Explicador: o que é o ‘Bloquons tout’, o movimento civil que pretende paralisar França?

Ao contrário de outros movimentos históricos, como os Coletes Amarelos — lançados em 2018 contra o aumento dos preços dos combustíveis —, o Bloquons não possui uma organização clara

Francisco Laranjeira
Setembro 10, 2025
12:39

Paralisar estradas e transportes, ocupar locais simbólicos e até sacar dinheiro de grandes bancos em todo o país. Este é o plano do movimento “Bloqueie Tudo” (‘Bloquons tout’ em francês), que ameaça fazer nesta quarta-feira um dos protestos mais tensos dos últimos anos em França. O motivo? A rejeição às medidas de austeridade do primeiro-ministro François Bayrou , que renunciou ontem após perder um voto de confiança na Parlamento francês.

Ao contrário de outros movimentos históricos, como os Coletes Amarelos — lançados em 2018 contra o aumento dos preços dos combustíveis —, o Bloquons não possui uma organização clara e reivindica independência de partidos políticos e sindicatos. É um movimento auto-organizado de grupos do Telegram e reuniões presenciais em todo o país, ao qual, no entanto, acabaram por se juntar alguns sindicatos e partidos de esquerda, como La France Insoumise, liderado por Jean-Luc Mélenchon, e o Partido Socialista.

O gatilho para o movimento ‘Bloqueie Tudo’

Um nome ecoa nos canais do movimento: François Bayrou, responsável pelo projeto de orçamento para 2026, apresentado em 15 de julho, que incluiu um pacote de austeridade com medidas polémicas como a eliminação de dois feriados, um corte de 5 mil milhões de euros na saúde e um congelamento das pensões, que economizaria 43,8 mil milhões de euros.

Em resposta, a iniciativa apresentou as suas reivindicações: reinvestimento maciço em serviços públicos, fim dos cortes de empregos e manutenção dos feriados, entre outras. E um plano ambicioso para alcançar isso: boicotar grandes redes de retalho como Carrefour, Amazon e Auchan, que acusam de “beneficiarem de contribuições reduzidas e auxílios públicos enquanto pressionam os seus funcionários”; sacar dinheiro de grandes bancos que são “cúmplices da especulação e da política de destruição social”; e “ocupar pacificamente lugares simbólicos”, como autarquias.

Uma operação massiva implantada

Por sua vez, o Ministério do Interior ordenou a mobilização de quase 80.000 policiais e gendarmes em todo o país — 11.500 foram mobilizados durante a final da Liga dos Campeões e 45.000 para as Olimpíadas, metade desse número. Esta é uma “operação massiva”, segundo o Ministro do Interior demissionário, Bruno Retailleau. Ou seja, “haverá intervenções sistemáticas das forças de segurança interna para desbloquear” e também “prender” os envolvidos nessas ações, de acordo com Laurent Núñez, chefe da polícia na área metropolitana de Paris.

Além disso, o chefe de polícia de Paris esclareceu que, com base nas informações disponíveis, não é esperado que o ‘Bloquons tout’ “mobilize massivamente a sociedade civil, mas mobilizará indivíduos da extrema-esquerda radical que estão bastante determinados a organizar ações violentas”.

Até ao momento, houve pelo menos 200 detenções, sendo que o movimento conseguiu bloquear, nas primeiras horas do dia, autoestradas e circunvalações em grandes cidades como Paris, Lyon, Marselha e Rennes, onde também ocorreram confrontos com a polícia.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) registou, nesta manhã, 700 ações em empresas ou locais estratégicos de infraestrutura no país.

Em Paris, cerca de 100 jovens ativistas do movimento autónomo bloquearam uma estação de autocarros no 18º arrondissement nas primeiras horas da manhã antes de descerem para o anel viário em Porte de Clignancourt.

Nos aeroportos, os sindicatos Sud Aérien e CGT Air France convocaram uma greve que deve causar “perturbações” nos aeroportos de Marselha, Nice e Córsega (Bastia, Ajaccio, Figari e Calvi), com “atrasos e cancelamentos” previstos entre 18h e meia-noite, informou a Direção Geral de Aviação Civil (DCAG), que pediu aos viajantes que entrem em contacto com as suas companhias aéreas para saber o estatuto dos seus voos.

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