O ator norte-americano Leonardo DiCaprio está a ser duramente criticado por cofinanciar um novo hotel de luxo em Israel, num momento em que o conflito em Gaza continua a provocar milhares de mortos e uma crise humanitária sem precedentes. Nas redes sociais, o investimento do ator foi descrito como uma forma de “lucrar com o apartheid durante um genocídio”.
De acordo com o jornal económico israelita Globes, o Comité Distrital de Planeamento e Construção de Telavive deu luz verde à construção de um complexo turístico de grande escala na marina de Herzliya, uma zona costeira nos arredores de Telavive. O projeto, que contará com certificação ambiental e será promovido como um resort ecológico, terá 14 andares, 365 quartos, centro de conferências, restaurante de luxo e zonas comerciais, segundo adianta também o The Jerusalem Post.
O hotel será construído numa área de 51 mil metros quadrados e tem a assinatura do gabinete Rani Ziss Architects. A ideia inicial, anunciada em março de 2018, previa apenas 180 suítes divididas por dois edifícios de seis andares, mas o projecto foi entretanto alargado de forma significativa.
Segundo o Globes, Leonardo DiCaprio terá uma participação de 10% no empreendimento. Os restantes 90% estarão nas mãos do grupo imobiliário israelita Hagag Group e dos empresários Ahikam e Lior Cohen.
Críticas intensificam-se com a escalada da guerra em Gaza
O envolvimento da estrela de Hollywood no projeto surge num contexto de forte tensão internacional, devido à ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza, que já causou mais de 30 mil mortos desde outubro de 2023, segundo dados da ONU. A devastação generalizada, o bloqueio à ajuda humanitária e a fome extrema entre a população civil têm sido duramente condenados por organizações internacionais, incluindo a própria ONU.
O autor e ativista norte-americano Shaun King foi um dos primeiros a reagir, publicando uma mensagem no X (antigo Twitter), onde acusou DiCaprio de “construir um hotel de luxo de 14 andares em Israel enquanto Gaza morre à fome”. “Está a lucrar com o apartheid durante um genocídio”, escreveu King, numa publicação que rapidamente se tornou viral.
Outros utilizadores de redes sociais também expressaram indignação com o envolvimento do ator, apontando contradições entre este investimento e o seu papel como Mensageiro da Paz das Nações Unidas — título que DiCaprio detém desde 2014, com foco especial na luta contra as alterações climáticas e em causas ambientais e humanitárias.
Apesar da polémica atual, DiCaprio já esteve envolvido em diversos projetos em território israelita. Foi um dos investidores da Mobli, uma startup de redes sociais sediada em Telavive que entretanto encerrou, e da Aleph Farms, uma empresa especializada na produção de carne cultivada em laboratório.
Até ao momento, o ator não respondeu publicamente às críticas nem prestou declarações sobre o seu envolvimento no novo empreendimento turístico.
O projeto em Herzliya é promovido como uma infraestrutura amiga do ambiente, alinhada com os princípios de sustentabilidade — uma causa com a qual DiCaprio está fortemente associado. No entanto, a sua decisão de investir num hotel de luxo em Israel, numa altura em que cresce o repúdio internacional pelas ações do governo de Benjamin Netanyahu em Gaza, levanta questões éticas e políticas.
A crítica mais recorrente prende-se com o simbolismo do investimento: enquanto a ONU denuncia a fome deliberada e a destruição de hospitais, escolas e infraestruturas civis na Faixa de Gaza, uma das figuras mais conhecidas de Hollywood associa-se a um projeto de luxo no país agressor.














