Estados Unidos podem estar a abrir caminho para negociações com a Rússia nas costas de Kiev, apontam especialistas

Antigos funcionários dos Estados Unidos e da Rússia têm-se reunido vários vezes para discutir possíveis formas de alcançar a paz, ou um cessar-fogo, na Ucrânia

Francisco Laranjeira
Julho 7, 2023
16:08

A diplomacia é uma arte que decorre em múltiplas dimensões: atrás das declarações públicas existe um mundo de corredores, quartos e viagens secretas que podem fazer a diferença. No caso da maior guerra na Europa nos últimos 80 anos, algo mexe-se nos bastidores.

Antigos funcionários dos Estados Unidos e da Rússia têm-se reunido vários vezes para discutir possíveis formas de alcançar a paz, ou um cessar-fogo, na Ucrânia: pode não ser nada mas o facto de este diálogo acontecer, relatou o jornal espanhol ‘El Confidencial’, pode ajudar a entender o que se pensa em Washington.

Segundo a ‘NBC News’, antigos funcionários de alto escalão do setor da segurança nacional dos Estados Unidos reuniram-se em várias ocasiões, em segredo, com russos “proeminentes”, próximos do Kremlin e de Vladimir Putin – uma dessas reuniões, em Nova Iorque, contou com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.

“Na agenda da reunião de abril”, sustentou Josh Lederman, “estavam algumas das questões mais espinhosas da guerra na Ucrânia, como o destino do território ocupado pela Rússia que a Ucrânia pode nunca conseguir liberar, ou a procura de uma rampa de saída diplomática que pode ser tolerável para ambas as partes”.

Do lado americanos estiveram presentes membros do think tank ‘Council on Foreign Relations’: o ex-presidente, Richard Haass, antigo conselheiro da Administração de George W. Bush; Thomas Graham, membro do Conselho de Segurança Nacional da mesma Administração, e Charles Kupchan, ex-diretor de Assuntos Europeus e assistente especial do presidente Barack Obama.

Embora a Casa Branca não tenha dado qualquer indicação aos antigos altos funcionários, estava ao corrente das conversas: os americanos depois transmitiram as suas impressões do encontro ao Conselho de Segurança Nacional, que está focado em manter um canal de diálogo com Moscovo e explorar o que pode ser negociado, no futuro, para resolver a guerra.

A natureza desse diálogo, que não contou com a presença de um representante do país de cujo futuro falaram russos e americanos, mereceu muitas críticas de vozes liberais nas relações internacionais, que considera que falar da Ucrânia sem a Ucrânia é uma traição aos valores da liberdade que os ucranianos defendem todos os dias. “Os Estados agem com base nos seus próprios interesses, não nos interesses de outros Estados. E os EUA, tendo dado à Ucrânia mais de 40 mil milhões de dólares em assistência militar, nunca permitirão que a Ucrânia decida sozinha abre ou não conversas com Moscovo, qualquer que seja a linha oficial.”

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