Guia da poupança passo a passo: de criança à reforma, saiba os conselhos para uma vida sem sobressaltos

‘Doutor Finanças’ lançou, por ocasião do Dia Mundial da Poupança, um guia para o aconselhar onde e de que forma investir ao longo da vida

Executive Digest
Outubro 31, 2023
17:00

Poupar é planear, precaver e pensar o futuro, seja qual for o objetivo proposto: uma casa, uma viagem, uma empresa ou pura e simplesmente preparar a reforma. No entanto, em Portugal, há cada vez maiores dificuldades em atingir essas metas: a taxa de poupança nacional foi, em 2020, de 12,8% – desde então, tem vindo a baixar, em 2021 (10,9%) e 2022 (6,1%). No primeiro trimestre de 2023, os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) apontam para 5,9%: em termos de comparação, a média da zona euro em igual período é de 14,1%, de acordo com o Eurostat.

Mas há dicas e conselhos, de acordo com o ‘Doutor Finanças’, que lançou, por ocasião do Dia Mundial da Poupança, um guia para diversas fases de vida, para tornar a poupança mais acessível a boa parte das famílias.

Crianças: o início do percurso

Os bons hábitos devem ser ensinados desde cedo e poupar não é exceção. Assim, é importante que as crianças sejam sensibilizadas para a importância do dinheiro. É nesta fase que os pais podem começar a introduzir algumas estratégias e hábitos de poupança. E lembre-se de que tão importante como ensinar pelas palavras é fazê-lo através do exemplo.

Uma das dificuldades que os pais podem sentir é identificar o momento no qual devem introduzir a educação financeira na vida dos filhos. Lembre-se de que não precisa de começar por assuntos muito complexos. Um bom ponto de partida pode ser explicar de onde vem o dinheiro e para que é que serve.

Por volta dos 6 anos, pode trazer novas noções para cima da mesa. Introduza o conceito de preço e, através dele, mostre que existem produtos caros e baratos.

Outra boa estratégia para abordar a importância da poupança é recorrer a fábulas, contos e jogos infantis adequados à idade das crianças. Assim, de uma forma interativa, apelativa e divertida, os mais novos começam a ficar familiarizados com o tema.

Semanada, sim ou não? Alguns pais entregam semanadas ou mesadas para os filhos gerirem. Outros preferem dar dinheiro apenas quando é necessário. Como em tudo, cabe aos pais decidirem o que faz mais sentido no seu caso.

No entanto, atribuir uma semana ou uma mesada permite que os mais novos comecem desde cedo a colocar em prática os ensinamentos transmitidos pelos adultos. Numa fase inicial, a semanada pode ser a melhor opção, uma vez que o seu filho ainda não terá a capacidade de gerir o dinheiro a um prazo de 30 dias.

Em qualquer dos casos, é importante que juntos definam quais os encargos que passam a ficar a cargo do seu filho. Reforce que, apesar de tudo, o dinheiro que lhe está a ser entregue é fruto do trabalho dos pais e que a semanada/mesada pode ser ajustada a qualquer momento caso exista algum desequilíbrio no orçamento familiar, como o decorrente de uma situação de desemprego, por exemplo.

Quer o seu filho receba dinheiro regularmente quer receba esporadicamente (como no aniversário ou quando vai a casa dos avós), deve procurar que perceba a importância de poupar. Assim, deve adotar estratégias que estimulem e facilitem a poupança. Conhece o método “Gastar, Poupar, Ajudar”? No fundo, a ideia é criar três mealheiros com objetivos distintos.

No primeiro mealheiro, o do “Gastar”, coloca-se dinheiro para despesas imediatas. O segundo, tal como o nome indica, destina-se à poupança. É neste mealheiro que se vai juntado o dinheiro que se pretende usar num investimento futuro. Pode ser um brinquedo, uma peça de roupa ou outra coisa que o seu filho decida. O importante é incutir a importância de poupar com um objetivo. Por fim, no mealheiro “Ajudar”, coloca-se dinheiro para usar a favor de uma causa social, por exemplo. E como é que se faz a divisão do dinheiro pelos três mealheiros? Através do método 50-40-10, da seguinte forma:

• 50% do valor recebido vai para o mealheiro “Poupar”
• 40% vai para o mealheiro “Gastar”
• 10% vai para o mealheiro “Ajudar”

Já referimos como é importante ensinar e estimular as crianças a poupar. Ainda assim, os pais que tiverem essa disponibilidade podem dar uma ajuda nos primeiros tempos. Como? Investindo o dinheiro em soluções de poupança a favor dos filhos. Este dinheiro pode ser usado, mais tarde, para pagar as propinas da faculdade, a carta de condução ou comprar o primeiro carro.

