Indústrias do Norte de Portugal vão ser mais afetadas pelas tarifas de Trump

As novas tarifas alfandegárias impostas pelos Estados Unidos à União Europeia, que entram em vigor já em agosto, terão impacto significativo nas indústrias portuguesas, em especial nas localizadas na Região Norte.

Revista de Imprensa
Julho 29, 2025
10:13

As novas tarifas alfandegárias impostas pelos Estados Unidos à União Europeia, que entram em vigor já em agosto, terão impacto significativo nas indústrias portuguesas, em especial nas localizadas na Região Norte. A taxa de 15% sobre diversos produtos europeus ameaça setores estratégicos como armamento, calçado, vestuário, vinhos e ourivesaria, muitos dos quais altamente dependentes das exportações para o mercado norte-americano.

A indústria das armas é uma das mais expostas. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, Portugal exportou em 2024 cerca de 84 milhões de euros em armas e munições, dos quais 60 milhões (71%) tiveram como destino os EUA. A maior parte da produção está concentrada em Viana do Castelo, na unidade da Browning. O impacto será imediato. No setor do calçado, a preocupação prende-se com a concorrência internacional. “Não sabemos ainda como serão taxados os principais concorrentes — China, Vietname, Índia e Brasil — que dominam 70% do mercado global”, alerta Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS. Apesar de já pagarem 10% de tarifas, a subida para 15% representa um agravamento.

No entanto, nem todos veem a nova política comercial como negativa. César Araújo, da ANIVEC (Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção), afirma que o setor até poderá beneficiar: “As taxas aduaneiras que enfrentávamos variavam entre os 17% e os 32%. Agora serão uniformemente de 15%. Além disso, países como Turquia, Egito ou Marrocos, que antes estavam isentos, passam também a ser tributados.”

Mais cético está Mário Machado, da ATP (Associação Têxtil e Vestuário de Portugal), que considera o acordo um mal necessário: “Algumas empresas vão ver os seus clientes pagar mais, outras menos. Não é um bom acordo, mas foi uma solução inteligente da Comissão Europeia para evitar uma guerra comercial.”

O setor vitivinícola também está entre os mais afetados. Os Estados Unidos são o segundo maior destino dos vinhos portugueses e o quinto do Douro, incluindo o vinho do Porto. Só no último ano, a região do Douro exportou 36 milhões de euros para o mercado norte-americano. A ourivesaria e relojoaria não escapam: “Estamos a falar de produtos de luxo. Se um Rolex de 20 mil euros passa de mil para três ou quatro mil euros de taxas, isso terá impacto direto nas vendas”, lamenta João Faria, presidente da Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal.

Face à situação, o Governo português ativou o programa “Reforçar”, criado para mitigar os efeitos das tarifas impostas desde abril. Até agora, mais de 16.500 empresas pediram apoio. Segundo o Ministério da Economia e da Coesão Territorial, 14 mil candidaturas foram submetidas às linhas BPF Invest EU, num total de 3,2 mil milhões de euros — dos quais 2,5 mil milhões já aprovados e 1,6 mil milhões pagos. Foi ainda lançada uma linha específica para PME exportadoras, com 2600 candidaturas e um montante de 1300 milhões de euros, dos quais 600 milhões já aprovados.

A nível europeu, o acordo negociado entre Ursula von der Leyen e Donald Trump dividiu os líderes. O chanceler alemão Friedrich Merz defendeu o entendimento por evitar “uma escalada desnecessária”, enquanto o francês François Bayrou criticou-o duramente, considerando-o uma “submissão” da Europa. Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, mostrou apoio “sem entusiasmo”. Mais duro foi Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, que declarou: “Trump comeu Ursula von der Leyen ao pequeno-almoço.” António Costa, presidente do Conselho Europeu, foi dos poucos a defender o pacto sem reservas: “Oferece às empresas a certeza de que precisam.”

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