O Vaticano deu um passo histórico rumo à transição energética e à neutralidade carbónica ao anunciar a criação de uma central solar em Santa Maria di Galeria, nos arredores de Roma. A decisão foi formalizada num acordo assinado esta quinta-feira entre o arcebispo Paul Gallagher, ministro dos Negócios Estrangeiros do Vaticano, e o embaixador de Itália junto da Santa Sé, Francesco Di Nitto. A iniciativa visa transformar 430 hectares de terreno — até agora conhecidos por acolherem polémicas antenas da Rádio Vaticano — numa vasta central solar que garantirá energia limpa para todo o Estado do Vaticano.
Segundo avançou o Expresso (edição impressa), o plano inclui ainda a preservação dos usos agrícolas da área e a minimização do impacto ambiental na região. O terreno, com estatuto extraterritorial, já foi motivo de acesas disputas legais e sociais devido às antenas da rádio, que, desde os anos 1950, emitiram transmissões em dezenas de idiomas para todo o mundo. Os moradores da zona culparam durante anos as ondas eletromagnéticas por problemas de saúde, incluindo casos de leucemia infantil, embora nunca tenha sido estabelecida uma ligação científica direta.
Apesar da controvérsia, o Vaticano conseguiu manter as operações, mas em 2012 reduziu para metade as horas de emissão — oficialmente por razões de poupança e pela evolução das tecnologias de transmissão pela internet. Agora, o local ganha uma nova vida com a bênção da energia solar. O papa Francisco, ainda durante o seu pontificado, havia pedido um estudo para requalificar a zona, e o seu sucessor, o papa Leão XIV, visitou o local em junho, prometendo cumprir a visão ecológica deixada por Francisco. “Queremos pôr em prática o que pregamos sobre a urgência da transição energética”, afirmou o pontífice.
A construção da central solar, que poderá custar menos de 100 milhões de euros, ainda depende da aprovação do parlamento italiano, uma vez que o acordo tem implicações financeiras e envolve isenção de taxas alfandegárias para a importação dos painéis solares — um privilégio concedido à Santa Sé, que, no entanto, não beneficiará dos incentivos financeiros concedidos aos cidadãos italianos que instalam painéis solares em casa.
Embora os detalhes técnicos da instalação não tenham sido divulgados, fontes oficiais — citadas sob anonimato — indicam que qualquer excedente energético será entregue à comunidade local. Itália, por sua vez, poderá contabilizar a produção elétrica da nova central nos seus próprios compromissos com as metas ambientais da União Europeia.
O plano visa tornar o Vaticano no primeiro estado neutro em carbono do mundo, num momento em que a Igreja Católica tem procurado reforçar a sua mensagem ecológica. O papa Leão XIV tem seguido os passos do seu antecessor e já introduziu novos textos litúrgicos inspirados nos princípios da “ecologia integral” defendidos por Francisco na encíclica Laudato Si’.














