O presidente do Partido Popular Europeu (PPE), Manfred Weber, acusou esta quinta-feira a União Europeia de estar demasiado dependente dos Estados Unidos em matéria de defesa, alertando que essa fragilidade permitiu ao presidente norte-americano, Donald Trump, impor condições desvantajosas nos recentes diálogos comerciais.
Em declarações transmitidas na noite de quarta-feira pela televisão pública alemã, Weber sublinhou que “pela primeira vez, temos um presidente que, como vimos neste verão, está a enfraquecer o poder económico da Europa ao jogar a carta militar”.
Referindo-se às negociações de um acordo comercial entre Bruxelas e Washington, o líder do PPE acusou Trump de ter explorado a dependência europeia da proteção militar norte-americana para dividir a União Europeia e enfraquecer a posição da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Para Weber, a fragilidade europeia é evidente: “Estamos nus num mundo de tempestades, porque não nos preparámos para o mundo de hoje”. Segundo o eurodeputado, a vulnerabilidade ficou clara durante as negociações comerciais, uma vez que “metade da Europa — os Balcãs, a Polónia, a Roménia — têm verdadeiro medo de Putin. E a única coisa que os pode proteger neste momento é o poder militar americano”.
O líder conservador alertou ainda que os europeus se confrontam agora com a dura realidade de estarem “incapazes de nos defender contra os drones que estão a chegar”.
As suas declarações surgem num contexto de crescentes tensões com Moscovo, acusada de múltiplas violações do espaço aéreo da NATO nas últimas semanas, incluindo sobre a Polónia e a Estónia. Esta quinta-feira de manhã, vários aeroportos dinamarqueses chegaram a encerrar temporariamente devido à presença de drones, segundo confirmaram as autoridades locais.
No plano económico, Weber considerou que a União Europeia deveria ter demonstrado mais firmeza nas conversações com Trump, nomeadamente ao manter a proposta de aplicar uma taxa digital às gigantes tecnológicas norte-americanas. Contudo, reconheceu que essa posição foi considerada inviável devido à dependência militar face aos Estados Unidos.
Weber defendeu que a Europa precisa de líderes capazes de dar passos históricos para reforçar a integração e a segurança do bloco: “Se hoje tivéssemos um Helmut Kohl e um François Mitterrand, como aqueles que criaram o euro naquela altura, eles estariam a abrir caminho para um exército europeu. Esse tipo de liderança, essa visão, está em falta neste momento”.
O dirigente do PPE apontou diretamente para o papel que deveria ser desempenhado pelo chanceler alemão, Friedrich Merz, e pelo presidente francês, Emmanuel Macron. “É preciso dizer que todos os nossos principais políticos estão tão absorvidos pela política nacional, tão pressionados… que infelizmente não temos hoje uma geração de líderes em funções capaz de dar os grandes passos de que necessitamos”, lamentou.
