O Papa Francisco falou esta segunda-feira aos portugueses, a partir do CCB, depois de ter chegado esta manhã a Lisboa, para participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). No discurso, invocou Amália, Camões, José Saramago e outros rostos da cultura Portuguesa, indicando que Lisboa pode servir de exemplo e que é “capital do mundo” nos próximos dias.
“Estou muito feliz por estar aqui em Lisboa, neste encontro que abraça vários povos e culturas. Lisboa será [nos próximos dias] a capital do mundo e do futuro, porque os jovens são o futuro, começou por dizer o sumo-pontífice, após agradecer a Marcelo Rebelo de Sousa o “acolhimento e cortesia”.
O Papa destacou o ambiente “multicultural” da cidade. “Penso, por exemplo, na Mouraria, onde vivem pessoas em harmonia de muitos países. È este aspeto cosmopolita de Portugal que deve ser espalhado, e que foi, quando os portugueses navegaram pelo mundo”, indicou.
“No Cabo da Roca está escrito, por um grande poeta, ‘Aqui onde a Terra se acaba e o mar começa’. Durante séculos pensava-se que ali era o fim do mundo, e de alguma f
orma é verdade: estamos nos confins do mundo porque este país esta junto ao oceano que limita o continente”, continuou o Papa, que depois elogiou esta característica do nosso País.
“Gosto muito das canções portuguesas: Lisboa tem cheiro de flores e de mar”, recordou o líder da Igreja Católica.
“Um mar que é mais do que um elemento paisagístico, é uma chamada ao ânimo português, ‘mais profundo e sem fim’, como outra poetisa chamou. Perante o oceano, os portugueses refletem sobre o imenso espaço da alma e o sucesso da vida do mundo, tal como eu sou transportado pelas imagens do oceano, para vos deixar alguns pensamentos”; indicou o Papa Francisco.
O sumo-pontífice recordou o oceano como “infinito”, “filho da terra, que abraça e clama pela ternura”. “Não se liga aos países, mas sim aos continentes, e o oceano fala-nos da importância da reunião, do contacto, não como fronteira que divide os povos”, considerou.
Francisco apelou à necessidade de “estarmos juntos, em missão coesa” para resolver os problemas comuns do mundo. “Parece que a injustiça planetária; a guerra, as crises climáticas e migratórias são mais velozes do que a capacidade de estarmos juntos. Lisboa pode sugerir uma mudança”, indicou o Papa.
No discurso, foi depois referido a importância do papel da União Europeia na resolução de conflitos e tensões internacionais. “A comunidade europeia pode fazer esse trabalho e está na memoria desta cidade, o espirito de estarmos juntos no mar europeu, é mais amplo do que a questão ocidental. O nome da europa vem de uma palavra que indica ‘direção do ocidente’. É verdade que Lisboa é a capital mais a oeste da Europa Continental, e não há essa necessidade de abrir vias de comunicação mais vastas, como Portugal já faz com países de outros continentes em que falam a mesma língua”, continuou Francisco.
O Papa destacou a necessidade de “viver a Europa”. “O mundo precisa dela, precisa do seu papel de paz. A europa pode trazer ao cenário internacional a sua originalidade específica”, assinalou, lembrando o papel da génese da UE no fim de conflitos mundiais e a importância de que crie “diálogo e condições para que haja uma diplomacia de paz que disperse os conflitos”.
“No oceano navega-se um futuro com tempestades. São precisas rotas corajosas de paz. No espirito de dialogo que caracteriza a Europa, temos de oferecer o caminho da paz para por fim à guerra na Ucrânia e tantos outros conflitos que mancham o mundo de sangue”, lamentou o sumo-pontífice durante o discurso, sublinhando que “progresso, globalização e armas mais sofisticadas” “não bastam”, até porque investir em armamento “é hipotecar o futuro”.
O Papa lembrou as leis da eutanásia e o abandono de crianças e idosos, argumentando que “é prioritário defender a vida humana”.
O Papa referiu-se ao “oceano de jovens” que estão na JMJ em Lisboa “para fomentar a esperança”, e agradeceu “o empenho português neste evento tão complexo de gerir, mas cheio de esperança”.
A JMJ é uma ocasião para construirmos juntos e reinventar o desejo de criar novidade, de agarrar a oportunidade de navegar juntos rumo ao futuro, disse o Papa, que citou Fernando Pessoa para depois retomar: “O ambiente no futuro é a fraternidade. Devemos criar juntos em nome da esperança”.
Francisco falou dos “problemas globais muito sérios”, como as alterações climáticas. “Estamos a destruir a casa comum de todos, e o oceano está cheio de plástico. o ambiente é maior do que nós, e tem de ser pensado nas novas gerações. Temos de acreditar nos jovens, tendo espaço no futuro. Mas há tantos fatores, como a falta de trabalho, o ritmo frenético, o aumento do custo de vida, a dificuldade em encontrar casa, em criar família e colocar filhos no mundo. Assiste-se a uma fase descendente da curva demográfica”, disse o Papa Francisco, sobre os problemas que enfrentam os jovens.
“Não é dar poder [às pessoas], apenas. Trata-se de dar às pessoas a possibilidade de ter esperança”, resumiu, indicando um “mercado desequilibrado, que produz riqueza, mas não a distribui” adequadamente, e “empobrece os recursos disponíveis”.
Defendendo o “diálogo entre os mais jovens e os mais velhos”, Francisco lembrou que “este é o sentimento da saudade portuguesa, a nostalgia e o desejo de fazer o bem, que renasce com as raízes”.
Citando José Saramago, o Papa ainda lembrou a importância de trabalhar “para o bem de todos” e de seguir o exemplo dos jovens na JMJ, de deixar para trás “as diferenças”
“Deus abençoe Portugal”, terminou o Papa Francisco, agradecendo “à sociedade portuguesa” e à Igreja, que “tanto bem fazem” longe destes grandes eventos.













