Explicador: Como os mísseis Tomahawk dos EUA podem mudar o curso da guerra na Ucrânia

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está a considerar o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk de longo alcance para a Ucrânia — uma decisão que, segundo o Kremlin, poderia “destruir” as relações entre Washington e Moscovo, mas que, ao mesmo tempo, poderia alterar significativamente o rumo da guerra e enviar um forte sinal político ao governo russo.

Pedro Gonçalves
Outubro 13, 2025
17:12

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está a considerar o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk de longo alcance para a Ucrânia — uma decisão que, segundo o Kremlin, poderia “destruir” as relações entre Washington e Moscovo, mas que, ao mesmo tempo, poderia alterar significativamente o rumo da guerra e enviar um forte sinal político ao governo russo.

Em declarações aos jornalistas a bordo do Air Force One, a caminho de Israel na madrugada de segunda-feira, Trump afirmou que “poderá” autorizar o envio das armas, sublinhando: “Veremos. Talvez diga: ‘Olhem, se esta guerra não for resolvida, vou enviar-lhes Tomahawks’”. O presidente acrescentou ainda: “Podemos não o fazer, mas também podemos fazê-lo. Acho que é apropriado colocar o tema em cima da mesa.”

O impacto (potencial) dos mísseis de longo alcance
O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, já tinha deixado no ar, em setembro, que Washington poderia finalmente ceder ao pedido de Kiev para obter mísseis Tomahawk, lançados a partir do mar e com um alcance estimado de cerca de 2.500 quilómetros. O equivalente russo mais próximo é o míssil de cruzeiro Kalibr, frequentemente utilizado pela Rússia em ataques contra a Ucrânia.

Apesar das tentativas de Trump para alcançar um cessar-fogo no Leste Europeu, os avanços concretos têm sido limitados, levando o presidente norte-americano a mostrar-se gradualmente mais disposto a adotar medidas que aumentem a pressão sobre Moscovo.

Segundo a Newsweek, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou no domingo ter falado duas vezes com Trump em dois dias, abordando o tema do “reforço” das capacidades defensivas e de longo alcance da Ucrânia.

Reações de Moscovo e risco de escalada
O governo russo advertiu que o envio dos Tomahawk constituiria uma “escalada perigosa” do conflito, já que Kiev necessitaria de apoio técnico dos Estados Unidos para operar o sistema. O presidente Vladimir Putin declarou recentemente que essa decisão representaria “a destruição das nossas relações” com Washington.

Por sua vez, Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança russo, afirmou esta segunda-feira que “a entrega destes mísseis pode acabar mal para todos — e, acima de tudo, para o próprio Trump”. Conhecido por declarações provocatórias, Medvedev tem trocado insultos com o presidente norte-americano nas redes sociais. Trump chegou a chamá-lo de “pessoa estúpida”, ao que Zelensky respondeu que, apesar das palavras duras, Medvedev “não é irrelevante”, uma vez que “frequentemente expressa o que Putin pensa, mas não diz”.

Tomahawks e o arsenal ucraniano
Especialistas citados pela Newsweek consideram que os Tomahawk reforçariam significativamente a capacidade ofensiva da Ucrânia, embora não constituam uma mudança isolada decisiva no conflito. Kiev tem vindo a desenvolver mísseis de fabrico nacional, como o Neptune antinavio e o Flamingo, lançado a partir de terra, para colmatar a escassez de armamento ocidental e as restrições impostas ao uso de armas fornecidas pelo Ocidente.

No entanto, Oleksandr Merezhko, presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento ucraniano e membro do partido de Zelensky, sublinhou à Newsweek que “a Ucrânia precisa dos Tomahawk”. “Não acredito em soluções milagrosas, mas isto pode ser extremamente importante”, afirmou.

William Freer, investigador do Council on Geostrategy do Reino Unido, acrescentou que “os esforços da Ucrânia para atingir alvos dentro da Rússia beneficiariam amplamente com a posse de mísseis Tomahawk”. Segundo o especialista, os Estados Unidos dispõem de “vários milhares” destas armas, mas seria provável que enviassem apenas um número limitado para Kiev, devido às necessidades estratégicas americanas no Indo-Pacífico.

John Foreman, antigo adido de defesa britânico em Moscovo e Kiev, partilhou da mesma perspetiva, considerando que os Tomahawk seriam “uma excelente adição ao arsenal ucraniano, permitindo-lhe atacar mais alvos militares russos dentro da Rússia e a maiores distâncias”.

Um instrumento político de pressão sobre o Kremlin
Para além da dimensão militar, o eventual envio dos Tomahawk tem uma clara componente política. Segundo Foreman, Trump procura utilizar a perspetiva do fornecimento de mísseis como forma de pressionar Putin a regressar à mesa das negociações. “A Rússia compreende isto”, afirmou.

Na mesma linha, Merezhko considerou que a ameaça de transferência das armas “dá a Trump uma ferramenta para forçar Putin a negociar seriamente”. E William Freer acrescentou que, caso os Tomahawk cheguem à Ucrânia, “isso enviaria um poderoso sinal político de que Moscovo perdeu a oportunidade de explorar a hesitação de Washington para influenciar Kiev”.

Apesar de um encontro presencial entre Trump e Putin em agosto, no Alasca, o presidente norte-americano ainda não conseguiu cumprir a promessa de pôr fim à maior guerra terrestre na Europa desde a II Guerra Mundial “em 24 horas”. Até agora, a administração Trump evitou impor sanções severas à Rússia, preferindo manter a pressão diplomática.

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