Estudo alerta: adoçantes artificiais podem acelerar o envelhecimento do cérebro

Um novo estudo publicado no Journal of the American Academy of Neurology alerta que o consumo elevado de adoçantes artificiais, como aspartame e sacarina, presentes em refrigerantes e sobremesas de baixo teor calórico, pode estar associado a um declínio cognitivo acelerado.

Pedro Gonçalves
Setembro 7, 2025
13:30

Um novo estudo publicado no Journal of the American Academy of Neurology alerta que o consumo elevado de adoçantes artificiais, como aspartame e sacarina, presentes em refrigerantes e sobremesas de baixo teor calórico, pode estar associado a um declínio cognitivo acelerado.

De acordo com a investigação, pessoas que consomem maiores quantidades destes adoçantes experienciam uma perda de habilidades cognitivas — incluindo memória e raciocínio — cerca de 62% mais rápido do que aqueles que ingerem as menores quantidades, o equivalente a aproximadamente 1,6 anos de envelhecimento cerebral.

“Os adoçantes de baixo ou nenhum teor calórico são frequentemente vistos como alternativas saudáveis ao açúcar. No entanto, os nossos resultados sugerem que certos adoçantes podem ter efeitos negativos na saúde do cérebro ao longo do tempo”, afirmou Claudia Kimie Suemoto, autora do estudo e professora associada na disciplina de geriatria da Universidade de São Paulo (Brasil).

Estudo acompanhou 13 mil adultos durante oito anos
A investigação analisou quase 13.000 adultos brasileiros, com idade média de 52 anos, ao longo de um período médio de oito anos. Os participantes realizaram testes de memória, linguagem e capacidade de raciocínio no início, meio e final do estudo.

Os voluntários foram divididos em três grupos, de acordo com a quantidade de adoçantes artificiais consumidos. O grupo com menor ingestão consumia em média 20 mg por dia, enquanto o grupo com maior consumo registava cerca de 191 mg diários — aproximadamente o equivalente ao aspartame contido numa lata de refrigerante diet.

O estudo focou-se em um grupo selecionado de adoçantes artificiais, incluindo aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, xilitol, sorbitol e tagatose. Todos mostraram associação com um declínio cognitivo mais rápido, exceto a tagatose, para a qual não se observou relação.

Impacto maior em pessoas com diabetes
A ligação entre o consumo de adoçantes artificiais e o declínio cognitivo foi mais evidente em participantes com diabetes, comparativamente aos sem a doença.

“Embora tenhamos encontrado ligações ao declínio cognitivo em pessoas de meia-idade, tanto com como sem diabetes, os indivíduos com diabetes são mais propensos a usar adoçantes artificiais como substitutos do açúcar”, explicou Suemoto.

Por outro lado, não se verificou qualquer associação significativa entre a saúde cerebral e o consumo de adoçantes em participantes com mais de 60 anos.

Os resultados reforçam preocupações já debatidas na comunidade científica sobre os efeitos a longo prazo de açúcares artificiais. Pesquisas anteriores apontaram riscos potenciais, incluindo maior probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Além disso, o aspartame é classificado como possivelmente carcinogénico para os seres humanos pela Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro.

O estudo, contudo, apresenta limitações. Baseou-se nas informações dietéticas fornecidas pelos participantes, analisou apenas alguns adoçantes não açucarados e evidenciou uma ligação entre consumo e declínio cognitivo, sem estabelecer causalidade direta.

Na União Europeia, os adoçantes passam por avaliações de segurança antes da sua comercialização, devendo a sua presença estar indicada no rótulo de alimentos e bebidas. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) encontra-se atualmente a reavaliar todos os adoçantes permitidos para uso alimentar antes de janeiro de 2009.

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