Elevador da Glória: especialistas criticam “política de tirar gorduras até ao osso” no investimento em manutenção

O ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Mineiro Alves, salientou que a falta de investimento na manutenção, uma das causas apontadas para a tragédia do Elevador da Glória, terá enfraquecido as empresas públicas

Francisco Laranjeira
Setembro 8, 2025
14:25

O ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Mineiro Alves, salientou que a falta de investimento na manutenção, uma das causas apontadas para a tragédia do Elevador da Glória, terá enfraquecido as empresas públicas.

Durante o Fórum TSF esta segunda-feira, o especialista salientou que “quando se reduz as gorduras das administrações e das empresas públicas, por exemplo, eu também estou de acordo com isso. Agora, houve uma política que foi de tirar as gorduras até ao osso e tirar os ossos e aí desmembrou-se o corpo”. Carlos Mineiro Alves indicou também que “quando se desmembra o corpo, a administração fica enfraquecida, fica exaurida de quadros competentes que não são substituídos. E uma administração fraca, corresponde a um Estado fraco”.

O ex-bastonário indicou também que o outsourcing só funciona se for bem aplicado. “Quando não se sabe o que se quer, não se consegue fazer um caderno de encargos para um outsourcing. Quando não se tem pessoas a enquadrar a atuação daqueles que se contratam, porque o outsourcing é feito para livrar umas empresas de custos fixos, desde que essas empresas saibam e tenham competência para fazer o que têm a fazer e desde que as empresas tenham quadros para enquadrar a atuação dessas empresas contratadas, não vem mal nenhum ao mundo, antes pelo contrário.”

Também Fernando Nunes da Silva, professor catedrático de Urbanismo no Instituto Superior Técnico, indicou que os cortes na administração pública têm consequências. “O que é importante é saber que para fazer cadernos de encargos é preciso saber e conhecer as coisas, aquilo que se pretende e sobretudo depois saber fiscalizar e ter capacidade para fiscalizar. E foi isso que foi destruído na administração pública e nas empresas públicas. Foi isso que foi sendo destruído ao longo do tempo. E não é uma questão partidária porque isto vem de há muito tempo, atravessou vários Governos, com várias composições. Foi, de facto, uma visão com a preocupação muito grande de redução de custos, mas provavelmente se calhar reduziu-se nos sítios onde não se devia ter reduzido”, apontou.

Fernando de Almeida Santos, bastonário da Ordem dos Engenheiros, recomendou mais investimento. “Já era claro que o problema tinha sido no cabo, não se sabia ao certo em que zona do cabo. Ainda é numa zona mais vulnerável, que é a zona de interligação com a cabina. Portanto, esclarecido isso, a sensação que dá é que tem de haver um rigor muitíssimo mais apertado na análise de todas as circunstâncias. Muito mais, claro que isto agora até parece fácil de dizer, depois de percebermos que as redundâncias ou os módulos adicionais de segurança não estiveram à altura do sinistro.”

Por último, José Manuel Oliveira, da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), garantiu que o relatório relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) levantou dúvidas. “Nós não fazemos a análise técnica das coisas, mas fazemos uma apreciação até por aquilo que vamos ouvindo dos técnicos e parece-nos que efetivamente, pelo menos na ótica de muitas opiniões e do próprio relatório, levanta uma questão: é que o sítio que cedeu não é visível e não é objeto das chamadas avaliações diárias, portanto, daquelas que demoram 30 minutos. O que eu quero dizer que efetivamente que há olhar para todo este sistema de forma diferente, além de que é preciso tomar medidas para que no futuro estes equipamentos tenham outras redundâncias, outros sistemas de recursos eficazes”, concluiu.

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