ao contrário.
Anteriormente falou da Covid-19. Devido aos vossos produtos, assistiram a um crescimento do negócio?
Houve muitas empresas que começaram a comercializar produtos que se adequavam ao combate à pandemia, e que tiveram picos de vendas brutais… e depois quedas.
Felizmente não entramos em euforias, fizemos o nosso caminho, soubemos estar com os nossos clientes, soubemos repartir o que tínhamos e não ganhar dinheiro esquecendo os princípios, e essa estabilidade permitiu-nos em 2020 crescer em relação a 2019, em 2021 crescer, em 2022 crescer, e em 2023 também esperamos crescer.
Qual é a responsabilidade de um líder numa empresa em crescimento?
A responsabilidade é grande. Se corre mal sou eu o responsável, e quando corre bem tenho uma equipa fantástica que fez com que as coisas corressem bem, é assim que eu vejo. Essa responsabilidade carrego-a na medida certa.
E quais as características imprescindíveis num líder?
Aquela que eu acredito piamente é que devemos liderar pelo exemplo, temos que lá estar. Em última instância quando alguém me diz que não pode fazer algo, eu digo “eu faço”.
Liderar pelo exemplo é das características mais importantes que um líder deve ter.

Portugal é um país atractivo para os empresários?
Como disse antes, as nossas empresas estão aqui porque somos daqui, somos portugueses. Podemos queixar-nos muito, o ser humano é um eterno satisfeito, podemos analisar coisas que são melhores e piores em Portugal, mas este é o nosso país.
Acredito que há coisas que podiam ser feitas de forma diferente. Eu acho que os empresários são sempre vistos como aquele tipo de pessoa que anda sempre a tentar enganar o Estado e os funcionários para terem melhores condições de vida, e essa mentalidade existe porque efetivamente não há fumo sem fogo. No entanto, acredito que cada vez é menos assim.
No que respeita às nossas políticas económicas, acho que muita coisa tem sido feita, mas muito mais devia ter sido, para que não haja essa imagem.
Em muitas das políticas que são implementadas, o Estado é o primeiro a prevaricar.
Quais são os projectos que estão agora escritos no seu caderno para o futuro?
Inovação, desenvolvimento, novos materiais, estar atento ao que está a acontecer à nossa volta.
Seguramente que vai estar aí muito negócio para ser feito.
As empresas em que estamos a participar têm todas projectos interessantes, e como esses há muitos no nosso país. No entanto, há muitos projectos fantásticos, o problema é levá-los para a frente. Acho que esta política que temos internamente no grupo facilita bastante o descolar de uma start-up, a todos os níveis.
Infelizmente muitos vão morrer, porque muitos não têm apoio. Nas empresas que se juntam a nós, uma das condições é abdicarem das áreas de gestão, da parte financeira e legal, podendo dedicar-se ao que verdadeiramente sabem.
Esta é a minha visão, é isto que leva a que as empresas tenham sucesso.














