Fuga de informação revela alegado acordo entre Rússia e Irão para fornecimento de dezenas de caças

Uma fuga de informação atribuída ao conglomerado estatal russo de defesa Rostec sugere que o Irão poderá estar prestes a adquirir 48 aviões de combate Sukhoi Su-35, num acordo considerado histórico entre Moscovo e Teerão. Caso se confirme, este poderá ser um dos maiores contratos de exportação de armamento russo desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Pedro Gonçalves
Outubro 6, 2025
14:10

Uma fuga de informação atribuída ao conglomerado estatal russo de defesa Rostec sugere que o Irão poderá estar prestes a adquirir 48 aviões de combate Sukhoi Su-35, num acordo considerado histórico entre Moscovo e Teerão. Caso se confirme, este poderá ser um dos maiores contratos de exportação de armamento russo desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Segundo documentos divulgados online e analisados por vários meios de comunicação especializados, o Irão pretende modernizar profundamente a sua força aérea, envelhecida e tecnologicamente desatualizada, ao mesmo tempo que reforça a cooperação militar com a Rússia — dois países fortemente sancionados pelo Ocidente.

A Newsweek, que teve acesso à informação, refere que tanto os ministérios dos Negócios Estrangeiros do Irão como da Rússia foram contactados para comentários, mas até ao momento não confirmaram nem desmentiram a existência do acordo.

De acordo com os ficheiros alegadamente extraídos da Rostec — divulgados em 2 de outubro pelo grupo de hackers Black Mirror —, o contrato, identificado sob o “código 364”, prevê a compra de 48 aviões Su-35 equipados com sistemas eletrónicos avançados desenvolvidos pela KRET, uma das principais subsidiárias da Rostec.

Os documentos, com mais de 300 páginas, detalham contratos de exportação, preços e calendários de entrega. A informação circula desde então em plataformas como X (antigo Twitter), Telegram e fóruns OSINT (inteligência de fonte aberta), tendo sido analisada por publicações especializadas como a Army Recognition e a Defence Security Asia.

Os dados apontam para um programa avaliado em 686 milhões de dólares, com entregas a realizar-se entre 16 e 48 meses, o que significa que os primeiros aviões poderão chegar ao Irão em 2026 e a última remessa até 2028.

Cada aeronave virá equipada com o sistema de guerra eletrónica Khibiny-M, concebido para aumentar as capacidades defensivas e de contramedidas do aparelho.

Embora as informações ainda não tenham sido verificadas de forma independente, a formatação e terminologia dos documentos são consistentes com os usados em comunicações oficiais da Rostec, segundo a Army Recognition.

Su-35: um caça de última geração com capacidades multifunções
O Sukhoi Su-35 é um caça multifunções de dois motores com empuxo vetorado, altamente manobrável e capaz de transportar até 8 mil quilogramas de armamento, entre mísseis e bombas. Equipado com o radar Irbis-E, consegue seguir múltiplos alvos simultaneamente e competir com caças ocidentais de quarta e quarta-geração e meia, como o F-15E Strike Eagle, o F/A-18E/F Super Hornet ou o Eurofighter Typhoon.

A aeronave constitui um pilar essencial da força aérea russa e das exportações de armamento do país, tendo sido promovida como um dos símbolos da engenharia militar russa moderna.

A importância estratégica do negócio

O alegado contrato surge pouco depois da guerra de 12 dias entre o Irão e Israel e dos ataques aéreos norte-americanos contra instalações nucleares iranianas, que expuseram a vulnerabilidade da força aérea de Teerão.

Uma frota modernizada de Su-35 representaria um salto qualitativo nas capacidades defensivas do Irão, permitindo-lhe reforçar a dissuasão face a possíveis ataques e proteger infraestruturas estratégicas.

Se confirmado, o negócio consolidaria ainda mais a aliança militar e política entre Moscovo e Teerão, que têm aprofundado a cooperação no domínio da defesa, da energia e da economia. Para a Rússia, o acordo simboliza também um sucesso de exportação num contexto de sanções e restrições industriais impostas pelo Ocidente desde a invasão da Ucrânia.

Novos sinais da parceria estratégica russo-iraniana
O alegado acordo surge poucos meses depois de o Irão ter recebido um lote de caças MiG-29 russos e da assinatura do Tratado de Parceria Estratégica Abrangente entre Moscovo e Teerão, rubricado este ano pelo presidente russo, Vladimir Putin, e pelo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.

O tratado, que entrou em vigor este mês, visa reforçar a cooperação bilateral nas áreas da defesa, energia e economia, num momento em que ambos os países enfrentam isolamento diplomático e sanções ocidentais.

Os documentos da Rostec também mencionam um segundo contrato, sob o “código 012”, que envolveria a Argélia. Este acordo incluiria 12 aviões furtivos Su-57E — o modelo mais avançado da aviação russa — e kits de apoio Su-34, num valor total de 414 milhões de dólares.

Caso se confirme, a Argélia tornar-se-ia o primeiro país africano a operar caças de quinta geração, fortalecendo o seu poder de dissuasão na região do Mediterrâneo Ocidental.

Os supostos contratos com o Irão e a Argélia ganham relevância num contexto de forte queda das exportações de armamento russas. Segundo o Jamestown Foundation, um centro de estudos sediado em Washington, as exportações caíram 92% entre 2021 e 2024, com a Rússia a manter apenas uma dúzia de clientes ativos.

Grande parte da produção de armamento russo está atualmente focada nas necessidades da guerra na Ucrânia, tornando cada novo contrato internacional essencial para a sobrevivência financeira do setor.

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