Embaixador dos EUA tentou visitar Sarkozy na prisão, revela tribunal de Paris

O Tribunal da Relação de Paris confirmou que Charles Kushner, embaixador dos EUA em França, solicitou autorização formal para visitar Nicolas Sarkozy durante o recente período em que o antigo chefe de Estado francês esteve detido.

Pedro Gonçalves
Dezembro 5, 2025
17:43

O Tribunal da Relação de Paris confirmou que Charles Kushner, embaixador dos EUA em França, solicitou autorização formal para visitar Nicolas Sarkozy durante o recente período em que o antigo chefe de Estado francês esteve detido. A autorização chegou a ser concedida, mas o encontro acabou por não se realizar, segundo uma fonte próxima de Sarkozy.

A mesma fonte adianta à Reuters que, apesar de não se terem encontrado no interior da prisão da Santé, ambos chegaram a reunir-se posteriormente fora do contexto prisional.

Nicolas Sarkozy, presidente francês entre os anos de 2007 e 2012, passou três semanas na prisão, no âmbito do recurso da condenação por conspiração para obter financiamento político a partir da Líbia. O antigo presidente, que sempre rejeitou qualquer irregularidade, foi libertado no mês passado enquanto aguarda decisão judicial.

Seguindo informação divulgada pela mesma instância judicial, Kushner recebeu autorização para a visita durante esse período, mas não foi esclarecido o motivo pelo qual quis encontrar-se com Sarkozy. O embaixador norte-americano não respondeu a pedidos de comentário e o Departamento de Estado também não apresentou declarações imediatas.

Kushner tem histórico judicial e é figura polémica em Paris
Charles Kushner, pai de Jared Kushner — casado com Ivanka Trump, filha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — tem sido uma figura de destaque desde que chegou a Paris como embaixador no início do ano. O diplomata cumpriu pena de prisão nos Estados Unidos por donativos ilegais de campanha e evasão fiscal, entre outras acusações, antes de receber um perdão presidencial de Trump em 2020.

O interesse de Kushner no caso de Sarkozy permanece por explicar. Outro visitante de Sarkozy na prisão tinha sido o seu antigo protegido, o ministro da Justiça francês, Gérald Darmanin.

A mesma fonte próxima do antigo presidente francês afirmou apenas que Sarkozy pretende escrever sobre o episódio no seu próximo livro, intitulado “O diário de um prisioneiro”, que deverá ser lançado na próxima semana.

A tensão entre Washington e Paris tem aumentado nos últimos meses. Altos responsáveis da administração norte-americana, incluindo o próprio presidente Donald Trump, acusaram repetidamente os tribunais franceses de favorecerem políticos de esquerda e de penalizarem de forma seletiva figuras conservadoras.

Quando Marine Le Pen foi condenada por peculato este ano e declarada inelegível para as eleições presidenciais de 2027, Trump classificou o caso como “lawfare”, alegando perseguição política. Segundo revelações anteriores, uma delegação do Departamento de Estado chegou a reunir-se com membros da equipa de Le Pen, mas as ofertas de apoio foram rejeitadas pelos seus assessores.

A administração norte-americana tem também criticado outros países europeus, como Roménia e Alemanha, acusando os seus sistemas judiciais de suprimirem políticos de direita e de censurarem posições críticas da imigração ao abrigo do combate à desinformação.

Em agosto, Kushner foi convocado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros francês depois de acusar o presidente Emmanuel Macron, numa carta aberta, de não fazer o suficiente para travar atos de violência antissemita. O episódio contribuiu para aumentar o desconforto diplomático.

Já em setembro, quando um tribunal de Paris determinou que Sarkozy deveria cumprir pena de prisão, o antigo presidente reagiu com veemência, afirmando que a decisão fragilizava “o Estado de direito e a confiança na justiça”.

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