A partir de hoje, os Estados Unidos vão impor tarifas de até 50% sobre os produtos indianos, numa escalada significativa das tensões comerciais entre os dois parceiros estratégicos, após o colapso das negociações comerciais, informou a Reuters. A medida visa retaliar o aumento das compras de petróleo russo por parte da Índia, segundo comunicado do Departamento de Segurança Interna dos EUA.
O governo indiano já avisou que não espera qualquer adiamento ou redução das tarifas. “O governo não espera qualquer alívio imediato ou adiamento das tarifas norte-americanas”, afirmou, sob anonimato, um responsável do Ministério do Comércio. O mesmo acrescentou que os exportadores afetados receberão apoio financeiro e serão incentivados a diversificar mercados, nomeadamente para China, América Latina e Médio Oriente.
A moeda indiana, a rupia, caiu para 87,68 face ao dólar, registando o valor de fecho mais baixo em três semanas, apesar de alguma intervenção do banco central. Os principais índices bolsistas do país, NSEI e BSESN, fecharam em queda de 1%, registando as piores sessões em três meses.
Setores e exportadores sob pressão
As tarifas adicionais poderão afetar cerca de 55% das exportações indianas para os EUA, avaliadas em 87 mil milhões de dólares, beneficiando concorrentes como Bangladesh, China e Vietname. “Os clientes norte-americanos já pararam de fazer novos pedidos. Com estas tarifas, as exportações podem cair entre 20% e 30% a partir de setembro”, alertou Pankaj Chadha, presidente do Engineering Exports Promotion Council.
O governo indiano comprometeu-se a oferecer subsídios acrescidos a empréstimos bancários e apoio à diversificação de mercados, embora os exportadores reconheçam limitações na expansão para outros mercados ou para o mercado interno. Entre os produtos estratégicos estão têxteis, alimentos processados, artigos em pele e produtos marinhos. A indústria de diamantes da Índia, já afetada pela fraca procura chinesa, poderá perder cerca de um terço dos 28,5 mil milhões de dólares em exportações anuais de gemas e joalharia.
Repercussões económicas mais amplas
Analistas do setor privado alertam que uma tarifa de 50% pode pesar sobre a economia indiana e os lucros das empresas, provocando revisões em baixa das estimativas de rendimento em toda a Ásia. O Capital Economics prevê que as tarifas completas possam reduzir 0,8 pontos percentuais do crescimento económico da Índia em 2025 e 2026.
Apesar da tensão, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, S. Jaishankar, afirmou que as negociações comerciais continuam e que a preocupação dos EUA relativamente às compras de petróleo russo não se aplica de igual forma a outros compradores, como a China ou a União Europeia.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, garantiu que não comprometerá os interesses dos agricultores indianos, mesmo que tal implique custos elevados, e prepara-se para fortalecer relações com a China, com uma visita programada para o final do mês, a primeira em sete anos.
