Governo tem de deixar de ser “o menino obediente” da União Europeia

Líder da intersindical, Isabel Camarinha, esteve hoje diante da Assembleia da República, no final de uma manifestação onde participaram largas centenas de trabalhadores e pensionistas de vários setores a exigir aumentos salariais face à subida do custo de vida

Executive Digest com Lusa
Junho 28, 2023
18:56

A secretária-geral da CGTP considerou hoje “um embuste” a ideia de que aumentar salários gera uma espiral inflacionista, como aponta o BCE, e defendeu que o Governo tem de deixar de ser “o menino obediente” da União Europeia.

A líder da intersindical, Isabel Camarinha, falava aos jornalistas em Lisboa, em frente à Assembleia da República, no final de uma manifestação onde participaram largas centenas de trabalhadores e pensionistas de vários setores a exigir aumentos salariais face à subida do custo de vida.

Questionada sobre as declarações proferidas, em Sintra, pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, de que o aumento dos salários está a gerar a subida da inflação, Isabel Camarinha afirmou que “isso é um embuste”.

“O aumento dos salários não fez nenhuma espiral inflacionista. A própria Christine Lagarde disse há pouco tempo que dois terços do aumento dos preços foram porque as margens de lucro também aumentaram, portanto não são os salários que fazem aumentar a espiral inflacionista”, defendeu a líder sindical.

Para Isabel Camarinha, “a questão não é essa”, mas sim que “os trabalhadores, os reformados e pensionistas, as suas famílias, a população em geral não pode continuar a empobrecer a trabalhar” e para isso é preciso “o aumento geral e significativo dos salários e das pensões”.

“O nosso Governo não pode continuar a ser o menino obediente da União Europeia e do que de lá é comandado porque isso tem levado a esta situação de cada vez maior degradação de vida e do trabalho”, acrescentou a secretária-geral da CGTP.

Já antes, enquanto Camarinha discursava em cima do palanque, perante as centenas de manifestantes, o nome de Christine Largade tinha arrancado assobios da assistência, que agitava as bandeiras sindicais sem arredar pé, mesmo perante o forte calor que se fazia sentir em Lisboa.

A líder da CGTP saudou ainda os “muitos milhares de trabalhadores em todo o país” que participaram na ação nacional de luta por aumentos dos salários e contra a subida do custo de vida, que incluiu greves, manifestações, concentrações e plenários no setor público e privado.

Na abertura do Fórum do Banco Central Europeu, na terça-feira, em Sintra, Christine Lagarde destacou que o processo inflacionista se tornou mais persistente, já que apesar de algumas pressões na inflação – como a diminuição dos custos de produção – terem começado a desvanecer-se, outras ganharam peso.

Segundo Lagarde, a segunda fase do processo inflacionista está “a começar agora a tornar-se mais forte”: o impacto do aumento dos salários.

“Os trabalhadores ficaram, até à data, a perder com o choque inflacionista, tendo sofrido grandes decréscimos dos salários reais, o que está a desencadear um processo sustentado de convergência em alta dos salários, com os trabalhadores a tentar recuperar perdas”, assinalou.

Lagarde advertiu que esta convergência está a repercutir-se na inflação subjacente, que capta mais pressões internas sobre os preços.

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