Arranca amanhã a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, que vai reunir centenas de milhares de jovens em Portugal. Ocasião perfeita para tomar o pulso aos jovens em Portugal – a Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, apresentou um retrato de uma juventude que está mais qualificada do que nunca mas também com maiores dificuldades de sempre no mercado de trabalho.
E o que dizem os números?
– em Portugal, 1 em cada 10 jovens, entre os 20 e os 24 anos, tem, no máximo, o 9º ano de escolaridade, 6 em cada 10 concluíram o ensino secundário e quase 3 em cada 10 têm o ensino superior. Somando o ensino superior com o secundário, 9 em cada 10 jovens têm, no mínimo, o ensino secundário, quando a média europeia é de 84%.
– na União Europeia, já mais de metade dos jovens completaram o ensino secundário, mas o tipo de ensino escolhido diverge: em Portugal, apenas 23% dos jovens optam por um curso profissional, 7 pontos percentuais abaixo da média da EU.
– Portugal teve uma evolução bastante favorável no aumento da escolaridade: até 2006, mais de metade dos jovens tinham, no máximo, o 9º ano. É de realçar que, em quatro países da UE, mais de 1 em cada 5 jovens tem, no máximo, o ensino básico: Alemanha (29%), Dinamarca (24%), Luxemburgo (23%) e Espanha (21%).
– queda dos números do abandono escolar também contribui para este cenário positivo na educação: há 20 anos, a proporção de jovens entre os 18 e os 24 anos que deixaram de estudar sem terminar o ensino secundário era de 45%, valor que ficou nos 6% em 2022.
– somos o 8º país com menor taxa de abandono escolar, com menos 4 pp face à média europeia (9,6%). Os rapazes abandonam os estudos duas vezes mais do que as raparigas (8% vs. 4%).
– em 2022, Portugal era já o 7º país da UE com maior proporção de jovens entre os 20 e os 24 anos com ensino superior, acima da média europeia (19%).
– destaque também para o peso de alunos estrangeiros no ensino superior. 8% dos alunos em licenciaturas, e 14% em mestrado, são estrangeiros, valores acima da média europeia (6% e 12%).
Jovens portugueses destacam-se nas competências digitais
Os jovens portugueses têm em mãos um ‘arsenal’ de soluções no domínio digital, apontou o relatório. Portugal está mesmo no 5º lugar entre os países da UE em que os jovens, entre os 16 e os 24 anos, apresentam competências digitais básicas ou acima do básico (86% vs. 71% da média europeia). E o que dizem o resto dos números?
– quase todos os jovens portugueses utilizam diariamente a internet (99,5%), aliás esta é a realidade de praticamente todos os países da UE (96,5%). Os Países Baixos são o país onde o peso dos jovens a utilizar diariamente a Internet é menor (93,7%).

– Portugal é o 5º país da UE onde os jovens mais usam a internet para participar nas redes sociais e para ler notícias online, e o 10º para participar em atividades cívicas ou políticas.
Mercado de trabalho é desafio exigente
Apesar de mais qualificados, o mercado do trabalho em Portugal não tem capacidade para ‘absorver’ uma geração de jovens sem precedentes. Sabia que cerca de 7 em cada 10 jovens entre os 16 e os 24 anos são inativos, e 3 em cada 10 estão no mercado de trabalho como empregados ou desempregados?
As dificuldades não ficam por aqui, segundo os dados da Pordata.
– Portugal é o 7º país da UE onde a taxa de emprego entre os jovens é mais baixa: 1 em cada 4 está a trabalhar, aquém da média europeia de 1 em cada 3. Nos Países Baixos, na Dinamarca, em Malta, na Áustria e na Alemanha, mais de metade dos jovens trabalha.

– ao contrário da UE, Portugal ainda não recuperou os valores da taxa de emprego que tinha antes da pandemia: em 2019, a taxa de emprego era 28% (33% na média da UE) e, em 2022, era de 25% (35% na UE). O aumento dos anos de escolaridade obrigatória e o acesso mais generalizado ao ensino superior traduziu-se num recuo, da taxa de emprego dos jovens, de 17 pontos percentuais, em 20 anos.
– 18% dos jovens do sexo masculino são trabalhadores dos serviços pessoais e vendedores e 17% são trabalhadores qualificados da indústria e construção. Já as jovens estão mais presentes no grupo dos trabalhadores dos serviços pessoais e vendedores (4 em cada 10) e no dos especialistas das atividades intelectuais e científicas (2 em cada 10).
– quando comparados com os seus pares europeus, os jovens em Portugal trabalham mais enquanto especialistas das atividades intelectuais e científicas, e menos enquanto trabalhadores qualificados da indústria e construção (- 6 pontos percentuais, no caso dos jovens do sexo masculino) e enquanto técnicos e profissionais de nível intermédio (- 9 pontos percentuais, no caso das jovens do sexo feminino).
– contratos temporários são uma realidade para cerca de 6 em cada 10 jovens (57%) empregados, bastante acima dos 14% que correspondem aos trabalhadores entre os 25-64 anos. Na UE, os contratos temporários abrangem 5 em cada 10 jovens (e 11% dos trabalhadores de 25-64 anos). Somos o 5º país com maior proporção de jovens nesta condição, atrás dos Países Baixos, Eslovénia, Itália e Espanha.

– 50% dos jovens em Portugal referiu não ter encontrado trabalho permanente, valor que desce na UE para 17%. Na UE são os estudos e a formação que surgem como primeira razão para os vínculos temporários.
– em 2021, o salário médio dos jovens entre os 18 e os 24 anos foi de 948,8€ mensais brutos, menos 345,3€ do que a média nacional. Apenas na Área Metropolitana de Lisboa os jovens ultrapassam a barreira dos 1.000€ (1.035,6€), mas também é aqui que a discrepância face à média da região é maior (-527,2€). Por outras palavras, os salários dos jovens são, em média, 27% inferiores aos salários do total da população, valor que sobe para 34% na Área Metropolitana de Lisboa.
– Portugal, segundo dados de 2018, era o 2º país em que os jovens tinham os salários mais baixos depois da Grécia, e o 3º com os salários mais baixos na população em geral (atrás da Bulgária e Lituânia). Os jovens em Portugal ganhavam em média menos 36% do que a média europeia, e a diferença era maior entre os homens do que entre as mulheres quando comparados com a média da UE (-39% vs. -31%).

– a taxa de desemprego entre os jovens no mercado de trabalho era, em 2022, quatro vezes superior à dos trabalhadores entre os 25-74 anos (19% vs. 5%). Portugal é o 7º país com maior taxa de desemprego nesta faixa etária.
– em 2022, 7% dos jovens não estava a trabalhar nem a estudar, valor abaixo da UE (10%). É o registo mais baixo desde 2000, e metade do verificado em 2013 (14%).













