Björn Johansson foi um dos cientistas envolvidos num alegado esquema de fraude relacionado com a Covid-19: em julho de 2020 recebeu um email a convidar para um debate online sobre modelagem Codid-19 – três anos depois, está arrependido da decisão. A empresa polaca por trás da conferência, Villa Europa, garantiu que lhes são devidas taxas pela participação e procura uma indemnização num tribunal sueco: depois de adicionar custos legais e juros, a empresa está a exigir 80 mil euros.
Johansson não está sozinho: dezenas de investigadores participaram na mesma série de conferências em 2020 e 2021 e muitos receberam pedidos de pagamento da Villa Europa. Pelo menos cinco estão a ser processados em tribunais dos seus próprios países por dezenas de milhares de euros.
Mas quem é a empresa litigante? Sabe-se pouco sobre quem organizou as conferências. E muitas das respostas dependem da decisão de um tribunal de arbitragem polaco cuja própria existência foi colocada em causa por especialistas do país. De acordo com o site ‘Science’, alguém que se autodenomina Matteo Ferensby, cuja assinatura de e-mail mencionava a Universidade de Varsóvia, fez os convites para falar em webinars online sobre modelagem matemática e computacional da Covid-19. No entanto, a Universidade de Varsóvia não tem qualquer funcionário com esse nome e não há qualquer histórico de publicações científicas de Matteo Ferensby.
Mas muitos académicos foram convencidos a participar, entre eles o Prémio Nobel de Física de 1999, Gerard ‘t Hooft. Nos convites nunca foram mencionadas as taxas da conferência. Quando um palestrante, Francesco Piazza, físico agora na Universidade de Florença, em Itália, perguntou diretamente a Ferensby se os organizadores solicitariam uma taxa, Ferensby respondeu: “Não, estamos falando de ciência e Covid-19.”
No final dos eventos, os palestrantes foram abordados por um secretário da conferência, que pediu que assinassem e devolvessem um contrato de licença que daria à Villa Europa – nomeada no documento como a organizadora da conferência – permissão para publicar as gravações do webinar. Na maioria dos contratos estava que estes deviam pagar à empresa 790 euros “pelas taxas de debate do webinar e publicação de acesso aberto necessária para os procedimentos do debate”, acrescido de 2.785 euros “para cobrir o trabalho editorial”.
Meses depois dos eventos, alguns dos palestrantes receberam longas cartas assinadas por uma pessoa chamada Krzysztof Sienicki, CEO da Villa Europa, algumas em polaco, a exigir pagamentos e multas por atraso. Pelo menos 32 cientistas receberam as cartas, de um tribunal polaco, a informar de uma decisão de arbitragem favorável à empresa, que reivindica entre 13 e 25 mil euros por cada investigador, mais multas associadas ao atraso no pagamento e custas judiciais.
Mas a própria legitimidade do tribunal arbitral polaco, ‘Pan-Europejski-Sąd-Arbitrażowy’ (PESA), está em questão. Segundo Agnieszka Durlik, diretora-geral do Tribunal de Arbitragem da Câmara de Comércio Polaca, diz que nunca ouviu falar desse organismo – segundo a ferramenta online who.is, o site da PESA foi criado pela própria Villa Europa em setembro de 2021.