Um exemplo disso são os certificados de poupança do Estado ou Certificados do Tesouro. Tanto um como o outro são instrumentos de dívida pública. O que é que isto significa? Que são usados pelo Estado para obter financiamento junto das famílias. No fundo, empresta dinheiro ao Estado e recebe juros por isso. Tanto um como outro têm capital garantido, ou seja, não corre o risco de perder o dinheiro investido.

Atualmente, os Certificados de Aforro (série F) exigem um investimento entre 100 e 50.000 euros e têm um período de permanência máximo de 15 anos. Os juros são mensais, com pagamento trimestral e taxa variável (calculada com base na Euribor a três meses). A isto, acrescem ainda prémios de permanência.

Nos Certificados do Tesouro deve entregar entre 1.000 euros e 1.000.000 de euros. O prazo máximo é de sete anos, com juros e pagamento anuais. As taxas são fixas para cada ano de aplicação, e a partir do terceiro ano de permanência acresce um prémio em função do crescimento médio real do Produto Interno Bruto (PIB).

Tanto os Certificados de Aforro como os do Tesouro podem ser subscritos em AforroNet ou num balcão dos CTT.

Adolescência: novo desafio

A chegada à adolescência traz consigo novos desafios. E embora os jovens ainda não sejam independentes dos pais, já é possível entregar-lhes mais responsabilidades. Saiba como podem poupar nesta fase da vida.

Para os jovens que tinham semanada, a adolescência pode ser uma boa altura para introduzir uma mesada. Quando conversar com o seu filho, explique a importância de saber gerir a quantia que lhe for entregue, uma vez que só lhe vai dar dinheiro uma vez por mês.

Mais uma vez, estabelecer objetivos de poupança é essencial. Uma parte do dinheiro pode ser usada para os gastos com as refeições escolares, outra para um investimento a longo prazo e uma última para gastos imediatos, mas não essenciais, como um jantar de aniversário de um amigo.

Já diz o ditado que “longe da vista, longe do coração”. Bem sabemos que não foi inventado para falar sobre finanças, mas usamo-lo para ilustrar que, por vezes, temos mais tentação para gastar quando temos o dinheiro disponível imediatamente. Assim, tal como noutras fases da vida, apostar na abertura de uma conta poupança pode ser uma boa ideia na adolescência.

Além de prevenir gastos desnecessários, põe o dinheiro a render. Aliás, sem precisar de ser exaustivo, esta é boa altura para explicar ao seu filho como funcionam as soluções de poupança.

Até aos 30 anos: o início da carreira

Há jovens que começam a trabalhar logo aos 18 anos. Outros, que se dedicam exclusivamente aos estudos, entram no mercado de trabalho por volta dos 21 ou 22 anos. Acima de tudo, é nesta fase que se começa a receber salários regularmente.

Quem já tiver saído de casa dos pais terá, presumivelmente, mais despesas. Ainda assim, muitos daqueles que ainda não conseguiram dar esse passo também procuram ajudar com alguns encargos domésticos, pelo que já acumulam mais gastos do que na anterior fase de vida.

Tudo começa com um orçamento. Esta é a melhor forma de ter a real noção de quanto é que normalmente gastamos por mês. A verdade é que, embora possamos saber em que áreas gastamos dinheiro, é fácil perder a conta ao peso que isso tem efetivamente na nossa carteira. Assim, é importante que faça estas contas. Desta forma, terá uma ideia muito mais clara sobre a poupança que pode obter se fizer alguns ajustes.

O orçamento que definir é o primeiro passo para perceber qual a parte do seu salário que pode destinar à poupança. Se os seus rendimentos permitirem, poupar entre 10% e 20% por mês é um bom princípio. No entanto, se os seus rendimentos só permitirem que poupe 5%, por exemplo, é melhor do que nada.
Além disso, ponha esse dinheiro de parte logo no início do mês. Desta forma, acaba também por prevenir gastos desnecessários. Por fim, pode ser boa ideia automatizar este processo, ao agendar transferências mensais da sua conta à ordem para uma conta destinada à poupança.

