
Greenwashing: 24 das maiores multinacionais do planeta têm planos climáticos enganosos, acusa estudo
As maiores empresas multinacionais do planeta têm planos ambíguos – até enganosos – mas, sobretudo, muito insuficientes em relação ao combate às alterações climáticas, de acordo com o relatório ‘Corporate Climate Responsability Monitor’, elaborado pelo NewClimate Institute, da Alemanha, e o Carbon Market Watch, de Espanha.
A conclusão é lapidar: as maiores e mais ricas empresas do mundo não estão a cumprir as suas promessas climáticas, denunciaram os think tank climáticos, que apelaram aos Governos que reprimam o greenwash corporativo.
A pressão crescente de acionistas, Governos e consumidores levou as maiores empresas mundiais a implementar estratégias para reduzir as emissões de carbono nas suas operações, assim como nos produtos e serviços – as 24 multinacionais examinadas endossaram a meta do Tratado de Paris em limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius. No entanto, os efeitos estão muito aquém: por exemplo, até 2030 os cientistas advertiram que as emissões globais devem cair 43%; mas os planos das empresas analisadas contemplam apenas uma redução de 21%, nos cenários mais otimistas.
“As estratégias climáticas da maioria das empresas estão atoladas em compromissos ambíguos e planos de compensação sem credibilidade” e programas que não levam em conta todas as emissões geradas por cada multinacional, concluiu o relatório. Os investigadores selecionaram as empresas que se apresentaram como as mais ambiciosas e líderes dos respetivos sectores: apenas a gigante marítima Maersk tem uma estratégia climática classificada como “razoável” no estudo. Já os planos de outras oito empresas (Apple, ArcelorMittal, Google, H&M Group, Holcim, Microsoft, Stellantis e Thyssenkrupp) têm nível de integridade “moderado”, enquanto as 15 empresas restantes têm integridade baixa ou muito baixa. American Airlines, Samsung Electronics, Carrefour e a JBS, a maior empresa de processamento de carne do mundo, foram classificadas com “muito baixa integridade”.
Com ganhos combinados de mais de 3.000 mil milhões de dólares, as duas dúzias de empresas analisadas respondem por cerca de 4% das emissões globais – 2 mil milhões de toneladas de CO2 ou equivalente por ano. “As empresas precisam esclarecer o seu impacto climático e reduzir a sua pegada de carbono. Muitas estão a explorar promessas vagas e enganosas de ‘zero líquido’ para fazer greenwashing das suas marcas, enquanto continuam com os negócios de sempre”, acusou Sabine Frank, diretora executiva da Carbon Market Watch, citada pelo jornal espanhol ‘El País’.
“As práticas compensatórias, usando várias terminologias, estão a minar as metas e enganando os consumidores”, denuncia o relátorio. “O uso de offsets [compensações] é um dos principais elementos que fazem com que um compromisso de carbono neutro signifique muito pouco em termos de redução de emissões e mitigação das mudanças climáticas. Um compromisso de carbono neutro é enganoso se na verdade significa que a empresa vai reduzir 20% das suas emissões e compensar ou neutralizar o restante”, referiu Eduardo Posada, do NewClimate Institute e um dos autores do estudo.
Os autores alertaram que pelo menos três quartos das empresas avaliadas dependem fortemente de compensações através de projetos florestais e do uso da terra para cumprir as suas promessas climáticas no futuro. Os cientistas já alertaram que as compensações devem ser o último recurso e não o centro da estratégia climática de uma empresa.
Até agora, a maioria das grandes empresas já tem estratégias e metas climáticas públicas, “muitas das quais incluem promessas que parecem reduzir significativamente, ou mesmo eliminar, as suas contribuições para o aquecimento global”. Mas, acusou o relatório, agora é “mais difícil do que nunca distinguir entre liderança climática real e greenwash sem fundamento”
“Para combater o greenwashing, precisamos de mais regulamentação. Não podemos permitir que empresas se comprometam voluntariamente com metas de neutralidade carbónica sem definir e regulamentar o que significa neutralidade”, lembrou Eduardo Posada.