Esta sexta-feira, 25 de julho, assinala-se o Dia Mundial da Prevenção do Afogamento, uma data proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2021, com o objetivo de chamar a atenção para uma realidade tão dramática quanto evitável: todos os anos, centenas de milhares de pessoas perdem a vida por afogamento, muitas vezes em locais sem qualquer tipo de vigilância, como rios, lagos, poços, reservatórios ou piscinas privadas.
Segundo o mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em dezembro de 2024, o afogamento figura entre as principais causas de morte a nível mundial, com mais de 3 milhões de óbitos registados na última década. Só em 2021, estima-se que tenham morrido 300 mil pessoas por afogamento, sendo que 43% eram crianças com 14 anos ou menos. A OMS alerta para o facto de a maioria destas mortes ser evitável e apela a uma maior aposta na prevenção, na educação e na segurança aquática.
Este ano, a efeméride tem como lema “A sua história pode salvar uma vida”, uma campanha que convida à partilha de testemunhos reais, experiências locais e boas práticas comunitárias com vista a promover uma cultura global de segurança na água.
Em entrevista ao jornal Corriere della Sera, o especialista italiano Massimo Giuliani, antigo diretor técnico da seleção nacional de natação em águas abertas (entre 1993 e 2020), e coordenador da área Toscana Oeste da Federação Italiana de Natação, partilhou conselhos fundamentais para nadadores — mesmo os mais experientes — sobre como evitar riscos e reconhecer os sinais de alerta.
O corpo dá sinais: é preciso saber escutá-lo
“Nadar em águas abertas é uma experiência maravilhosa, mas exige atenção, preparação e autoconhecimento”, afirma Giuliani, que treinou atletas que conquistaram 50 medalhas em campeonatos mundiais. “Não basta ter técnica. É preciso estar presente, conhecer os próprios limites e respeitar o mar.” Segundo o técnico, nunca se deve entrar na água depois de uma refeição pesada, sem estar devidamente hidratado, se se está em recuperação de uma doença, mesmo ligeira, se há sinais de fadiga ou se se dormiu mal — a falta de descanso afeta diretamente a capacidade de resposta física.
Giuliani alerta que nadar no mar ou em lagos é mais exigente do que em piscina, já que a resistência da água e as alterações constantes do ambiente exigem mais esforço. “Falta de ar, sensação de peso nos braços ou cãibras são sinais claros de que se deve parar imediatamente”, sublinha. Outro perigo muitas vezes ignorado é o enjoo aquático, semelhante ao enjoo marítimo, que pode afetar até nadadores experientes. Os sintomas incluem náuseas, tonturas e dificuldade de concentração.
O desorientamento é também um risco real em águas abertas. “Sem pontos de referência visuais, é fácil perder o rumo. Por isso, recomendo o uso da chamada ‘técnica do crocodilo’, levantando ligeiramente os olhos fora de água de tempos a tempos, para observar o horizonte e manter o controlo da direção”, explica o treinador.
Água fria… e também quente: atenção às temperaturas
Outra variável crítica é a temperatura da água. Giuliani sublinha que “a partir dos 20 °C já se justifica alguma prudência, porque a água fria pode provocar hipotermia. Se houver sensação persistente de frio, deve-se sair imediatamente”. Mas o calor em excesso também representa perigo. “Temperaturas acima dos 31 °C dificultam o arrefecimento natural do corpo, aumentando o stress sobre o sistema cardiovascular”, alerta. A variação térmica em profundidade (as chamadas camadas de termoclina) também pode ser acentuada, com diferenças de 3 a 5 graus entre a superfície e os níveis inferiores.
Nunca mergulhar de forma abrupta
Os conselhos incluem ainda uma advertência contra os mergulhos bruscos. Giuliani refere-se à chamada síndrome de hidrocussão (ou choque térmico), que pode provocar morte súbita por paragem cardiorrespiratória, especialmente se o corpo estiver sobreaquecido. “Nunca se deve entrar na água de repente. Deve-se molhar o corpo gradualmente, mesmo em adultos.”
Além disso, mesmo para quem tem boa técnica, o ideal é nadar paralelamente à costa, sem ultrapassar 30 a 50 metros de distância da margem, e não se afastar mais de 200 metros da linha de praia. O aquecimento prévio também é importante antes de qualquer nado prolongado.
Nunca sozinho — e com o equipamento certo
O especialista alerta igualmente para o impacto psicológico que pode advir do isolamento em águas abertas: o medo, o pânico e a ansiedade podem surgir até em nadadores experientes. “Nunca se deve nadar sozinho, e se for inevitável, deve-se avisar alguém das intenções e do trajeto previsto”, recomenda Giuliani.
Outra precaução relevante é o uso de boias de segurança. “Apesar de muitos nadadores evitarem usá-las por causa do atrito, elas aumentam a visibilidade, permitem apoio flutuante e podem conter água, snacks, suplementos ou até um telemóvel”, explica.














