Encontrados os mais antigos vírus humanos em ossos de neandertais com 50 mil anos

Esta descoberta pode apoiar a teoria de que os Neandertais foram vítimas de infeções virais, uma hipótese que, apesar de proposta em 2010, só agora começa a ganhar mais evidências concretas.

Pedro Gonçalves
Maio 26, 2024
19:00

A descoberta de ADN de vírus em ossos de Neandertais com 50.000 anos, encontrados na caverna de Chagyrskaya, na Rússia, trouxe uma nova perspetiva sobre a extinção dos Neandertais. Esta descoberta pode apoiar a teoria de que os Neandertais foram vítimas de infeções virais, uma hipótese que, apesar de proposta em 2010, só agora começa a ganhar mais evidências concretas.

Marcelo Briones, biólogo molecular, e Renata Ferreira, geneticista evolucionária da Universidade Federal de São Paulo, Brasil, lideraram a equipa que analisou o ADN dos ossos de dois Neandertais. Os especialistas encontraram fragmentos de ADN de três vírus que ainda hoje afetam os humanos modernos: adenovírus, herpesvírus e papilomavírus. Estes vírus são conhecidos por causar constipações, herpes labial e verrugas genitais, respetivamente.

A teoria de que doenças infeciosas podem ter contribuído para a extinção dos Neandertais baseia-se em sinais encontrados nos genomas virais e bacterianos que sugerem que humanos modernos transportaram patógenos de África para a Europa, onde os Neandertais viviam. Modelos matemáticos também têm sido usados para simular como as doenças poderiam ter-se espalhado entre Homo sapiens e Neandertais, considerando as diferenças de imunidade entre as duas espécies.

No entanto, até agora, as provas diretas eram escassas devido à dificuldade em extrair e sequenciar ADN antigo, que se fragmenta ao longo dos milénios. A pesquisa da equipa de Briones e Ferreira mostra que é possível encontrar vestígios de ADN viral em restos de Neandertais, o que representa um avanço significativo. Antes desta descoberta, o ADN viral mais antigo identificado era um herpesvírus com 31.000 anos, encontrado em dentes de Homo sapiens na Sibéria.

Apesar destas descobertas promissoras, os investigadores salientam que os resultados são preliminares. Os fragmentos de ADN indicam apenas a possível presença de vírus nos Neandertais e o estudo ainda não foi submetido a revisão por pares.

Além das infeções virais, várias outras teorias têm sido propostas para explicar a extinção dos Neandertais. Alguns especialistas sugerem que mudanças ambientais súbitas ou a competição com humanos modernos por recursos podem ter desempenhado um papel crucial. No entanto, essas teorias têm sido questionadas à medida que mais evidências surgem sobre as capacidades dos Neandertais como caçadores, utilizadores de fogo e seres sociais.

Outras hipóteses incluem a possibilidade de que as pequenas populações de Neandertais tenham simplesmente desaparecido ao longo do tempo, ou que os humanos, vivendo em grupos maiores, beneficiaram de uma maior diversidade genética e cultural, o que lhes deu uma vantagem.

“Provavelmente, uma combinação destes fatores, juntamente com outros ainda desconhecidos, contribuiu para a eventual extinção dos Neandertais”, admitem Ferreira e colegas.

A investigação já teve avaliação científica formal (revisão pelos pares) e foi publicada na revista “Viruses”, avançou à Executive Digest Marcelo Briones, investigador responsável.

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