Massachusetts Institute of Technology: Uma forma melhor de se comparar com os colegas

Especificamente, as comparações são associadas à autodeflação, levando a resultados como mexericos, desprezo, hostilidade, rotatividade e pouca felicidade. Por exemplo, um estudo revelou que os gestores comparam-se frequentemente com (e invejam) os seus próprios colaboradores, o que pode resultar numa supervisão abusiva. Mas as comparações também podem ser benéficas; por exemplo, os investigadores descobriram um aumento de 10,9% na produtividade quando os colegas de trabalho se podiam comparar com os outros e aprender com eles. Outros estudos concluíram que o facto de um trabalhador ajudar ou prejudicar um colega que viveu um acontecimento positivo no local de trabalho depende do facto de se sentir inspirado por ou de ter inveja desse colega.

Tendo em conta as potenciais armadilhas e as possíveis vantagens das comparações, como podem as pessoas lidar melhor com a comparação social no local de trabalho? Com base na nossa análise a 131 artigos de investigação sobre o tema e a literatura científica mais alargada, apresentamos três sugestões a ter em conta quando se trata de fazer comparações no trabalho.

1.TIRE ALGUM TEMPO PARA NÃO SE COMPARAR

Avaliar ocasionalmente como nos saímos em relação aos outros é uma forma fundamental de nos desenvolvermos e crescermos — mas deve haver limites. Estar constantemente a ver o LinkedIn, a verificar o Slack e a tentar descobrir as últimas novidades sobre quem conhece quem e quem fez o quê pode alimentar a insatisfação e um sentimento de queixa. De facto, a frequência com que nos comparamos com outros que fazem melhor está associada a níveis mais elevados de ansiedade e depressão. O termo “comparações crónicas” descreve o hábito de fazer comparações constantes, o que pode levar a uma vida de ansiedade, pensamento crítico e dúvidas sobre si próprio. Um estudo com mais de sete mil indivíduos mostrou que uma “orientação para a comparação” — ter a tendência para fazer comparações sociais com mais frequência — está relacionada com sentimentos negativos como irritabilidade, nervosismo, vergonha e angústia.

Eis uma regra geral: já tem comparações suficientes no trabalho e provavelmente não precisa de acrescentar outras. Uma abordagem para minimizar a tendência para se comparar constantemente é limitar a quantidade de informação que recebe — um ingrediente-chave das comparações — desactivando as notificações durante a manhã, reduzindo o seu tempo ao pé da máquina do café ou não procurando informações sobre os colegas. Um projecto de investigação interessante revelou uma correlação negativa significativa entre a procura de informações sobre o salário dos outros e a satisfação com o nível de remuneração; por outras palavras, bisbilhotar estas informações faz com que se sinta menos satisfeito com o seu próprio salário.

Saber de que tipo de informação se deve fazer uma pausa é um pouco paradoxal: quanto mais nos preocupamos com algo (salário, beleza física, parecer inteligente), mais provável é que a informação sobre esse tópico desencadeie uma comparação, porque é relevante para nós. As comparações são mais prejudiciais quando não podemos controlar a situação — como, por exemplo, compararmo-nos com alguém que nasceu numa família mais rica. Sentir-se preso numa situação de inferioridade é mais susceptível de desencadear sentimentos de inveja, por exemplo. Assim, se não se pode mudar ou melhorar a dimensão, então ter a informação (e subsequentemente fazer uma comparação) acaba por ser mais prejudicial e deve ser evitado sempre que possível.

2.COMPARAR PARA MELHORAR

Também é importante concentrar-se em fazer as comparações certas. Infelizmente, estudos indicam que os trabalhadores comparam quase tudo no trabalho, incluindo remuneração, acordos de trabalho flexíveis, relação com o chefe, prémios e muito mais. Em suma, parece que quase nada está fora dos limites quando se trata de nos compararmos com os nossos colegas.

Nem todas as comparações são iguais; devem ser estratégicas e não arbitrárias. Isso significa fazer comparações que forneçam informações úteis ou feedback de desenvolvimento. Por exemplo, ver como outro colega consegue fazer o seu trabalho mais rapidamente pode revelar ideias sobre como ser mais eficiente. Há uma razão pela qual a rivalidade está relacionada com o desempenho: é frequente precisarmos que outra pessoa nos incentive a melhorar.

Mas aqui há uma ressalva importante: as pesquisas implicam que precisamos de querer melhorar. Simplesmente admirar alguém (em vez de querer o que essa pessoa possui) não leva a um aumento do desempenho. Para ser estratégico, faça comparações quando estiver pronto para fazer uma mudança. Não se compare proactivamente com um colega em termos de desempenho, a menos que se sinta à vontade para aprender uma nova competência ou adoptar uma nova técnica — caso contrário, poderá ficar menos satisfeito com a sua situação actual. Afinal de contas, as comparações sociais foram descritas como um “processo ascendente”.

3.COMPARE-SE COM AS PESSOAS CERTAS

Escolher com quem se comparar não é tão fácil como parece. Um exemplo: as pessoas utilizam habitualmente os seus amigos mais próximos como fonte de comparação, quer sejam ou não boas referências. Da mesma forma, se quisermos sentir que somos boas pessoas, temos tendência para nos compararmos com aqueles cujo comportamento é pior do que o nosso. Quando nos sentimos poderosos, é menos provável que respondamos a comparações; quando as comparações sociais revelam informações desfavoráveis, tendemos a ignorá-las. Por vezes, continuamos a comparar-nos repetidamente com a mesma pessoa; outras vezes, mudamos. Em geral, fazemos demasiadas vezes comparações arbitrárias ou egoístas, o que é problemático.

É necessário um acto de equilíbrio para escolher a pessoa certa como referência. Estudos sugerem que, se nos compararmos com alguém que é ligeiramente melhor em alguma coisa, esforçar-nos-emos mais do que se nos compararmos com alguém que tem capacidades iguais ou bastante superiores. Por outras palavras, escolher a pessoa certa pode ser motivador, mas é preciso ter cuidado ou o tiro pode sair pela culatra. No que diz respeito à felicidade, por exemplo, pesquisas sugerem que é melhor ganhar uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do que uma de prata. A lógica subjacente é que a pessoa que ganha uma medalha de prata fica a pensar: “Quase ganhava o ouro”, enquanto o terceiro classificado pensa: “Pelo menos ganhei uma medalha.”

Em última análise, a escolha de boas referências pode ajudar-nos a melhorar nós próprios. Especificamente, é importante desenvolver a auto-eficácia (a crença de uma pessoa na sua própria capacidade de desempenho), mas isso pode ser difícil no vazio. Uma forma de ganhar mais confiança é observar os esforços bem-sucedidos de outros que são como nós. Em termos simples, as comparações construtivas e ponderadas podem ajudar-nos a tornarmo-nos mais do que seríamos de outra forma. Depois de Roger Bannister ter corrido uma milha em menos de quatro minutos, outros bateram rapidamente o seu novo recorde. Ter o alvo de comparação correcto mudou claramente como os atletas abordaram o que antes se considerava impossível.

Dos recursos às recompensas e às relações, as organizações são um terreno fértil para comparações sociais — que podem ser uma fonte de desenvolvimento ou de angústia. Procure fazer comparações que facilitem e não que dificultem o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 228 de Março de 2025