
“Estamos a ver muitas empresas e muitos gestores a adotar práticas mais avançadas” em matéria de ESG, diz Presidente do ISEG
A Presidente do ISEG, Clara Raposo, disse que as preocupações com o ambiente, com o bem-estar social e com uma governança corporativa mais responsável estão cada vez mais no topo da lista de prioridades das empresas.
À margem do evento de celebração dos 111 anos do Instituto Superior de Economia e Gestão, que decorreu esta segunda-feira, dia 23 de maio, em Lisboa, a Presidente Clara Raposo, em conversa com a ‘Executive Digest’, apontou que o ensino da Economia e da Gestão está a transformar-se para se adaptar da melhor forma à realidade atual e às grandes questões e problemas do mundo de hoje.
“Se é sempre importante qualificarmos as pessoas ao máximo e de desenvolvermos o potencial de cada um, do ponto de vista intelectual, na forma de olhar para o mundo, em momentos como o atual, em que o mundo está em grande convulsão, em que há mais incerteza, acho que é ainda mais relevante estarmos preocupados com uma formação de banda-larga e muito completa destas novas gerações”, destacou Clara Raposo.
Para a Presidente do ISEG, a formação clássica deve ser acompanhada pela estimulação da curiosidade dos estudantes, que serão os profissionais e líderes do futuro, de forma que sejam capazes de “olhar para o mundo de uma forma mais abrangente”.
Clara Raposo apontou que o ISEG está atento às transformações e que procura refleti-las na sua oferta formativa. “Os nossos estudantes hoje saem daqui [ISEG] com uma bagagem muito completa. Nós próprios vamos questionando aquilo que estamos a fazer, porque sabemos que os modelos de organização das empresas e das economias em geral também têm que ser bastante atualizados”. A responsável salientou que, apesar de serem assustadores “os desafios do planeta, os da diplomacia económica, os da transformação energética e dessa transição que temos que fazer”, temos ao alcance novas oportunidades para mobilizar as novas gerações em torno de causas comuns e para construir “uma sociedade mais justa, mais equilibrada e com mais qualidade no futuro”, e, nesse campo, as universidades têm um papel fundamental a desempenhar na formação dos futuros profissionais.
A Presidente do ISEG afirmou que instituição tem observado mudanças no que toca à procura da sua oferta curricular. “De ano para ano, e muitas vezes consoante a economia vai evoluindo ou o tipo de crise que estamos a atravessar, vamos encontrando um interesse especial em áreas diferentes.”
“Antes da pandemia estávamos a encontrar uma enorme procura e um enorme interesse por áreas mais tecnológicas”, avançou. Apesar de essa procura se manter, Clara Raposo disse que é possível observar um interesse crescente pelas áreas da sustentabilidade e por ramos ligados às vertentes sociais. “É bonito irmos vendo que as pessoas estão, de facto, despertas para os grandes desafios da sociedade. E nós também nos vamos adaptando a isso.”
Quanto aos princípios de responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa, os chamados ESG, que têm vindo a subir na lista de prioridades das empresas, a Presidente do ISEG aponta que, no que toca à preparação dos futuros profissionais, muitas vezes vemos instituições de Ensino Superior a optar “pela solução fácil”, de “adaptar ligeiramente os seus cursos”, que acabam por não transmitir aos estudantes os conhecimentos e capacidades necessários para implementar nas organizações as transformações necessárias.
“O movimento ESG não vem só dos reguladores nem dos políticos”, assegurou, explicando que “vem também dos próprios mercados financeiros”. “Vê-se que há uma tendência que quem tem capital para investir procura investimentos com essas características [ESG].”
Relativamente à introdução das temáticas do Ambiente e da Sustentabilidade no ensino da Economia e da Gestão, Clara Raposo afirmou que “na verdade, o que temos de fazer é uma transformação mais completa da forma como abordamos qualquer tema”. “Se eu vou ensinar Contabilidade, tenho que o fazer de forma que as pessoas percebam o que é um balanço ou uma demonstração de resultados, mas ao mesmo tempo garantir que percebam temas como o capital natural e que todos os aspetos relacionados com o ambiente e o planeta devem ser considerados nas várias áreas da Gestão.”
“É uma transformação muito grande”, reconhece, apontando, como exemplo, que o ISEG tem já ministrado cursos de pós-graduação em sustentabilidade e em finanças sustentáveis.
Sobre a relação entre Economia e Ambiente, que por vezes se encontram em lados opostos da barricada, Clara Raposo disse que “pode aí haver conflitos”, explicando que “a forma como as empresas e a economia são geridas no muito curto-prazo” pode levar a choques entre essas duas dimensões.
No plano internacional, a responsável avançou que é possível ver que, em alguns países, os setores de atividade podem não se reger pelos princípios ESG que cada vez mais são exigidos às empresas noutros locais do mundo, e que isso gera desigualdades no plano da competitividade nos mercados. “Se uma empresa estiver a concorrer internacionalmente com outra empresa que não tenha os mesmos princípios, pode acabar por sair prejudicada, porque está a fazer algo que é mais caro e mais transformacional, e está a concorrer com alguém que tem padrões mais baixos.”
“No entanto, a regulação vai começando a acompanhar a necessidade de tomarmos medidas, e os gestores atuais tem noção de que os princípios ESG são mais relevantes, porque hoje temos o planeta mais em risco”, destacou.
“Estamos a ver muitas empresas e muitos gestores a adotar práticas mais avançadas nessa matéria e reencaminham os seus negócios para uma transição que reflete as preocupações com o ambiente”.
Clara Raposo sublinhou que “não podemos estar à espera de que sejam as empresas sozinhas a definir tudo aquilo que seja bem-estar social, e se calhar nem queremos”, mas acredita que existe uma noção cada vez maior de preservar o ambiente, “e isso vai acontecendo aos poucos”.
“O importante será conseguirmos garantir maior harmonia global para que isso seja bem-sucedido. Não podemos ser só nós em Portugal, cheios de vontade de alterarmos as nossas práticas de consumo e de produção, e depois estarmos a concorrer com outras áreas geográficas que não têm os mesmos padrões e que nos prejudicam do ponto de vista concorrencial.”
“Mas há esperança”, salientou Clara Raposo, acrescentado que “vejo com muitos bons olhos esta vontade de transformação por parte das empresas”.