De acordo com um estudo publicado em julho de 2023 pelo Eurostat, 21% dos portugueses não têm poupanças que possam usar numa situação de emergência. Do outro lado da balança, 30% dizem ter um montante capaz de cobrir seis meses ou mais de despesas. De facto, este é o valor recomendável a ter de parte caso seja trabalhador por conta de outrem.

Já os trabalhadores independentes devem ter de parte uma quantia suficiente para cobrir 12 meses de despesas essenciais caso aconteça algum imprevisto.
Imaginemos que tem despesas de 700 euros por mês. Se for trabalhador dependente, o ideal é que tenha, pelo menos 4.200 euros no fundo (seis meses). No caso de ser trabalhador independente, o valor deve subir para 8.400 euros (um ano).

O sonho de comprar uma casa é comum a muitas pessoas. Se é este o seu caso, tente preparar o caminho para atingir este objetivo. Regra geral, os bancos só emprestam até 90% do valor do imóvel. Se tomarmos como exemplo uma casa que custa 150.000 euros, precisará de, pelo menos, 15.000 euros para dar como entrada. A isto acrescem outros custos, como a escritura, o IMT (Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis) e o Imposto do Selo da aquisição do imóvel.

Por esta altura, as poupanças ainda não são muitas e, em alguns casos, a situação profissional pode ainda não estar totalmente consolidada. Assim, o melhor será começar por investimentos de baixo risco. Os já referidos Certificados de Aforro e Certificados de Tesouro são uma boa opção, uma vez que são das soluções que oferecem mais rentabilidade entre aquelas que têm capital garantido.

Outra opção é colocar o dinheiro num depósito a prazo, um dos instrumentos de poupança mais utilizados pelos portugueses que querem assumir poucos riscos. Quando for escolher um depósito a prazo, faça uma avaliação do risco, analise as condições de mobilização e verifique as taxas de juro e de retenção na fonte de IRS.

Tem também a possibilidade de investir em seguros de capitalização. Este é um tipo de produto financeiro disponibilizado pelas companhias de seguros e que, regra geral, oferece taxas de juro superiores às dos depósitos a prazo, além de ter alguns benefícios fiscais associados.

Dos 30 aos 40 anos: novos objetivos

A partir dos 30 anos há novos objetivos e responsabilidades. Se decidir avançar para a compra da casa para a qual começou a juntar dinheiro no início da carreira, o mais certo é ter de recorrer ao crédito habitação. Ao mesmo tempo, pode precisar de outro tipo de financiamento, seja um crédito automóvel, por exemplo, ou um crédito pessoal.

Além disso, se a situação profissional tiver melhorado e os rendimentos tiverem aumentado, pode assumir um pouco mais de risco nos seus investimentos.

Quando precisar de fazer um crédito habitação, não deve aceitar a primeira proposta que lhe for apresentada pelo banco. Como em tantos outros casos, comparar é a palavra-chave. Assim, analise as condições de cada crédito através das Fichas de Informação Normalizada Europeia (FINE). Nesse documento constam informações como a taxa de juro, a TAEG, o MTIC (Montante Total Imputado ao Consumidor), as comissões ou os custos por reembolso antecipado.

Além disso, quando recorre a financiamento bancário para comprar uma casa, tem de contratar um seguro de vida associado ao crédito habitação e um seguro multirriscos. Se fizer os seguros junto da companhia que o banco propuser, pode beneficiar de uma bonificação no spread. No entanto, não deixe de fazer contas. Isto porque pode encontrar um seguro mais barato noutra seguradora que compense os custos associados a um spread ligeiramente mais alto.

Tem, pelo menos, mais dois créditos ao consumo além do crédito habitação? Para poupar, consolidar pode ser a solução. Assim, em vez de pagar várias prestações de vários créditos, fica a pagar uma única prestação. Além disso, como a taxa de juro no crédito consolidado é, por norma, mais baixa do que a média das taxas dos outros créditos, a prestação mensal é mais baixa. Dependendo das condições que acordar com o seu banco, pode conseguir poupar até 60%.

Tal como na anterior fase de vida, este é um hábito que não deve abandonar. Como acabámos de ver, é possível que haja um aumento das obrigações e dos custos associados, pelo que é essencial que saiba para onde está a ir o seu dinheiro.
Mais uma vez, é este registo que lhe vai permitir saber quanto pode destinar à poupança. Ao mesmo tempo, continue a reforçar o fundo de emergência.

Se quiser arriscar um pouco mais do que na fase anterior, pode começar a olhar para os fundos de investimento, por exemplo. Também aqui existem diferentes níveis de risco, sendo que os fundos de tesouraria são os que o deixam menos exposto.

