Corrida à energia elétrica: centros de dados em Portugal já pedem mais potência do que aquela que o país todo produz

A dimensão da procura é inédita. O máximo histórico de consumo em Portugal foi de 9,88 GW, registado em janeiro de 2021

Revista de Imprensa
Outubro 10, 2025
10:27

A revolução da inteligência artificial (IA) está a transformar Portugal num dos destinos mais cobiçados para a instalação de centros de dados na Europa. Segundo o semanário ‘Expresso’, os promotores destes projetos já solicitaram 26,5 gigawatts (GW) de potência à rede elétrica nacional — mais do que toda a capacidade de produção instalada no país, que é atualmente de 23,4 GW, de acordo com dados da REN – Redes Energéticas Nacionais.

A dimensão da procura é inédita. O máximo histórico de consumo em Portugal foi de 9,88 GW, registado em janeiro de 2021. Se todos os pedidos fossem aprovados, o consumo elétrico nacional poderia mais do que triplicar. O Ministério do Ambiente e Energia esclareceu que muitos desses pedidos são duplicados, feitos pelo mesmo promotor em diferentes zonas da rede, na tentativa de garantir ligação num cenário de forte concorrência.

Governo cria novas regras para responder à procura recorde

O Executivo já aprovou um decreto-lei que altera o regime de atribuição de capacidade nas zonas de grande procura (ZGP), testadas em Sines, para tornar o processo “mais simples, claro e expedito”. A ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, defendeu que “o reforço e a modernização da rede elétrica são cruciais para acelerar a transição energética”.

De acordo com o Governo, os centros de dados representam 72% da potência total pedida à REN e concentram-se sobretudo nas zonas litorais e industriais. A EDP, através do administrador Pedro Vasconcelos, reconhece que “mesmo descontando 50% ou 60% de pedidos especulativos, o impacto será transformador”, sublinhando que o país precisa de investir “de forma prudente” para acompanhar esta nova industrialização digital.

Investimentos milionários de norte a sul

A corrida por energia elétrica está a ser alimentada por projetos de grande escala. No Fundão, está em estudo um investimento de 4 mil milhões de euros, que poderá ocupar 80 hectares e constituir o maior projeto de sempre na região. Em Abrantes, a empresa EDC One anunciou um plano de 7 mil milhões de euros para um novo centro de dados. Já em Sines, a Start Campus tem em marcha um investimento estimado em 8,5 mil milhões de euros, o maior do país.

A Associação Portuguesa de Centros de Dados (APCD) estima que Portugal possa atrair 13 mil milhões de euros em investimentos até 2030, excluindo ainda a candidatura nacional à construção de uma “gigafábrica” de IA promovida pelo Banco Português de Fomento, com um potencial adicional de 4 mil milhões de euros.

Portugal ganha posição estratégica na Europa

O presidente da APCD, Luís Duarte, acredita que o país “tem excelentes condições para se tornar um hub digital europeu”, destacando a estabilidade política, a segurança energética e a localização geográfica entre a Europa, África e as Américas. As vantagens incluem também energia limpa a preços competitivos, clima ameno e mão de obra qualificada.

A consultora Cushman & Wakefield confirma o interesse crescente de fundos americanos, europeus e asiáticos em projetos que vão de 10 MW a 500 MW, escalas que colocam Portugal no mapa dos grandes centros de dados do continente. A CBRE reforça que o país dispõe de “energia abundante e barata” e que o Estado pode ter um papel determinante na consolidação de Portugal como “hub de conectividade internacional”.

Energia e IA: uma nova era industrial

A expansão da IA e o aumento exponencial da procura por capacidade de processamento estão a impulsionar esta nova vaga de investimentos. Especialistas sublinham que os centros de dados, ao consumirem energia 24 horas por dia, podem ajudar a diluir custos fixos do sistema elétrico, reduzindo a pressão sobre as tarifas pagas pelos consumidores domésticos.

Portugal entra, assim, numa fase decisiva: equilibrar a modernização da rede elétrica com a atração de investimento tecnológico que promete gerar milhares de milhões de euros e reforçar o papel do país como plataforma digital do sul da Europa.

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