Do caso Nestlé à ‘Kiss Cam’: a lista negra de CEOs afastados por romances no trabalho

O caso mais recente é o de Laurent Freixé, até recetemente presidente executivo da Nestlé, afastado depois de uma investigação interna revelar que mantinha uma relação não declarada com uma subordinada direta.

Pedro Gonçalves
Setembro 6, 2025
10:00

O amor escondido no ambiente de trabalho tem custado o emprego a vários altos executivos nos Estados Unidos. O caso mais recente é o de Laurent Freixé, até recetemente presidente executivo da Nestlé, afastado depois de uma investigação interna revelar que mantinha uma relação não declarada com uma subordinada direta.

O episódio soma-se a uma lista crescente de dirigentes de grandes empresas obrigados a sair por violarem os códigos de conduta que exigem a comunicação formal de relações sentimentais no seio da organização. Em muitos casos, os romances só são descobertos após investigações internas — ou, de forma insólita, por exposições públicas inesperadas, como aconteceu este verão.

Em julho, durante um concerto dos Coldplay em Boston, a popular “Kiss Cam” — câmara que regista beijos entre casais no público — captou e difundiu imagens de Andy Byron, diretor executivo da empresa de software Astronomer, em momentos de intimidade com Kristin Cabot, chefe de recursos humanos da mesma companhia. O vídeo tornou-se viral e a administração abriu uma investigação formal.

Pouco depois, Byron acabou por se demitir. A empresa justificou a decisão sublinhando que se guia “por certos valores” e que os seus dirigentes devem “cumprir requisitos de conduta e de responsabilidade”.

O afastamento de líderes por motivos semelhantes não é novo. Em 2005, a Boeing forçou a saída de Harry Stonecipher, então presidente e CEO, após uma denúncia anónima levar à descoberta da sua relação com uma diretora da empresa.

Cinco anos depois, em 2010, Mark Hurd, presidente executivo da Hewlett-Packard (HP), renunciou após uma investigação revelar gastos indevidos em encontros privados com uma contratista da companhia.

Em 2018, a Intel anunciou a saída do seu diretor executivo, Brian Krzanich, por violação da política que proíbe relações pessoais no local de trabalho. Um ano depois, em novembro de 2019, foi a vez de Steve Easterbrook, CEO da McDonald’s, perder o cargo por manter uma relação com uma funcionária, reconhecendo publicamente que tinha cometido “um erro”.

Também em 2019, Mark Wiseman, apontado como futuro líder da gestora de ativos BlackRock, foi despedido por não revelar uma relação com uma colega.

Em fevereiro de 2022, o então presidente da CNN, Jeff Zucker, renunciou após admitir uma relação consensual com uma colaboradora próxima, mantida em segredo durante anos. “Deveria tê-la revelado quando começou, mas não o fiz. Errei. Por isso, renuncio hoje”, afirmou em comunicado interno.

No setor energético, a petrolífera britânica BP anunciou em setembro de 2023 a saída do seu CEO, Bernard Looney, acusado de não ter sido “completamente transparente” sobre as relações pessoais que manteve com colegas.

Os exemplos mostram uma tendência crescente: empresas norte-americanas estão cada vez mais rigorosas na aplicação dos seus códigos de conduta, exigindo que executivos e trabalhadores comuniquem de forma transparente as suas relações no local de trabalho. A não divulgação, mesmo em casos consensuais, é interpretada como quebra de confiança e de governança, conduzindo frequentemente ao afastamento imediato.

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