Ao mesmo tempo, este pode ser um bom momento para começar a pensar na reforma. Embora ainda faltem alguns anos, quanto mais cedo começar a preparar esse momento, mais conforto financeiro vai ter quando ele chegar. Assim, pode começar a investir no seu Plano Poupança Reforma (PPR). Lembre-se de que o objetivo é mesmo esse: amealhar dinheiro para usar quando se reformar.

Por isso, tenha em atenção que se quiser reembolsar antecipadamente o capital investido, pode sofrer penalizações.

Dos 40 aos 55 anos: reforçar a poupança

Aos 40 anos, está sensivelmente a meio da sua carreira contributiva. Se já tem um PPR, faça reforços sempre que tiver disponibilidade financeira para tal. Pode também pensar em amortizar alguns créditos, de forma a aliviar a folha de despesas. Ao mesmo tempo, pode começar a preparar o futuro dos seus filhos.

Para quem tem filhos, este é um momento no qual as despesas com educação podem consumir uma parte importante do orçamento familiar. No entanto, existem formas de poupar em vários gastos, como no material escolar, e aproveitar essa poupança para pensar no futuro.

Se gostava que o seu filho frequentasse o ensino superior, porque não começar já a preparar esse caminho? Quando esse momento chegar, as despesas com propinas, transporte e, eventualmente, alojamento podem ser consideráveis. No entanto, se tiver poupado, o impacto na sua carteira será menor.

No final deste ciclo de vida, pode já estar a receber retorno de alguns dos investimentos que fez. No caso de haver capacidade financeira, pode pensar em amortizar o crédito habitação e, desta forma, reduzir o valor das prestações que ainda faltam pagar.

Vamos pegar no exemplo de um crédito habitação com um capital em dívida de 90.000 euros, uma taxa de juro de 4,5% e 240 prestações por liquidar. Se amortizar 15.000 euros, o valor mensal a pagar ao banco baixa de 569,38 euros para 474,49 euros.

No entanto, deve ter em atenção que pode ter de pagar uma comissão por reembolso antecipado. Esta pode variar entre os 0,5% do valor amortizado (para contratos com taxa de juro variável) e os 2% (contratos com taxa fixa). Recorde-se, porém, que até ao final de 2024, está suspenso o pagamento da comissão de amortização antecipada para os contratos de crédito à habitação a taxa variável ou que, tendo sido contratados a taxa de juro mista, se encontrem em período de taxa variável.

Se não criou um PRR na anterior fase de vida, este é o momento para o fazer. Lembre-se de que quanto mais tempo o dinheiro estiver a render, maior será o retorno financeiro. Além disso, não se esqueça de que é importante diversificar os investimentos e não pôr os ovos todos no mesmo cesto. Por isso, se estiver disposto a subir ainda mais um degrau no patamar de risco (mas também de rentabilidade possível), aposte em produtos como fundos de ações.

Dos 55 aos 67 anos: a poucos passos da reforma

São os últimos anos de carreira. Se conseguiu amortizar o seu crédito habitação, a prestação está mais baixa e tem mais folga financeira. Além disso, é provável que os filhos entrem no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo que deixa de haver despesas com educação, há mais rendimentos para ajudar com alguns gastos domésticos.

Com a reforma a chegar, talvez já não esteja na disposição de correr tantos riscos. Se assim for, volte a investir em produtos como os seguros de capitalização ou os certificados de poupança do Estado (aforro e tesouro). Ao mesmo tempo, dê um último estímulo ao seu PPR, para garantir uma reforma ainda mais confortável. É importante lembrar que quanto mais perto da reforma estiver, menos riscos deve correr, uma vez que já não terá tanto tempo para recuperar eventuais perdas e não deve arriscar as poupanças de uma vida.

Pós-67 anos: aproveitar a poupança

Poupou durante a vida ativa e agora é hora de colher os frutos desse trabalho. Se apostou no PPR, tem a segurança de ter um rendimento extra além da pensão de velhice. Neste caso, existem duas opções de resgate do dinheiro. Pode optar por receber tudo de uma só vez ou em parcelas mensais.

Se optar pelo reembolso da totalidade do capital, terá de pagar uma taxa de 8% sobre o rendimento obtido. No caso da renda mensal, aplica-se a mesma regra da tributação de pensões.

Se quiser continuar a investir, o melhor é fazê-lo em produtos de capital garantido, para que viva a reforma com mais tranquilidade e sem sobressaltos.

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