Este domingo, a partir das 10h30, está marcada uma ação de protesto na praia de Melides, no concelho de Grândola, em defesa do litoral alentejano. O protesto coincide com o final da UltraMaratona Atlântica (UMA), uma corrida de resistência que liga Troia a Melides ao longo de 45 quilómetros por uma das faixas costeiras mais extensas e outrora preservadas da Europa.
Sob o lema “Pelo direito ao litoral, à costa, ao território”, a iniciativa pretende alertar para o impacto de megaprojetos turísticos e imobiliários que, segundo os organizadores, estão a ameaçar gravemente o equilíbrio ecológico, a biodiversidade, os ecossistemas dunares e o acesso público ao mar naquela região.
A organização da ação denuncia o que considera ser uma “invasão de investimentos predadores” nos últimos anos, promovidos por consórcios internacionais “sem rosto” e que atuam de forma opaca, com a conivência de sucessivos executivos camarários e o apoio ou silêncio de vários partidos ao nível nacional.
Os críticos destes projetos apontam ainda a forma como o avanço da construção de resorts e empreendimentos turísticos de luxo tem contribuído para a escalada nos preços da habitação, dificultando o acesso de residentes e trabalhadores locais a uma vida condigna e descaracterizando comunidades tradicionais. Também o acesso ao litoral tem sido dificultado, tornando partes da costa que antes eram de todos em espaços de acesso limitado ou condicionado.
A situação demográfica e o comércio local têm sido igualmente afetados, alertam os promotores do protesto, que chamam a atenção para a perda de identidade e de modos de vida associados a este território único.
No passado dia 3 de julho, foram chumbadas na Assembleia da República todas as propostas legislativas resultantes de uma petição com mais de 10 mil assinaturas que exigia a preservação do património natural da Península de Troia. A rejeição da iniciativa parlamentar foi recebida com profunda indignação pelos movimentos de defesa do litoral, que entendem que o Parlamento “voltou as costas ao interesse coletivo e ao ambiente”.
Para os organizadores, a recusa em legislar em defesa da costa é um sinal de que a mobilização cívica continua a ser essencial:
“Não vale baixar os braços. De contrário, serão destruídos habitats de largas dezenas de espécies ou será desrespeitado o equilíbrio natural das águas.”
A ação deste domingo terá lugar no bar da praia de Melides, com início marcado para as 10h30, logo após a chegada dos atletas da UltraMaratona Atlântica. Está previsto um momento de concentração e convivência, com conversas abertas, criação de cartazes, troca de ideias e momentos de lazer junto ao mar.
“Vamos conversar no bar da praia, imaginar como continuar a vivenciar este território e o que fazer para o proteger. E conviver, entre mergulhos, nesta costa que queremos de todos”, apela a convocatória.
O objetivo do protesto é, segundo os organizadores, reforçar a luta por um litoral livre, sustentável e acessível a todos — um “território vivo” que resista à lógica de privatização e especulação imobiliária.
A ação decorre num ambiente pacífico, mas com forte simbolismo, e pretende dar visibilidade às preocupações ambientais e sociais que, segundo os participantes, têm sido ignoradas em nome de interesses económicos.
Num verão marcado por um aumento da pressão turística sobre o litoral alentejano, esta manifestação quer afirmar uma visão alternativa: uma costa aberta, protegida, partilhada e respeitada, por um futuro sustentável num planeta vivo.














