O estudo “Capital Currents: Europe’s Telecom Industry Should Prepare for a Big M&A Shake-Up”, da Oliver Wyman, alertou para uma transformação profunda na indústria europeia das telecomunicações. Segundo a consultora estratégica, o setor prepara-se para a maior onda de fusões e aquisições (M&A) em décadas, o que poderá redefinir o ecossistema que sustenta as economias digitais modernas.
O relatório compara o cenário europeu com o americano, destacando que, enquanto os Estados Unidos são dominados por um número reduzido de grandes operadores, a Europa continua altamente fragmentada. Em média, cada operador europeu serve cerca de 5 milhões de assinantes, face aos 107 milhões nos EUA e aos 467 milhões na China. Essa dispersão limita a capacidade de investimento em infraestruturas e serviços digitais essenciais.
De acordo com a Oliver Wyman, o investimento per capita em telecomunicações na Europa é significativamente inferior ao de outras regiões. O CAPEX por habitante é de 109 euros, comparando com 174 euros nos EUA. Também a receita média mensal por utilizador é substancialmente mais baixa: 23 euros para serviços fixos e 15 euros para móveis, contra 59 e 43 euros, respetivamente, no mercado americano.
A consultora sublinha que esta diferença de escala e investimento coloca o setor europeu em desvantagem competitiva. A consolidação é vista como a via para garantir a dimensão e o capital necessários para sustentar o investimento em infraestruturas de nova geração e serviços de qualidade, reforçando a soberania digital e a rentabilidade das operadoras europeias.
Reguladores mais flexíveis e novos modelos de consolidação
Historicamente, o ambiente regulatório europeu limitou a consolidação, mas a Oliver Wyman destaca uma mudança de postura das autoridades comunitárias. Influenciados pelos relatórios de Mario Draghi e Enrico Letta, os reguladores começam a adotar soluções conciliatórias que permitem o avanço de operações estratégicas, acelerando o processo para 2028.
O relatório identifica cinco arquétipos de fusões e aquisições que irão moldar o futuro do setor:
– Consolidação nacional, que reduz o número de operadores por mercado e aumenta a eficiência;
– Reequilíbrio de portfólios, com desinvestimentos em ativos não estratégicos;
– Consolidação transfronteiriça, que reforça a presença europeia em novos mercados;
– Expansão para áreas de crescimento adjacentes, como serviços digitais, IoT e cibersegurança;
– Carve-out e consolidação de infraestruturas, com foco em torres e redes de fibra.
Segundo a Oliver Wyman, as operações de consolidação nacional atingem o valor médio mais elevado — cerca de 2,1 mil milhões de euros — enquanto as transações de carve-out e de infraestrutura apresentam valores médios de 600 milhões de euros e rácios EV/EBITDA que podem chegar a 15 vezes.
Condições para o sucesso da consolidação
Para capitalizar esta nova vaga de fusões e aquisições, a Oliver Wyman recomenda às empresas do setor que adotem uma preparação proativa. O relatório propõe um plano em três etapas — compreender a estrutura do mercado, definir prioridades estratégicas e delinear a sequência de movimentos — e identifica cinco capacidades críticas para o sucesso: avaliação rigorosa das operações, integração pós-fusão eficiente, proteção de valor, gestão regulatória sólida e formação de consórcios de mercado.
“Reduzir a fragmentação do mercado europeu das telecomunicações é determinante para acelerar o investimento em infraestruturas digitais e reforçar a nossa soberania estratégica num momento histórico crucial”, conclui Augusto Baena, sócio de Telecomunicações, Media e Tecnologia da Oliver Wyman Iberia.














